Capítulo 9

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Música sugerida para leitura: White Hinterland - Icarus

O café da manhã foi ovo com bacon. Fernando cantarolava uma música enquanto terminava de cozinhar. Estava visivelmente animado e isso acabou me contagiando. Levantei da cadeira e comecei a ajudá-lo a quebrar os ovos e cortar o bacon. Ele parecia indiferente a minha presença mas seguiu cantarolando. Terminamos rapidamente e finalmente sentamos para comer. Ele sorriu assim que me olhou e eu não consegui deixar de sorrir também. Era engraçado como ainda era possível fazer coisas normais mesmo com alguns zumbis no piso superior.

– Eu tenho uma ótima ideia.

– Não sei por que mais já estou com medo de ouvir. Vocês homens devem ter algum problema com a inércia. Caio estava inquieto no segundo dia do fim do mundo e disse que precisávamos com certeza sair de casa e vir até aqui. Tenho certeza que você tem algo em mente parecido com isso.

– Acertou, Barbie! A diferença é que eu sou mais inteligente. Quero dar uma volta. Não temos notícias do mundo lá fora, precisamos saber se o governo tem alguma ação para resolver o problema. Hoje é o terceiro dia mas não podemos ficar de mãos atadas esperando o exército da salvação.

– Claro. Parece uma ótima ideia.

Terminamos o café em silêncio e assim que acabamos de comer Fernando levantou em busca de todos os equipamentos necessários. Ele parecia eufórico e eu precisava fingir que não estava animada. Claro que aproveitaria a oportunidade para sair daquele lugar. Não tinha parado para pensar em Caio até então, com certeza precisava me conformar com o fato dele provavelmente ter sido devorado por zumbis mas a ficha simplesmente ainda não tinha caído. De qualquer forma ficar sozinha era melhor do que ficar presa com um lunático. Estava visivelmente mais feliz quando Fernando voltou para a cozinha completamente equipado com dezenas de armas. Era absurdamente sexy mas tratei de ignorar meus hormônios e fazer a pergunta mais importante.

– Cadê as minhas armas?

– Suas armas? Você enlouqueceu? Eu disse que precisamos saber notícias lá de fora, em momento algum disse que você vai comigo. Além disso a troco de que te daria uma arma? Você com certeza me mataria.

– Ok. Vou ficar presa aqui enquanto você brinca de soldado. E se você não voltar? Como faço para sair desse lugar?

– Eu vou voltar. Não precisa ficar preocupada com isso. Não sou um imbecil como seu amigo, não vou te deixar morrer aqui. Você prefere ficar aqui perto da comida ou no quarto?

– Aqui. Óbvio.

– Se você quiser pode ficar no meu quarto. Lá tem um freezer com algumas bebidas e uns biscoitos. Além disso tem uma vitrola e alguns LPs. E claro, tem um banheiro ao lado.

– Parece bom.

Fernando me levou para o quarto dele e me senti realmente revoltada ao compará-lo ao meu. O cômodo era três vezes maior. A parede era azul claro, a iluminação era incrível e tinha até um carpete. A cama de casal ficava de frente para o armário e ao lado dele uma vitrola. O armário tinha uma centena de LPs então fui correndo em busca de alguma coisa legal. O freezer ficava do lado esquerdo da cama e de fato estava abarrotado de bebidas. Coloquei o LP de uma banda desconhecida e me joguei na cama. Fernando já estava fora há algumas horas então me senti relaxada o suficiente para abrir a primeira garrafa de cerveja. Era deliciosa. Horas depois já estava na sétima garrafa e me sentia incrivelmente leve e feliz. Então a porta do quarto se abriu.

– Se comportou, querida? – perguntou Fernando com um sorriso que deveria ser proibido e a camisa branca completamente suja de sangue. Ele foi em direção ao banheiro dele e jogou a camisa no cesto de lixo. Voltou andando com todos aqueles músculos na minha direção enquanto eu estava jogada na cama.

– Claro que sim. Se divertiu?

– Bastante. Não encontrei outros seres vivos. Exceto o seu amigo. Ele deve ter se arrependido de te largar aqui.

– Caio? Ele está bem? – dei um pulo da cama e vi o quarto girar.

– Parece que sim. Me fez uma dezena de ameaças exigindo que eu te libertasse. Ele é tão babaca que não me perguntou se eu estava te mantendo presa aqui contra a sua vontade. Se você quiser posso te levar agora mesmo lá pra cima. Você quer isso, Lara?

