Capítulo 30

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Música sugerida para leitura: 30 Seconds to Mars - Kings and Queens (MTV Unplugged)

No décimo teste eu já não tinha mais forças (e xixi) pra continuar. Todos deram positivo então a ânsia de vômito era só um detalhe comparado ao aperto no peito que me atingiu. Uma criança no meio de um apocalipse. Um parto em uma casa no meio do nada sem energia elétrica ou instrumentos médicos. Eu tive a estupidez de ignorar os métodos anticoncepcionais para ficar com um filho da puta que me levou de bandeja como cobaia para uma base militar. Apoiei minhas mãos na pia do meu banheiro, encarei o espelho e chorei silenciosamente. Imagino que toda mãe deve sentir esse pequeno desespero ao descobrir a gravidez. Eu não teria que me manter viva por minha causa. Eu teria que dar a minha vida para um pequeno ser dentro de mim. Algumas lágrimas escorriam pelo meu rosto quando ouvi batidas frenéticas na porta.

– Lara, temos que sair daqui agora! – Caio gritou quase arrombando a porta.

Peguei minha arma, deixei todos os testes na pia e sai do banheiro. E então eu entendi o desespero dele. Estávamos cercados. Eu adoraria perguntar o que Caio estava fazendo para não perceber a porra de 500 homens no meu jardim mas resolvi deixar pra outra hora. Imediatamente comecei a pensar em uma rota de fuga.

– Vamos para o quarto do meu pai. A janela dele é colada com a janela do vizinho, vamos conseguir quebrar e entrar na casa ao lado.

Caio começou a subir a escada quando ouvimos a primeira explosão. A porta da sala explodiu e meu ouvido levou cerca de três segundos para voltar ao normal. Assim que conseguiu me recompor os tiros começaram. Caio puxou meu corpo e começou a me levar para a escada. Eu já estava no topo da escada prestes a seguir correndo para o quarto do meu pai quando ouvi o barulho inconfundível. Caio tinha sido baleado atrás de mim.

– Vai embora! Eu vou ficar! Sai daqui! – ele gritou.

Obviamente eu ignorei. Resolvi puxar o corpo dele e apoiá-lo na parede. Naquele momento eu não sabia mais o que fazer. Então eu senti alguma coisa prender meu tornozelo direito, em uma olhada rápida vi que era tipo um laço pra prender animais. Os filhos da puta estavam me caçando! Infelizmente esse foi meu último pensamento racional. Em seguida eu tentei me livrar da corda e acabei tropeçando. Desci rolando os 45 degraus da escada. Então desmaiei.

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Acordei nas paredes já conhecidas do meu quarto na base militar. A única diferença era no fato de estar algemada e presa a minha cama. Imediatamente procurei por Caio no quarto mas eu estava sozinha. Tentei forçar as algemas mas logo percebi que não adiantaria muito. Os filhos da puta tinham conseguido nos pegar. Somente algumas horas depois a porta se abriu e Carlos entrou no quarto, pegou uma cadeira, sentou na minha frente e me encarou.

– Oi Lara.

– Aonde está o Caio?

– Está ótimo. No quarto dele sendo devidamente vigiado por Julia.

– O que vocês querem conosco?

– Eu juro que vou te explicar detalhadamente mas, por hora, você precisa descansar.

– Que gentileza da sua parte. Preocupado com a minha saúde antes de testar um vírus que pode me matar ou me transformar em um zumbi. Quem é Madre Teresa de Calcutá perto de você, não é mesmo? – respondi ironicamente.

– Como uma mulher tão bonita consegue ser tão sarcástica?

Estava com a resposta na língua quando a porta abriu. Para minha total surpresa Felipe apareceu com um sorriso triste no rosto e uma expressão cansada.

– Posso conversar rapidamente com ela, Capitão? – ele perguntou.

– Tudo bem. Volto mais tarde, Lara. Trate de se comportar.

Ignorei a piada ridícula de Carlos e foquei completamente minha atenção em Felipe. Ele estava mais magro e muito visivelmente abatido. Com certeza as muitas horas de trabalho estavam cobrando seu preço.

– Lara, eu sinto muito por tudo isso. Eu juro que não sabia de nada.

– Eu não sei se posso acreditar em você, Felipe. Mas acho que agora não faz tanta diferença.

– Eu tenho uma notícia complicada pra te dar.

– Pode falar. Já sou certificada em ouvir esses tipos de coisa.

– Bem. Eu fui orientado a realizar buscas na sua casa pra descobrir o que vocês estavam planejando. Então fui no banheiro do segundo andar e vi os testes de gravidez. 10 deram positivo. Você sabia disso há quanto tempo?

– A sua equipe invadiu minha casa cinco minutos depois da minha descoberta – respondi de forma fria.

– Infelizmente acabamos usando nossa técnica de captura sem saber da sua... vulnerabilidade. Você está inconsciente há cinco dias. A sua gravidez fui interrompida depois da queda na escada.

Eu fiquei em silêncio. Confesso que parte de mim ficou aliviada por não trazer uma criança a um mundo tão insano onde pessoas eram caçadas e usadas como cobaias. A outra parte de mim ficou completamente devastada. Felipe falou mais algumas coisas, eu concordei com a cabeça e então, quando ele já estava levantando para ir embora eu perguntei.

– Quem jogou aquela maldita corda que me fez perder o equilíbrio?

– Lara, isso não faz a menor...

– Quem foi, Felipe? Eu já perdi o meu filho, já perdi a merda da minha liberdade então você pode pelo menos me dizer quem foi o filho da puta que fez aquilo?

– Foi o Fernando.

Agradeci com um aceno de cabeça pela resposta. Fechei os olhos. E comecei a torcer para não acordar mais.


Sexo, armas e zumbisOnde histórias criam vida. Descubra agora