Viva

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  Tropeços. Quedas. Gritos. Respirações Pesadas. Tiros. Uivos.
  A floresta havia se tornado um terror. O lobo modificado não sofria nenhum dano. Continuava a perseguir os jovens.
- Não deveríamos correr para o Berg? - Gritou alguem.
- Quer voltar lá e tentar passar por ele? - Kathy respondeu.
  O Lança-Granadas parecia ser uma arma de brinquedo contra a criatura. Nada o afetava.
- Se quiser tentar, pode ir! - Continuou Kathy. - Vai lá se divertir com o presentinho de boas vindas do CRUEL!
  Correram mais. Tentavam de tudo para despista-lo. Embora nada adiantasse.
  Para melhorar ainda mais, Kathy sufocou ao ouvir mais três uivos ao longe. O CRUEL e seus exageros...
- Aonde estamos indo? - Minho gritou. O garoto corria ao lado de Kathy.
- Para onde mais, senão a Sede do CRUEL? - Respondeu ela arfando. - Eles planejaram isso. Essa coisa está nos levando direto para eles.
  Um arrepio passou pelo grupo. Kathy estava certa. Todos ali foram enganados, criaram em si a ilusão de que poderiam invadir aquele lugar. Suas opções agora eram correr ou morrer.
  O animal corria, e todos percebiam que ele não corria com toda sua força. Ele só estava os encaminhando para o CRUEL. Como um cachorro tocando ovelhas. Mas era um lobo, e ele podia muito bem resolver fazer um lanche.
  Kathy ainda persistia em atirar contra ele. Entretanto, nada acontecia. A eletricidade era espalhada pelo corpo dele e sumia.
- Não parem! Vão! - Gritava ela enquanto parava para atirar. - Corram!
  Trocou de armas, pegando a pistola. Atirou. O eco correndo pela floresta. E assim como a faca, as balas eram repelidas.
  Outra pessoa parou ao seu lado. Tiros também saíram. Era Minho.
- O que você está fazendo, seu idiota!? - Kathy gritava sem parar de atirar. - Vá embora!
- Já disse que não vou te deixar! - Respondeu o moreno.
  Por um momento, Kathy olhou para as mãos dele. Nelas encontrou a pistola com a qual ele havia atirado em Thomas. Aquela que causara tanta desconfiança com relação a menina. Minho a escondera no batente da janela, e antes de saírem daquele prédio, a pegara para um caso de necessidade. Nunca esteve tão certo ao fazer aquilo.
  Sua mira estava bem melhor. Acertava os tiros. Porém, claro, nada acontecia. O animal continuava avançando.
- Mértila! - Minho gritou, puxou Kathy e voltou a correr. - Não vamos conseguir parar isso!
  Alcançaram Newt, que era um dos últimos do grupo. O garoto corria mancando e parecia exausto. Minho o segurou, dando apoio.
- Vamos dar a volta pela direita! - Instruiu Kathy, virando com tudo para o lado.
Estancaram. Kathy abriu os braços para conter os jovens atrás de si, os protegendo. Outro dos Lobos de Ferro estava ali, rosnando e avançando para eles.
- Vai, vai, vai!! - Kathy começou a empurrar os garotos. - Para a esquerda!
  Viram então que estavam cercados. Assim como na direta, havia uma outra criatura na esquerda. E a que vinha por trás continuava avançando.
- Corram! - Thomas correu para frente, na direção do CRUEL. Não havia mais nada que pudessem fazer.
- Não... Parem... - Gritava a menina.
  Minho viu Kathy reduzir a marcha. Soltou Newt e foi até ela. O loiro quase caindo, mas logo voltando a correr.
- O que houve, Kathy? - Minho perguntou.
- Só corra. - Respondeu ela.
  Lhe ocorreu que o ar tinha um odor de sangue. O cheiro era forte. Parecia se alojar nos pulmões. Até mesmo sua saliva parecia ter o gosto do líquido.
  Kathy.
  A blusa molhada de suor grudava na menina. E mais abaixo, no abdômen, uma mancha negra era vista. O ferimento de antes fora reaberto.
  Claro que isso poderia acontecer. Ela estava fraca, havia perdido muito sangue. Além disso, estava correndo como louca em uma floresta à noite, quem garante que ela não tropeçara e se ferira outra vez? Orgulhosa como era, teria ela falado disso? Provavelmente não.
  Passou o braço de Kathy por seu pescoço. Começou a arrastar a garota. Seus pés se engalfinhavam em raízes e em pequenas plantas rasteiras. Minho não parava. Não podia parar.
