Noite Morta

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  Newt andou até Minho. Tapinhas nas costas foram dados, quando se abraçaram.
- Bom ver que sobreviveu, Trolho. - Disse o loiro com um sorriso.
- Imaginei que você já teria deixado seu traseiro descansar, enquanto todos fugiam. Ficou todo corajoso de repente? - Minho sorriu também.
- Quem é ela? - Newt murmurou apontando Kathy com o queixo.
- Cara, temos muito o que conversar. - Disse Minho chamando Thomas com uma das mãos. Quando o outro amigo se aproximou, Minho continuou: - Kathy sabe de algumas coisas...
- Deu pra confiar em malucos, agora? - Cortou Newt.
- Que tipo de coisas? - Thomas parecia interessado, e se apressou em falar antes que Minho respondesse a provocação de Newt.
- À noite, durante a chuva, ela me falou sobre o Deserto e sobre o CRUEL. Não sei como funciona, mas parece que somos Imunes, ou algo assim. Parece que esse tal Fulgor não nos afeta. - Sussurrou ele para que outros não ouvissem. - O Homem-Rato mentiu.
- E como podemos confiar nessa garota? - Replicou Newt. - Que eu saiba, ela pode muito bem ser uma maldita Crank. Pode ser ela quem está mentindo. - As sombrancelhas arqueadas em questionamento.
  Minho considerou aquilo. Era um bom argumento, ele tinha de admitir.
- Podíamos chamar ela, e ver o que ela diz. - Sugeriu Thomas.
  Olharam ao redor, buscando garota em meio aos eufóricos Clareanos. Acharam Kathy próxima a foto que Minho observava anteriormente. Tiveram de chama-la três vezes para que ela voltasse sua atenção para eles. Deu passos largos, passando por alguns meninos que olharam para as pernas nuas dela. Ao ver isso, Minho quis socar a cara dos jovens que sorriam e dar a ela shorts que iriam até os joelhos.
- O que houve? - Perguntou Kathy ao se aproximar.
- Você podia falar para eles tudo o que me contou? - Perguntou Minho.
  Kathy pareceu incomodada. Deu um suspiro e olhou ao redor. Voltou a olhar para os três garotos, parando um pouco sobre Newt, e disse:
- Seus amigos estão cansados. Não quero falar isso duas vezes, então melhor falar amanhã. Assim já decidiremos o que fazer e, em seguida, faremos.
- Acha que podemos confiar mesmo nela? - Newt murmurou para Thomas, fingindo que estava disfarçando.
- Veja como fala, loirinho. - Kathy disse com um sorriso falso. - Deixei vocês ficarem em minha casa, mas se quiser ir lá pra fora posso resolver isso rapidinho.
  O clima entre os dois era tocável. Não havia um motivo aparente, mas pareciam prestes a rolar no chão se socando e trocando tapas. No caso de Kathy, facadas.
  Embora Kathy estivesse sorrindo, ela não parecia nada feliz.
- Todos estão mesmo exaustos. - Thomas limpou a garganta de um modo chamativo. - Passamos o dia nos escondendo e à noite fugindo dos raios... Se você permitir, podemos dormir aqui.
  Houve um momento de silêncio, enquanto Kathy olhava séria para Thomas. Buscou amparo em Minho, como se quisesse a opinião dele no que fazer. Ele agitou a cabeça levemente em concordância.
- Vocês deveriam agradecer por ter um amigo educado. - Disse ela com um suspiro. Passou as mãos nos cabelos e continuou: - Não tenho camas. Todos vão dormir no chão. Meu estoque de comidas enlatadas foi reabastecido hoje, então posso dividir com todos por pouco tempo.
  Alívio pairou no ar. Os Clareanos já se sentavam pelo chão, se acomodando como podiam.
- Só mais uma coisa. - Kathy chamou atenção de todos. - Tentem não fazer tanto barulho. Os Cranks lá embaixo não são surdos e nem cegos, então silêncio e janelas fechadas.
  Alguns se olharam, outros apenas se acomodaram no chão. Estavam em segurança, então pouca coisa importava para eles. A maioria só queria chegar vivo ao Refúgio Seguro.
- É o que eu posso fazer por enquanto. - Disse Kathy sussurrando para os três que ainda estavam próximos à ela. - Não importa o que vão fazer amanhã, vocês precisam estar descansados. É preferível que guardem suas energias...
  Um gemido cortou Kathy. Todos olharam para o lado, encontrando Winston em seu estado lastimável. Haviam colocado o jovem deitado no chão de concreto e ele respirava entrecortado. Parecia sentir uma dor alucinante. Os cortes, no rosto e alto da cabeça, já não sangravam mais. Mas nada indicava que ele estava bem.
