Tiro Mortal

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  Minho descobrira que o banheiro também tinha uma lâmpada, mas não a ligara pois Kathy o proibiu, dizendo que veria tudo o que ele fizesse ali dentro.
  A água estava fria contra sua pele. Bem como ele precisava que estivesse depois do que quase fez com Kathy, necessitava de um banho de água fria, com toda certeza.
- Então você é um gêniozinho? - Perguntou enquanto se lavava.
- Pode se dizer que sim. - Respondeu a garota. - Tive bastante tempo para aprender algumas coisas. Mexer com eletricidade foi complicado, quase morri algumas vezes! Até que consegui montar essa rede, que ilumina todo o segundo andar.
- O andar de baixo, você também modificou que eu vi.
- Sim, sim. Levou um tempo pra trazer todos aqueles materiais aqui. Alguns eram realmente pesados... Mas me ajudaram a ganhar um pouco de músculos. - Ela gargalhou. - Também tem armadilhas lá.
- Sei. - Disse Minho saindo, vestido com uma camisa cinza e calça em moletom.
  Kathy estava deitada, lendo um livro tranquilamente. Toda a cena anterior, onde ela estava fatalmente com uma faca apontada para Minho ou dos dois trocando beijos ardentes, sendo esquecida.
- Toda essa luminosidade não vai atrair os malucos de lá de fora? - Indagou ele.
- Não, não vão. Fechei as janelas. - Ela se sentou na cama. - Vem cá! - Deu um tapinha no colchão, marcando um ponto ao seu lado.
  Minho se deitou. O coração bateu rápido, quando Kathy deslizou até seus pés.
- Vou fazer outro curativo na sua perna. Só por precaução. Não tem como saber, já que acabou de tomar banho, mas acho que sua febre baixou.
  O círculo, que antes era arroxeado, já parecia bem menos infeccionado.
- Você faz isso muito bem. - Comentou Minho vendo ela preparar o curativo.
- Pronto. - Kathy praticamente correu para a parte da cozinha quando acabou.
  Minho imaginou que ela não voltaria, mas segundos depois Kathy retornava com um copo de água nas mãos e lhe entregou.
- E aquela história de não beber nenhuma gotinha? - Sorriu ele.
- Não, a água daqueles canos você não deve beber. Essa aqui não tem problema.
- Qual a diferença? - Engoliu uma grande quantidade. Não havia percebido, nem mesmo durante o banho, o quanto precisava daquilo.
- A que coloco para o banho vem da chuva. De caixas no penúltimo andar. Isso sim demorou pra ficar pronto! - Ela pegou o copo que ele devolveu vazio. - Mais?
- Aceito. - Depois de outro copo, um mais cheio, perguntou:- Você passou sua vida toda nesse Deserto. Criou rotas de fuga. Tem um lugar cheio de suprimentos de roupas e água, comida... O que fazia lá fora de manhã?
- Por isso mesmo! - Deitou ao lado dele. - Suprimentos. - Respondeu quando viu a careta de dúvida, e talvez um tom de vermelho, no rosto dele.
- Que tipo de suprimentos se acha em um Deserto?
- Não no Deserto, no subterrâneo. Existe praticamente uma cidade lá embaixo, túneis e mais túneis que se ligam em fábricas. É bem simples: se você souber andar lá embaixo, você sobrevive.
- Mas com toda certeza não é tão simples assim. - Retrucou ele.
- Não. Lá dentro, o estado que o Fulgor atingiu já é o máximo. Os Cranks que estão ali te matam só por você respirar. Acabei dando de cara com uns. Corri pelo túnel errado, e trouxe-os comigo para a superfície. - Kathy suspirou.
- Se você sabia que era perigoso, me diga o motivo de ter ido de madrugada. Não podia esperar até o amanhecer? - Minho tinha os olhos duvidosos.
  Antes que Kathy pudesse responder, os dois deram um salto sobre a cama quando ouviram batidas na janela mais próxima. Um Toc Toc Toc.
- Estamos no segundo andar... - Murmurou Kathy.
- Você acha que eles subiram até aqui? - Já de pé, gemendo pelo ferimento, Minho perguntou.
  Kathy estava com a cabeça debaixo da cama. Voltou carregando uma pistola. Conferiu as balas rapidamente e a entregou nas mãos de um garoto de olhos puxados muito surpreso.
- Onde você conseguiu uma dessa? - Tinha um sorriso pequeno ao dizer isso. Ficara impressionado com a facilidade com que ela se punha em alerta. Já tinha visto isso outra vez, no ginásio, mas achava estranho. Acostumado a garotos que, diante de Kathy, eram grandes maricas.
- Sabe atirar? - Sussurrou ela. Andou e clicou em um interruptor, as luzes foram desligadas, e se pôs ao lado da janela em que ouviram as batidas.
- Veremos. - Disse Minho já se colocando em posição.
  Kathy tinha em uma das mãos seu conjunto de facas letais. Com a outra segurou na janela e puxou, abrindo-a por completo.
  A claridade havia sumido do céu. Só se viam estrelas em meio a escuridão. Talvez fosse madrugada, ou muito antes disso. Os contornos dos prédios eram avistados, e entre eles a silhueta de uma pessoa, se pendurando no batente da janela aberta, se preparando para entrar.
  Minho firmou as mãos, pés, joelhos e os cotovelos. Os olhos focados, preparados em mirar no peito de quem quer que fosse. O invasor pousou silenciosamente sobre os calcanhares e já olhava ao redor procurando indícios de vida.
  No mesmo momento em que puxou o gatilho, ele ouviu seu nome ser chamado. Não precisou que o invasor repetisse ou dissesse mais nada para entender.
  Aquela era a voz de Thomas.

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