Fui até a Amy e quando ela me viu limpou as lágrimas o mais rápido possível, sorrindo minimamente para mim enquanto guardava o cartão para que eu não o visse.
- O que aconteceu?- perguntei fingindo não ter visto toda aquela cena.
-Nada de muito importante- a baixinha me respondeu sentando no chão do pátio que era coberto por grama.
-Tem certeza?- continuei insistindo me sentando também, a Amy olhou para mim e seus olhos pareciam querer dizer muitas coisas que ela estava guardando, angústia, medo, dúvida, ódio- Você sabe que pode contar tudo pra mim, não sabe?- falei sorrindo de canto.
-O que adianta? Você também não fala muita coisa pra mim- a baixinha me respondeu olhando nos meus olhos e depois virando seu rosto para frente mas agora encarava o chão. Suspirei cansado encarando o sol que quase não conseguia mais ser visto.
-Tem coisas que você não precisa saber- falei arrancando alguns pedacinhos da grama.
-Hum... se é assim que você pensa- a baixinha falou sem emoção nenhuma na voz. Um silêncio incômodo ficou presente por muito tempo, não sabia se ia embora, se tentava falar com ela ou se apenas continuava aqui sentado do lado dela enquanto não falamos sobre nada- Um homem veio me fazer uma proposta sobre a faculdade... acho que vou recusar- a Amy se pronunciou demonstrando um falso sentimento de certeza e felicidade.
-E posso saber por que?- falei suspirando enquanto revirava meus olhos.
-E posso saber por que me beijou no fim da apresentação?- a baixinha me pegou de surpresa com toda aquela seriedade e falando de forma tão direta.
-Coisa... de momento- respondi um pouco incerto se deveria ou não continuar mentindo para ela.
-Mentira- a baixinha falou ainda da mesma forma seca- Pra ser cinsera, você anda mentindo muito pra mim- fechei meus olhos me agredinto mentalmente.
-Eu não estou mentindo pra você- falei, o que era verdade, em partes eu só não estava contando alguns detalhes. Eu estava omitindo, o que de certa forma também não era certo.
-Ah, desculpa minha ignorância, você está omitindo pra mim- agora a Amy me encarava, como se tentasse ler a minha mente a todo custo- Só não sei porque.
-Tem muitas coisas que você não sabe Amy, e isso não faria diferença nenhuma na sua vida- respondi me levantando, eu não queria brigar com ela, ainda mais agora que ela iria embora por anos- Aceite a proposta, é o melhor que você pode fazer- terminei nossa conversa indo em direção ao anfiteatro novamente.
Avistei o povo próximo ao palco, sentados na primeira fileira, essa provavelmente era a última apresentação do espetáculo. Fui até eles e todos me olharam esperançosos, pareciam crianças perguntando se a minha mãe tinha deixado eu brincar com eles na rua, o que de certa forma me fez rir. Mas eu não disse nada, apenas me sentei ao lado do Dom e fiz um sinal que dizia "falo depois".
No fim de tudo, quando finalmente as apresentações finalizaram e todos saímos do anfiteatro, a Aline e a Elizabeth vieram quase correndo para saber o que tinha acontecido. Balancei minha cabeça negativamente encarando todos eles agora que os dois idiotas também estavam por perto, e antes que eu fosse bombardeado por perguntas, o Dom e o Lucas levaram as meninas para casa mesmo que a contra gosto delas. Antes que eu saísse da escola, me lembrei das minhas coisas no camarim, suspirei e fui até lá percebendo que só tinha a minha mochila naquele espaço enorme, provavelmente as meninas tinham pegado as coisas da Amy ou até mesmo ela própria deve ter vindo para cá depois da nossa pequena conversa.
Mesmo que o caminho da escola não fosse tão longo, a minha cabeça não parava de me encher de incertezas, de dúvidas, de lembranças e memórias. Eu não ia mudar de opinião, a baixinha iria sair do país, faria a faculdade que ela sempre sonhou e quem sabe até me esqueça, até porque cinco anos é muito tempo. Quem sabe esse "amor" que eu acho sentir, seja apenas uma paixonite de colegial. Meus pensamentos criavam hipóteses e ideias para quem sabe me deixar mais calmo, ou pelo menos me convencer completamente de que a felicidade dela vem em primeiro lugar e que eu não iria sair correndo em direção a esse aeroporto e acabar fazendo uma loucura.
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Do ringue aos palcos (Em Revisão)
RomanceEla tinha os cabelos negros presos em um coque perfeito, um sorriso lindo e olhos tão azuis quanto o céu, mas eles com certeza tinham muito mais brilho. Me encarava divertida usando luvas de boxe, dizendo que seria a primeira e única que me derrotar...