Capítulo 29

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Chegar na garagem foi a parte fácil. O lugar era enorme e pouco iluminado. Depois de alguns dias no apocalipse zumbi se esconder nas sobras era uma habilidade fácil de adquirir. O problema foi pensar em como conseguiríamos sair dali. O grande portão que dava acesso a área externa tinha um guarda super acordado.

– Ele não vai sair daí tão cedo – Caio sussurrou.

– Deixa comigo – eu disse.

Entreguei minha arma pra ele. Sacudi o cabelo e fui rebolando na direção do guarda.

– Querida, você não pode ficar aqui – ele disse me encarando com um sorriso no rosto.

– Me desculpe. Acho que estou perdida. Sabe aonde fica o refeitório?

– É no andar de cima – ele continuou sorrindo e eu mantive minha expressão de burra.

– Eu confesso que só queria andar um pouco. Esse lugar é um pouco claustrofóbico.

– Fernando dormiu no quarto do Felipe ontem. Está tudo bem entre vocês? – ele perguntou sem rodeios.

– O Fernando e eu tivemos uma pequena discussão. Acho que ele não está mais interessado em mim.

Com pena da minha expressão de cachorro sem dono o guarda se aproximou. Percebi que a intenção dele era passar a mão no meu braço em sinal de apoio. Mas para o azar dele eu não queria apoio, eu queria ir embora daquela merda de lugar. Assim que a mão dele se aproximou eu agi. Em um movimento rápido o derrubei. Levou menos de um segundo para ele desmaiar depois que o sufoquei. Sabia que ele acordaria depois de um tempo. No momento esse tempo era crucial.

Caio rapidamente se aproximou e me entregou minha arma. Seguimos na direção do nosso carro quando ouvimos alguns passos.

– Aonde vocês pensam que estão indo? – a voz de Julia fez o meu coração parar por alguns segundos. Matar a filha da puta pela segunda vez seria considerado algo pessoal?

– Julia, nós precisamos ir – Caio disse de maneira gentil enquanto eu seguia em direção ao carro e girava a chave.

– Carlos vai levar aproximadamente 5 minutos para saber que alguma coisa está errada. O quarto de vocês tem câmeras. Assim que ele descobrir isso recomendo que vocês corram o mais rápido que puder. Nem pensem em ir para os locais já conhecidos por Fernando, serão os primeiros lugares da lista deles.

– E por que você está nos ajudando? – questionei realmente curiosa.

– Todo vírus injetado em mim foi com meu consentimento. Não acho justo vocês serem cobaias sem opção. Agora vão logo. Carlos vai revirar essa cidade atrás de vocês dois.

Mesmo surpresa resolvi seguir as orientações dela. Com a ajuda de Julia abrimos o portão e saímos daquela merda de lugar sem olhar para trás.

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Seguimos de carro até o lugar mais seguro na minha cabeça infantil: minha casa. Meu pai tinha uma coleção de armas e mais três carros na garagem. Assim que chegamos na casa começamos a proteger as janelas e portas com os móveis caros comprados pela decoradora do meu pai. Pela primeira vez me questionei sobre o paradeiro dele. Com certeza estava seguro mas isso não diminuía o aperto no meu peito. Já estava amanhecendo quando Caio decidiu dormir e eu fiquei na guarda. Alguns zumbis passavam andando mas nenhum deles se tornou uma ameaça. As bombas também não estavam sendo usadas, provavelmente Carlos começou a enviar seus homens para matar os zumbis mais resistentes.

Aproveitei aquele pequeno momento de paz para refletir sobre os caminhos esquisitos que a vida cria. Fernando, o cara por quem havia feito muita coisa, simplesmente sabia que me usariam como cobaia de um departamento que dizimou a população mundial. Julia, a maior mentirosa do planeta, nos ajudou a fugir daquele lugar. Eu poderia dizer que alguma coisa não batia naquela equação mas a briga com Fernando martelava na minha cabeça. Ele tinha priorizado seu trabalho, não julgo como errado mas ele poderia ter me dito todas aquelas coisas de uma maneira mais gentil. 

Ainda estava com esses pensamentos na cabeça quando um forte cheiro de queimado invadiu a casa, provavelmente oriundo de algum incêndio próximo. A primeira ânsia de vômito surgiu. Corri até o banheiro, coloquei tudo pra fora e reuni forças para voltar para o lugar de vigia. Então eu entrei em pânico.

As pílulas do anticoncepcional haviam acabado duas semanas atrás. Na base militar eles não tinham esse artigo de luxo. Lembrei de ter pedido para Fernando procurar isso em alguma farmácia mas ele nunca trouxe nada. Eu poderia estar só exagerando mas não gostava do rumo daquela história. Decidi deixar Caio dormindo, peguei o carro e fui para a farmácia na esquina da minha casa. Peguei um teste de gravidez de cada marca e voltei com 17 testes para casa. Assim que Caio me viu com as caixas seu rosto perdeu completamente a cor.

– Não... Você não... Não é... – ele gaguejou.

– Acabaram meus anticoncepcionais. Acabei de vomitar depois de sentir um cheiro forte de queimado. Pode não ser nada mas achei melhor conferir o mais rápido possível.

Então peguei meus 17 testes. Me tranquei no banheiro e comecei a rezar com todas as minhas forças para não dar positivo.

Sexo, armas e zumbisOnde histórias criam vida. Descubra agora