  A floresta acabou. Se viram em um lugar amplo. Luzes alcançaram seus corpos.
O CRUEL.
  Bem em seus calcanhares, três enormes e modificados monstros os seguiam. Rosnavam e grunhiam. As enormes patas batendo no chão e criando um som estranho. Metal batendo em cimento. Faíscas vermelhas saíam quando suas garras arranhavam o chão.
  Faltavam poucos metros, quando um deles alcançou Minho com um salto. Kathy fora jogada com violência para o lado, batendo a cabeça, seu corpo rolando fracamente. Desmaiou, caindo de costas no chão frio.
  Minho tentava de todo modo não ser mordido. Para seu desgosto, o Lobo de Ferro prendeu seus ombros com as patas dianteiras. Observou o monstro abrir a boca. As duas fileiras de dentes de metal se exibindo para ele. Tão afiados. Rasgariam sua pele em segundos, ou menos.
  O Lobo avançou. Desceu rápido para o pescoço de Minho. Gritos foram ouvidos. Agudos. Femininos.
  Kathy acordara e dera de cara com aquela cena. Fogo correu por suas veias. Se atirou sobre a cabeça da coisa. Uma das pernas ficando centímetros dos lábios da fera. Agarrou As orelhas dele e começou a puxa-las.
- Sai... De cima... De Minho!! - Dizia ela em meio a chutes e puxões.
  Tentando se defender, o lobo cambaleou para trás. Saiu de cima de Minho. Kathy continuou grudada na face do horrendo animal. Isso até ele erguer um dos braços, e com a pata, arranhar as costas de Kathy.
  Vergões profundos surgiram. Sangue jorrou em uma nuvem vermelha. Kathy não se soltou. Então novos golpes foram dados nela.
Minho se ergueu e correu para ajudar. Os outros dois lobos pareceram ter a mesma ideia. E os outros Clareanos já voltavam em busca de seus amigos.
  Na sua última tentativa, Kathy teve as costas cravadas pelas garras do animal. Os membros da garota soltaram lentamente o rosto da criatura. Ele a ergueu, flácida. Seus braços e pernas balançando no ar. Kathy era uma bandeja, o lobo um garçon.
  Minho gritou algo. Um "não" talvez. Mas não percebeu. Apenas correu para cima das três feras que agora estavam uma ao lado da outra.
  Os garotos, todos eles, se mobilizavam para salvar Kathy. Gritando e agitando os braços, tentando chamar a atenção dos Lobos.
- Vamos separar eles. - Thomas disse para Minho. - Pegue Kathy.
  Não demorou muito e já tinham os animais separados. O que estava com Kathy parecia gargalhar para Minho. Ele a colocou contra o chão, com força. Puxou o braço das costas de Kathy. Ela gritou fracamente. O sangue dela manchando o braço do lobo.
  Com ódio, Minho puxou a pistola. De algum, modo conseguiu correr para cima do Lobo. Seus gritos acompanhavam os passos pesados.
  Minho saltava e se abaixava. Fugia das investidas da fera. Tentava atacar, mas nada adiantava. As balas já acabavam. Então o animal baixou sua face bem na frente do moreno.
- Diga "adeus", desgraçado! - Com um sorriso, Minho encostou o cano da arma no olho amarelo do Lobo. Disparou.
  O animal choramingou. Deu alguns passos para trás e caiu. Minho observou ele se contorcer algumas vezes e depois ficar imóvel.
- Ei! - Gritou ele para os amigos que continuavam lutando. - Os olhos! São seu ponto fraco!
  Facas surgiram, saindo das mochilas dos garotos. Começaram a investir contra as duas feras que ainda restavam.
- Ei, Bela Adormecida... - Minho se ajoelhou ao lado da garota. O cheiro de sangue deixou o garoto enjoado.
- Minho... - Disse ela. Os olhos brilhantes de lágrimas eram vistos através da cortina de cabelos emaranhados.
- Tire ela daqui! - O Líder, Thomas, gritou.
  Tentou erguer Kathy. Mas parou. Ela começou a gritar de dor. Estava muito ferida. Sozinho não iria conseguir coloca-la de pé. Olhou para trás, em busca de ajuda. Não precisou chamar. Newt já corria em sua direção.
- Minho, vamos levantar essa Fedelha. - Disse o loiro.
  Kathy gritou ao ser erguida. Sorte de Minho ter Newt por perto. O loiro não o deixou parar de carregar a garota. Mesmo quando ela começou a chorar e pedir para deixarem que ela ficasse ali.