Respirei fundo e voltei a deitar na cama. Senti o colchão afundar quando Fernando sentou na cama. Rolei pra ficar de barriga pra baixo e encará-lo. Ele tinha um sorriso convencido no rosto.

– O que foi?

– Você não quer ir lá pra fora – sorriu.

– Não agora. Bebi sete garrafas de cerveja. Seria um risco pra mim e para o Caio. Se ele sabe que estou bem vai conseguir ficar tranquilo até amanhã.

– Você parece feliz. Não sei se te contaram mas tem zumbis acima da sua cabeça.

– Já sei. Só que não adianta nada ficar triste eternamente. Precisamos ser fortes e lutar para nos manter vivos. Mas antes disso tudo acontecer o que te fazia feliz, Fernando?

– Atirar. Correr. Ser útil. Sou uma máquina, fui treinado para isso. Ficar preso aqui é claustrofóbico e extremamente irritante. Não fui feito para ficar parado – ele respondeu e pude sentir o quanto o angustiava.

– Você tem esposa? Filhos?

– Não. Sou solteiro. Dediquei parte da minha vida ao meu trabalho. Quando soube das notícias vim correndo mas não fui rápido o suficiente. Meu pai já havia sido transformado então atirei nele e vim pra cá.

– É um alívio, não é? – disse sorrindo e extremamente bêbada.

– O que exatamente, Lara? – ele se aproximou e tirou um fio de cabelo que estava no meio do meu rosto.

– Não ter que se preocupar em garantir a segurança das pessoas que a gente ama. O meu pai deve estar trancafiado em um lugar super seguro e bem mais protegido do que eu. Fora isso só tenho o Caio e você já disse que ele está bem. É muito tranquilo não ter que me preocupar em manter alguém seguro. Você sente a mesma coisa?

Fernando sorriu e se aproximou ainda mais. Seu olhar era um misto de dúvida com expectativa. Sabia que deveria levantar e me afastar mas os olhos negros brilhavam de uma forma hipnótica.

– Eu sentia exatamente isso. Até que você parou na frente da minha porta e me pediu para matá-la.

O beijo começou como um afogamento. Foi abrupto. Assustador e ao mesmo tempo incontrolável. Em milésimos de segundo Fernando tinha me puxado para o colo dele e minha blusa já tinha subido para a cintura. Ele tinha gosto de homem e suor. A inevitável comparação com Caio me fez entender a diferença entra um guerreiro e um pintor. Fernando era como uma força da natureza, surpreendente, assustadora e linda de ver. As mãos dele percorriam meu corpo, meus seios, meu pescoço. Seus beijos enviavam choques diretamente para o meio das minhas coxas então não tive opções além de tirar a camisa pela cabeça e assisti-lo devorar meus seios de uma maneira deliciosa. Quando ele finalmente largou um dos bicos me encarou com os olhos ainda mais escuros e sussurrou.

– Se você não me parar agora juro que não conseguirei fazer isso. Por favor, me diga que você quer fazer isso.

Eu o puxei pra perto e respondi com um beijo urgente. Ter tanta pele, músculos e calor era uma sensação incrível. Meus seios escorregavam no tórax dele e quando Fernando finalmente decidiu tirar a calça jeans meu coração deu um salto. Ele era incrível da cabeça aos pés. Gentilmente ele me colou de costas na cama, virada pra ele, e voltou a beijar meu corpo, minha barriga, meus seios, minha coxa. Quando mais ele descia maior era a energia que eu sentia. Quando finalmente senti sua língua precisei afundar as unhas na cama. Sabe aquela varinha que os maestros usaram para orientar os membros de uma orquestra? Já viram como os movimentos são rápidos, fluídos e incríveis de assistir. Fernando fazia exatamente a mesma coisa, só que usando a língua. Quando finalmente atingi meu primeiro orgasmo ele simplesmente sorriu, pairou em cima de mim e finalmente conectou nossos corpos.

Por um segundo achei que não seria capaz de recebe-lo completamente mas meu corpo se ajustou e ele finalmente me preencheu. Seus movimentos eram ao mesmo tem carinhosos e urgentes. Nossos corpos descobriram a velocidade certa. Enquanto galgávamos juntos o nosso próximo orgasmo eu sorri por poder gritar e ter prazer mesmo com alguns zumbis no piso superior.



Sexo, armas e zumbisOnde histórias criam vida. Descubra agora