Encontro Mortal

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- Chegou a hora... - Kathy sussurrou ao descer o Berg. - Estamos, mais ou menos... 40 minutos longe da Sede do CRUEL. Se preparem!
  Minho estava bem atrás dela. Apertou a alça da mochila. Respirou fundo. Estavam entrando na toca do lobo, por livre e espontânea vontade.
- Isso é loucura. - Desabafou.
- Sem essa, não tem mais volta. - Kathy reclamou.
  O Berg parou. Seus propulsores se silenciando.
  Silêncio. Era isso o que havia ali. Nada mais. O peso de sua invasão já se fazia presente antes mesmo de acontecer.
  Alguns se abraçaram.
- Ei! O que vocês pensam que estão fazendo? - Kathy se pôs de pé.
- Estamos nos despedindo. - Alguem respondeu.
- Podem ir parando! - Com os braços, Kathy ia separando os jovens. - Não estou indo matar ninguém. Vocês todos são amigos, e vão continuar sendo quando voltarmos todos juntos.
  Kathy pegou um Lança-Granadas. Segurou firme e preparou sua mochila. Olhou para os garotos procurando palavras brandas.
- Olhem, o que eu quero dizer é que ninguém vai morrer. Eu pensei em tudo. Por isso metade do grupo vai ficar aqui. Thomas vai levar cinco garotos, no máximo. Quem mais vai estar em perigo são Newt, Minho e eu. - Vocês não devem se preocupar.
- Mas e se tudo der errado? - Minho perguntou.
- Jackson sabe ligar e pilotar o Berg. Caso algo aconteça, ele tem um rádio. Thomas também tem e eu tenho outro. - A garota mostrou a pequena caixinha preta. - O grupo de Thomas vai ficar mais afastado do Berg, mas também não vai ficar tão perto da Sede. Então é só passar um rádio, Jackson liga os motores e Thomas corre para cá.
- E nós? - Indagou Newt.
  A garota soltou um sorriso e revirou os olhos.
- Vocês vão me ter por perto. Não vão precisar de mais nada. - Ela se encaminhou para a saída da cabine do Berg.
  Chegando ao local onde ficava a rampa, Kathy acionou o dispositivo. As engrenagens começaram a descer o metal lentamente.
  Noite fria e escura. As únicas luzes ali estavam ao longe, e eram vistas de um modo embaçado através das copas de árvores. O cheiro da mata invadiu o Berg. Ao longe ouviram o som de água, ondas indo e vindo.
  Se sentiram enfeitiçados, mas não perderam tempo. Desceram e começaram sua ida para o inferno.
  Minho caminhava ao lado de Kathy, no final da formação. Os dois permaneciam olhando para o chão até o garoto falar algo.
- Sobre o que disse no Berg, a história de Jackson pilotar e fugir com Thomas, estava falando sério?
- Claro que estava. - Respondeu ela imediatamente.
- Esse é seu segundo plano? - Questionou ele com um tom de ironia.
  Kathy apenas sorriu e puxou a mochila nas costas. Continuou andando, dessa vez olhando para frente.
  Ninguém mais tentou conversar. Todos sabiam a gravidade da situação. A loucura que aquilo era. Mas, segundo Kathy, era o certo a se fazer. Os garotos não sabiam como ela os tinha convencido a fazer aquilo.
  Por mais 25 minutos caminharam em silêncio. As pernas de todos estavam doloridas. Alguns já arfavam. O cheiro de suor se instalou no grupo.
  Thomas resolveu que iriam dar uma pequena pausa para beberem água e repassarem os planos. Kathy explicou outra vez sobre a prioridade fuga, caso as coisas não saíssem como planejado.
- Vocês não devem se importar conosco. - Ela apontou para si mesma e para Newt e Minho. - Vamos estar seguros. Também seremos rápidos. Não pretendo ficar mais que uma hora lá dentro. No máximo três. Nosso principal foco será em medicamentos.
  Estavam bem perto do prédio. As luzes mais fortes e intensas quase os alcançando. Fora definido que Thomas e seus escolhidos iriam avançar mais cinco minutos de caminhada.
- Não confiem em ninguém. - Sussurrou Kathy.
  Um brilho vermelho alcançou seu rosto. Todos olharam para a esquerda.
- Um... Besouro Mecânico? - Newt pareceu surpreso.
- Estamos sendo observados... - Concluiu, em um sussurro, Thomas.
  Ficaram parados. Nem mesmo respiravam. O robô ficou ali, mirando Kathy. Por um longo tempo. E então se foi.
  O grupo não ousou se mover. Esperaram. Nada aconteceu. Pegaram suas coisas outra vez e voltaram a caminhar.