  Arrastaram a garota em para longe da batalha que se seguia. Tentaram levar Kathy para a mata outra vez, para tentarem chegar ao Berg.
- Não eram... Três... - Kathy chorou.
  Como se estivesse esperando por isso, a quarta fera saltou de dentro da floresta. Essa era muito maior. Uivou, anunciando sua chegada.
- Mértila... - Assutado, Minho murmurou.
  Voltaram aos tropeços para a frente do CRUEL. Os outros Clareanos pararam suas lutas em vão e os seguiram, ao comando de Thomas.
  Estavam quase de encontro ao muro. As feras se aproximando lentamente, saboreando o pavor nos olhos dos garotos. Um bip foi ouvido. Ao lado dos jovens, uma porta surgiu. Se abriu revelando a entrada para a Sede.
- Fala sério!? - Newt resmungou.
  Sem opções, eles começaram a entrar. Pararam dentro de uma espécie de quarto. Só que sem janelas e sem portas, a não ser pela qual entraram. Beliches estavam dispostos nas paredes.
  Minho, Newt e Kathy eram os últimos a entrar. Sabiam que era uma armadilha. Que escolha tinham? Era entrar ali, ou morrer nas mãos dos Lobos.
- Minho... - Kathy chamou. - Está na hora do meu segundo plano...
  As mãos de Kathy pararam nas nucas de Newt e de Minho. Forçou no lugar e os dois caíram de joelhos. Minho se virou para olha-la.
- Desculpe... - Pediu Kathy entes de acertar um chute no rosto do moreno.
  O maxilar de Minho doeu. Sua cabeça girou. A visão turva. O chão parecia se mover. Luzes dançavam diante de seus olhos.
- O que você fez? - A voz de Thomas foi ouvida.
  Procurando entender, Minho se ergueu sobre os cotovelos. Viu Kathy parada de pé na entrada do quarto.
- Entenda, não quero que nenhum de vocês morra. - Disse ela.
- Kathy, o que você está fazendo? - Newt perguntou, ainda ajoelhado ao lado de Minho.
- Estou fazendo o necessário.
  Minho se ergueu. Dessa vez o chute atingiu seu peito. O ar escapou de seus pulmões. Tossiu.
- Pare com isso! - Thomas pediu.
  O som de arma sendo engatilhada chegou até Minho. Ele olhou para Kathy e viu a garota com a pistola nas mãos. Apontava para alguém atrás de Minho.
- Não se mexa, Thomas.
- Você prometeu que voltaríamos. Todos juntos. - Um dos garotos disse.
  Kathy sorriu. Olhou para Minho.
- Eu não menti.
  Os rosnados dos Lobos se tornando mais próximos a cada segundo. Minho viu Kathy tremer. Parecia um grande sacrifício para ela, ficar de pé. O sangue ainda fluía de suas recém adquiridas feridas.
- Minho, não se esqueça o plano. De como eu fugi deste lugar. Faça o mesmo. Faça melhor. - Sussurrou ela se abaixando.
  Ela pegou o Lança-Granadas de Newt e o de Minho do chão.
- Salve todos. Se salve.
  Outro bip se seguiu. A porta fora acionada outra vez, a diferença é que essa era de vidro.
  Kathy tossiu sangue e caiu de joelhos. Se ergueu lentamente.
- Kathy, entre! - Minho berrou correndo para ela.
  A garota não se deu ai trabalho de impedi-lo. O vidro já havia os trancado em segurança dentro do quarto. Kathy estava do lado de fora.
  Minho esmurrava a porta. Tentava derruba-la.
- Não se esqueça de sua promessa! - Kathy sorriu sem humor. - Não retire a "mértila" do Dissipador.
  Um dos lobos já estava próximo dela.
Kathy tocou o vidro onde uma das mãos de Minho estava. Uma lágrima caiu e outras seguiram. Olhou nos olhos de Minho.
  Engrenagens começaram a descer uma porta de metal, por cima da porta de vidro.
Minho se recusava a sair dali. Sua mão grudada na porta. Chorava, pedia para Kathy correr. Mas ela apenas estava parada olhando para ele.
  Atrás de Kathy estava um lobo. Ele se aproximou mais, erguendo sua enorme pata para ataca-la.
  Era impossível ouvir algo através do som da porta baixando. Então Minho apenas leu os lábios de Kathy. E eles diziam:
- Não se esqueça o quanto te amo.

EM REVISÃO • Deserto MortalOnde histórias criam vida. Descubra agora