Cap. 14

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Passaram quase 2 meses, a baixinha ainda estava aqui em minha casa e seu pai ainda estava internado no hospital, mesmo que sua situação tenha melhorado e já não estivesse mais em risco como antes, os médicos resolveram deixá-lo em observação. No primeiro dia que a baixinha foi vê-lo no hospital, ela teve uma crise de choro e raiva, falando coisas como "vocês diviam ter me contado", "o papai podia ter morrido sem eu ter me despedido" e viárias outras coisas que eu sabia ser apenas um desabafo de tudo o que ela estava sentindo no momento. Com muito esforço, conseguiram a acalmar, no final os pais da baixinha pediram desculpas e depois ainda um pouco arrependidos à abraçaram.

Na escola as meninas ficaram abaladas e meio revoltadas por demorarem a saber sobre um assunto tão importante, ainda mais porque a baixinha faltou uma semana inteira. Não foi muita surpresa quando a Aline quase me bateu porque eu era o único que já sabia e também não contei, como consequência as meninas ficaram 3 dias sem falar comigo e chateadas com a baixinha. Eu até entendo que elas estavam preocupadas com a baixinha, mas elas também precisavam entender que esse não era um assunto para sair se espalhando para meio mundo. Mas depois de algumas conversas entre as 3, abraços, lágrimas e palavras, que mais pareciam resmungos por causa do choro, a Aline e a Elizabeth entenderam a situação da Amy e se resolveram.

A única coisa que a baixinha não deixou de fazer foi dançar, foi a forma que ela encontrou de tentar esquecer um pouco dos problemas. Minha irritação era não poder fazer nada de muito importante para minha melhor amiga se sentir bem, toda vez que eu tentava dizer algo ela simplesmente deitava a cabeça no meu colo e lá ficava. Foi aí que eu entendi que a baixinha não precisava das minha palavras e sim da minha companhia.

Infelizmente eu ainda consigo ver a preocupação na feição da baixinha, mas pelo menos agora ela voltou a sorrir mais, a Amy que eu tanto conheço está voltando a se comportar como antes. A ferida que havia se formado, cicatrizava, mesmo que lentamente.

Hoje eu tenho aula na academia e mesmo sem ter aula de dança, a baixinha resolveu vir junto, dizendo não querer ficar sozinha. Chegamos e eu comecei minha aula enquanto a baixinha se sentava em frente ao ringue e me observava atentamente, me lembrando a época de que eramos pequenos. No final o treinador falou para a turma toda que haveria uma competição onde todos poderiam participar, só não tinha data marcada ainda. Sim, minha felicidade não cabia em mim, e a baixinha eufórica do jeito que era ficou quase mais feliz que eu, isso que nem era ela que lutaria.

Voltamos para casa e fomos assistir uma das nossas series favoritas "Supernatural", fizemos uma maratona da série, só não assistimos todas as temporadas porque a minha mãe chegou do trabalho e mandou subírmos para o meu quarto. A baixinha se jogou na minha cama e me olhou dando risada.

-Loiro, faz amizade com algum menino igual ao Dean??!!!- me pediu sorrindo Travessa e me encarando nos olhos.

-Pra que?- perguntei revirando os olhos e sentando na cama junto com ela.

-Porque eu quero um Dean pra mim- falou me encarando como se sua resposta fosse óbvia.

-Você só fala merda mesmo- respondi revirando os olhos, ela me bateu com uma almofada e disse um "você não entende, idiota". Desci até a cozinha e encontrei minha mãe jantando, peguei o sorvete na geladeira e 2 colheres, desejei boa noite para minha mãe e subi novamente. Nem entrei no quarto direito e já fui atacado pela baixinha, mas o sorvete foi o alvo principal- Ei sua gorda, divide né!

-Não- respondeu colocando uma colher cheia na boca, fui até ela e peguei o pote, a baixinha tentou pegar devolta mas eu levantei o braço, assim ela não conseguia alcançar o sorvete- Ok ok loiro, fazemos um trato você arruma um amigo gay pra mim e eu divido o sorvete com você.

-O sorvete tá na minha casa- falei rindo- E que história é essa de querer um amigo gay, o Lucas tá aí pra isso- ela me encarou revirando os olhos mas depois riu.

-Então eu te arrumo uma namorada- falou sorrindo de canto, a encarei por um tempo e pensei na frase que ela havia dito, sem perceber fui até ela acariciando seus cabelos e a encarando nos olhos, foi então que ela puxou o pote da minha mão- Mongo, só eu falar de menina que fica todo bobo- a baixinha revirou os olhos e foi comer o sorvete.

As vezes eu fico pensando se a baixinha desconfia de que eu goste dela, e tudo o que ela faz seja de propósito e só para me provocar. Mas aí eu penso melhor e concluo que ela não faria isso, pelo menos eu acho que não. Resolvi ir tomar banho, quando voltei vi a baixinha jogando vídeo game, me juntei a ela e ficamos nessa por horas e horas.

Depois de 2 derrotas da baixinha e um empate, ela se revoltou e disse que só desistia porque estava cansada de perder de propósito. Sei. Quando ela foi tomar banho fui procurar um DVD para assistirmos no computador, peguei um de comédia e coloquei esperando a baixinha voltar do banheiro. Assistimos e fomos dormir.

No outro dia fomos para a escola, acabei me separando da Amy por um momento no intervalo e depois não a vi mais, bom, ela deve estar com as meninas.
***
A aula começou novamente e nada da baixinha aparecer, foi quando uma menina toda machucada no rosto, com arranhões e alguns roxos, entrou na sala de aula indo em direção ao professor. Depois de algumas palavras que eu não pude ouvir o professor encarou a turma.

-Alunos, essa é uma aluna transferida de outro colégio, seu nome é Rebeca e ela irá fazer parte da sala apartir de hoje- o professor falou e mandou que ela sentasse, ela passou por mim e deu um sorrisinho. Foi então que eu percebi ser aquela menina do parque, cabelos pretos iguais aos da Amy e olhos também pretos. Eu não mereço isso. A garota, que agora sei se chamar Rebeca, se sentou um pouco mais no fundo e começou a conversar com umas meninas que também estavam lá.

-O que aconteceu Re?- ouvi uma menina perguntar a ela.

-Uma menina louca me agrediu, sem motivo nenhum- a Rebeca respondeu irritada, não prestando mais atenção na conversa delas fiquei torcendo para que essa "menina louca" não seja a Amy. O sinal do fim da aula tocou e nada da baixinha aparecer, arrumei minhas coisas e fui atrás dela, em direção a diretoria.

Do ringue aos palcos (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora