Capitulo 54 - Lara

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Música sugerida pra leitura: Aqualung - Cold

Acordei com calor. Um calor intenso. Febril. Quando abri os olhos comecei a me situar. Eu estava em um quarto luxuoso. A cama tinha um lençol preto e algumas almofadas brancas. O colchão era extremamente confortável. O quarto tinha uma cômoda de madeira, uma pequena estante com alguns livros e, o mais importante, uma janela.
- Nem pense em pular - Z disse com sua voz gutural me fazendo dar um pequeno pulo - você vai se machucar.
- Que lugar é esse?
- Meu quarto.
- E o que estou fazendo aqui?
- Meu quarto é mais distante da entrada. Certamente é o local mais seguro. Seus amigos fizeram um estrago.
- Isso foi só o começo. Você poderia me deixar ir embora e nunca mais se preocupar conosco.
- Não posso fazer isso.
- Então sua tripulação vai morrer a cada nova investida. São homens do exército. Somos muitos. Somos treinados. Uma tripulação como a sua vai ser destruída lentamente.
- É mesmo? E por que estamos tendo essa conversa? Se eles são tão bons como não conseguiram te resgatar?
- Somos bons por que somos unidos. Um homem se feriu e precisava de ajuda. Não queremos a morte de um dos nossos.
Z aparentemente aceitou minha resposta e ficou em silêncio. Ele estava sentado no chão encostado na cômoda. Visto por esse lado ele ainda parecia um monte de músculos e tinha um aspecto sinistro mas parecia menos ameaçador. Sua postura era de um homem verdadeiramente cansado. Aparentemente ser o mais forte em um grupo de zumbis não era sinônimo de boa vida.
- Há quanto tempo vocês estão nesse navio? - perguntei sem esperanças de ser respondidas mas ele deu de ombros e começou a falar.
- Pelo que me explicaram era uma viagem de lazer. Estávamos completamente salvos no mar quando o surto do vírus explodiu em terra. O problema aconteceu quando atracamos em um porto para o passeio planejado para aquele dia. Em menos de 30 minutos os zumbis invadiram o navio e começaram a se alimentar.
- E como vocês voltaram a navegar?
- Me explicaram que o capitão estava seguro na cabine e, assustado, decidiu sair do porto. Obviamente ele acabou sendo transformando depois.
- E como vocês têm se virado pra comer?
- Não precisamos comer muito. Conseguimos ficar vários dias e meses sem comer. Mas obviamente gostamos muito de carne humana. No início resgatávamos algumas pessoas quando nos aproximávamos da costa. As pessoas acenavam e pediam ajuda sem saber que seria nossa próxima refeição.
- Deve ser péssimo pedir ajuda e acabar sendo devorado.
- Imagino que sim - ele disse e deu um sorriso que parecia uma careta.
- E você? Era o que antes disso tudo acontecer? - perguntei realmente curiosa.
- Ninguém do navio sabe ao certo. Me disseram que eu trabalhava como segurança no navio mas sempre fui muito fechado. Eu não lembro então gosto de acreditar que é a verdade.
- Ser o mais forte nesse lugar é uma bela vantagem. Tenho certeza que antes de ser transformado você deu um trabalho para os zumbis.
- Eu espero que sim - ele sorriu novamente.

Z me deixou sozinha no quarto. Me alertou novamente sobre a altura da janela e disse que arrumaria comida pra mim. Eu precisava  pensar em como faria pra abrir a janela e dar o fora. Já estava movendo a cômoda de lugar para ter acesso a janela quando ouvi alguém abrindo a porta. Parei e esperei por Z mas, para minha surpresa, era outro zumbi. O homem tinha uns sessenta anos e parecia estar bem mais morto do que Z. Ele fedia a morte e a cada passo na minha direção eu sentia ainda mais nojo.
- Não precisa ter medo, gracinha. Só quero um pedacinho.
Quando o homem deu o último passo para me pegar pelo braço eu agi. Em um movimento rápido peguei a cabeça dele e movi minha perna para dar uma joelhada no seu rosto. Repeti o procedimento três vezes e depois soltei seu corpo completamente inerte. Ouvi uma risada gutural vindo na direção da porta do quarto e encontrei Z aparentemente se divertindo.
- Saio por dez minutos e você já começa a bater na minha tripulação? - seu timbre de voz indica surpresa e admiração.
- Eu não cheguei até aqui para ser devorada. Ou me mata ou me diz o que quer comigo. É simples assim.
- Certo. Te trouxe comida. Enquanto eu tiro o homem daqui você come e depois nós conversamos.
Enquanto ele arrastava o zumbi para fora do quarto eu vi seu sorriso esquisito praticamente estampado no rosto. Aparentemente eu tinha me tornado uma grande diversão para um zumbi bombado.

Sexo, armas e zumbisOnde histórias criam vida. Descubra agora