  Dois minutos mais tarde, Kathy pedia um minuto. Movia a cabeça de um lado para o outro, como se tentasse escutar algo. Avistou outros dos tais "Besouros Mecânicos" bem próximos à eles.
- Já sabem que estamos aqui. - Anunciou ela.
- Nossa entrada furtiva foi pelo ralo. - Newt suspirou. - Acho que...
- Shh... - Kathy o calou.
  Ela continuava escutando. Movendo as orelhas de um lado à outro.
  Todos resolveram dar atenção ao que fosse. Pararam e começaram a escutar. Só podiam ouvir o som de animais noturnos e as folhas balançando ao vento suave.
- Ouviram isso? - Murmurou Kathy assustada.
- Kathy, o que você ouviu? - Perguntou Minho.
  A garota olhou para ele. Os olhos arregalados em terror.
- Não é nada. Devia ter visto sua cara. - Caçoou ela.
- Isso é sério? - O loiro ao lado de Minho pareceu transtornado.
  A garota deu de ombros e passou à frente do grupo, deixando os garotos perplexos e irritados para trás.
- Kathy é uma ótima atriz... - Resmungou Newt com raiva.
  Naquele ponto, tudo mudou. Kathy parou, congelada. Tremeu. Se virou de vagar. Dessa vez o olhar era aterrorizado, como se tivesse visto algo horrendo, mas não havia nada na sua frente.
- Não se movam... - Sussurrou ela. A voz trêmula e falhando.
  Thomas, que estava logo depois de Kathy, procurava entender o que havia causado aquilo na garota. Imaginou se seria outra piada. Mas, por precaução, se virou.
  Agora os dois tinham um olhar apavorado. Minho podia jurar que Thomas estava pálido.
  Um por um, os garotos foram se virando. E todos assumiam as mesmas expressões.
  Parado apenas poucos metros à frente, um enorme lobo rosnava baixinho. Saliva pingava de sua bocarra. Os olhos amarelos fitavam os jovens estáticos. O animal era muito maior que qualquer outro lobo. Kathy tinha certeza de que era outra aberração do CRUEL.
  Minho estava de frente com o lobo. Seu sangue corria em gelado em suas veias e o suor escorria por sua testa, a camisa grudada no corpo. De tão perto, ele podia ver cada detalhe da coisa. Os dentes do animal eram brilhantes sob a luz da Sede. Minho observou que o corpo do lobo, todo seu pêlo, também brilhava.
  As patas grandes e pesadas se moveram. O animal chegou mais perto de Minho. Agora estava tão próximo que, se desse uma pequena investida, era capaz de arrancar a cabeça do moreno.
  Kathy não se aguentou. Metal cortou o ar, zunindo baixo, e acertou em cheio a cabeça do lobo. A criatura virou sua face.
  Mas, para a surpresa de todos, a faca de Kathy ricocheteou. O metal batel no lobo e um som como de espadas se chocando invadiu o ar. Kathy deu um pequeno ofego ao ver sua própria faca vindo em sua direção.
  Um pequeno talho foi feito na bochecha da garota quando a faca passou por ela. Sangue escorreu lentamente.
  O lobo girou sua cabeça de volta para os jovens. Não havia nenhum indício de que levara uma faca no meio do crânio. Ele pareceu sorrir. Se ergueu nas patas traseiras e todos viram como ele ganhava quase 2 metros facilmente.
- Que diabos é isso...? - Murmurou Thomas.
  Minho podia ver como o lobo continha formas em sua barriga. Ao pensar um pouco, viu que aquelas formas se encontravam em seu abdômen também. Eram músculos.
- Lobisomem... - Kathy sussurrou.
  Era claro para todos que aquilo não existia. Não era real. Entretanto, para o CRUEL não existia limite entre realidade e imaginação. Aquilo nada mais era do que algo criado em algum laboratório.
  Uma mistura grotesca de um animal e um ser humano. Ou talvez nem fosse. Só apenas um lobo genéticamente modificado.
  Para os Clareanos e Kathy não importava o que ele era.
  A coisa virou sua cabeça para trás. O peito se inflou com ar. Então uivou. Um longo e demorado uivo.
  Minho cobriu os ouvidos. Estava próximo de mais. A dor foi logo em sua cabeça. Gritou.
- Corram! - Kathy falou mais alto enquanto atirava com o Lança-Granadas.
  Faíscas azuladas explodiram no peito do lobo. Se espalharam pelo corpo peludo dele. Mas nada aconteceu. Ao contrário do que esperavam, o lobo apenas estremeceu e voltou de novo a ficar sobre quatro patas.
  Então entenderam algo. O pêlo brilhante, os dentes do mesmo modo...
  A criatura, que agora era vista na luz fraca, tinha o corpo feito em metal.

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