- O que houve com ele? - Outra vez o lado "Kathy- médica" acordava. Já estava próxima do garoto, agachada e olhando as feridas com um rosto preocupado.
- A gosma de metal que arrancava cabeças... - Respondeu Minho.
- Isso não podia ter acontecido... - A voz da jovem foi baixa ao dizer isso. - Me ajudem a levar ele para a mesa. Ele não pode ficar no chão.
  Em pouco tempo, alguns jovens já estavam carregando Winston e o colocando sobre a pequena mesa.
- Você não vai cortar a cabeça dele como fez com minha perna, não é? - Minho a seguia.
  Kathy não respondeu nada. Porém, o olhar que ela lançou para Minho, pareceu indicar o que ela faria.
- Espera! Você não... - Ele não conseguia encontrar as palavras. - Kathy, responda. - Exigiu Minho.
- Óbvio que não. - Disse exasperada. - Vou apenas cuidar dos cortes.
  Não disseram mais nada. Kathy ficou cuidando de Winston por um bom tempo, Minho resolveu distribuir o "jantar" enquanto isso. Terminadas ambas as tarefas, Kathy disse que desligaria as luzes.
  Todos pegaram cobertores, Winston ganhando três mais para fazer de cama contra o piso. E assim que estavam confortáveis, a escuridão tomou conta de tudo assim como o silêncio. Em dez minutos, roncos e suspiros indicavam o adormecimento dos outros.
  Minho ficara olhando para o nada. Havia dormido mais do que o suficiente naquele dia, estava extremamente descansado. Não fecharia os olhos tão cedo.
  Uma das janelas fora aberta. Minho se erguendo em um segundo e olhando para o lugar de onde provinha a fraca luz. Uma pessoa estava no batente olhando, não para dentro, mas sim para fora. Para o céu.
- Não consegue dormir? - Sussurrou Kathy.
- Nem sempre. - Respondeu ao se aproximar.
- Também tem pesadelos...? - A tristeza era sentida na voz dela.
- Bastante. Todos os dias, eu diria. - Minho se posicionou ao lado de Kathy.
- Entendo... Você sonha com sua família? - Indagou a menor.
  Aquilo fora inesperado. Tanto que fez Minho engasgar. Engoliu em seco.
- Não posso... - Respondeu francamente. - Infelizmente não posso. O CRUEL pôs algo em minha cabeça, e isso não me deixa lembrar do passado.
- Eu lembro... - Sussurrou ela depois de um tempo. - Principalmente à noite... Eu tinha um irmão. - Seus olhos brilharam ao olhar para as estrelas. - Todas as noites, ele me fazia olhar para o céu e procurar constelações.
- Você conhece muitas? - Minho também olhou para o céu estrelado.
- Algumas. Minha favorita é Órion. Foi a primeira que aprendi. Era a mais fácil. - Ela sorriu.
  Os dois sorriram, por um curto período de tempo. Depois Minho olhou para baixo. A paisagem contrastante do céu estrelado e calmo, com os Cranks vagando em sua loucura pelas ruas enlameadas.
- Deve ser bom não lembrar. - Kathy o tirou de seus pensamentos.
  Minho olhou para ela indignado. Pegou em um de seus ombros e a virou de frente para ele.
- Nunca mais diga isso. - A voz tinha um tom irritadiço. - Todos os garotos que estão aqui dariam um braço ou uma perna pra lembrar de seu passado.
- Minho, só quero dizer que...
- Kathy! - Interrompeu ele - Eu daria um braço ou uma perna para lembrar! Você não entende como é difícil não saber quem você é, de onde você veio... Quem são seus amigos e familiares... - Minho deixou a voz morrer.
- O pior é lembrar e saber o que aconteceu, detalhadamente. Eu gostaria de esquecer. Se você lembrasse, provavelmente iria querer o mesmo. - Kathy disse e soltou as mãos de Minho de seus braços. Uma outra vez ela ficou de frente com o moreno e sentiu no rosto a respiração dele. - Entenda: é melhor esquecer tudo. Você não vai querer lembrar do que aconteceu com as pessoas que você amava.
  As mãos da garota seguraram a nuca dele.
- Me prometa... - Sussurrou ela.
  Os corpos se colando outra vez.
- Me prometa que não vai retirar o Dissipador...
  Seus lábios suaves disseram antes de beijar Minho outra vez, tendo como testemunhas do acordo apenas as estrelas.

EM REVISÃO • Deserto MortalOnde histórias criam vida. Descubra agora