Depois daquele dia... (Romance Lésbico)

Capítulo 24

Depois de uma mês em turnê pelo Brasil finalmente conseguiríamos ter um tempo para descansar, Flávia me dizia que estava exausta e sua voz estava um pouco rouca por causa de ensaios e apresentações. Rodrigo nos disse que agora a banda de Flávia poderia melhorar, ou seja, estavam em 'nível' maior, isto é, agora seria possível que começassem a fazer vídeos oficiais de algumas canções. A morena estava bastante animada com a notícia.

- Amor, pelo amor de Deus, o que aconteceu? Por que está brava comigo? O que eu fiz? - tendei dizer o mais calma o suficiente.

Ela não respondia, meu rosto estava encostado na porta do quarto o que me possibilitou escutar o choro e vários soluços da minha morena, eu estava confusa e não sabia quem poderia saber o por que tanto Flávia chorava. A chamei mais uma vez batendo na porta mansamente e a única coisa que ganhei foi : "Vai se fuder Sofia! Me deixa em paz!" Eu nunca havia visto ela daquele jeito, estávamos a dois meses juntas e nem havia pensado como ela ficaria brava ou irritada e agora eu sabia como ficava mas o pior era que eu nem sabia o motivo. Fui até a sala e me sentei no sofá eu estava inquieta e tentando pensar o motivo da morena estar assim, mas não conseguia, não me vinha à cabeça nada, olhava meus pés balançando pra frente e pra trás de tanto nervosismo que estava sentindo, pois é quando fico nervosa tenho uma bela crise de tremedeira, tenho tic na perna e as vezes falta de ar.

Da sala escutava o choro de Flávia, estava mais preocupada do que nunca, olhei minha mão e via a aliança que a morena tinha me dado de aniversário de um mês e então lágrimas rolaram em meu rosto. Fiquei olhando minha mão por tempo até meus devaneios serem atrapalhados pelo interfone tocando. Atendo dizendo que ela podia subir, não demorou mundo e então ela aparece na minha frente, estava linda como sempre, agora estava loira, mas nossos traços ainda eram idênticos.

- Oi maninha... - digo desanimada.

- Já soube o que a mãe fez né?

- Oi?

- Então por que está assim? - ela para de falar e depois volta - Flávia está chorando?

- Sim e eu não sei o por quê...

- Ela se encontrou com a Amanda...

- O quê?

Fiquei encabulada com o que escutei, tentei buscar na memória Amanda mas apenas lembrei de seu rosto terminando comigo depois de meu pai morrer, dizendo que me traíra com um homem e que estava grávida. Corri até a porta do quarto pedindo pra Flávia abrir a porta, e de novo escutei o "Vai se fuder!!".

- Flávia yo no sé porqué fue encontrarse con Amanda y yo no sé lo que ha dicho a usted, pero me gustaría de saber por qué estás enojado conmigo!! - disse super irritada e brava.

(Eu não sei o por que foi encontrar com Amanda e nem sei o que ela falou pra você, mas eu quero saber o porque você está brava comigo!!!)

Ela abre a porta e olha nos meus olhos, seu rosto avermelhado, seus olhos ainda inchados, olhá-la daquele jeito me fez deixar cair algumas lágrimas, uma dor forte tocou conta de meu peito, quis abraçá-la mas quando encostei minhas mãos em sua cintura ela me empurra pra longe dela.

- Ok... Pelo menos me conte o que aconteceu, pois não sei de nada...

Pov. Flávia

Estava tudo ótimo depois de Rodrigo ter me avisado que faríamos vídeo clipes e eu já estava imaginando como seria o vídeo Different love, mas ontem foi quando começou a ficar estranho, não disse nada a Sofia sobre Martha (sua mãe) ter me ligado dizendo que queria me ver pois tinha um presente pra mim pelo sucesso na turnê e eu idiota acreditei. O dia terminou rápido, quando olhei no relógio já eram 22h, tomei um banho rápido junto de Sofia e fomos dormir, quer dizer, a ruiva dormiu enquanto eu não conseguia pois meus pensamentos estavam sendo dominados pela ligação que Martha fez ontem pra mim.

Não parece estanho a sogra ligar para a nora, mas neste caso, sim é muito estranho já que minha sogra nem tinha meu número e nunca pediu pra falar comigo. Passou-se tempo o suficiente pra me fazer fechar os olhos e pegar no sono.

Na manhã seguinte eu acordei e deparei com Sofia dormindo, fico olhando-a por alguns minutos e então me arruma para assim me encontrar com Martha, se passou uns vinte minutos e então fui até um parque não muito longe de meu prédio (onde marcamos o encontro).

Fiquei esperando ela tempo suficiente pra me fazer desistir e voltar, mas então sinto uma mão em meu ombro, me viro e me assusto, uma mulher, lá pela minha idade, bronzeada com olhos claros e cabelo preto com algumas mechas azuis.

- Você é a Flávia?

- Eu te conheço?

- Não mas sua namoradinha me conhece muito bem... - disse ela com um sorriso meio malicioso.

- O que você quer? Como sabe que estava aqui?

- Eu só vim deixar um recadinho pra você... Sobre Sofia... Olha, não tenha esperanças ao lado dela, ela faz o mesmo com todas, faz elas se apaixonarem e as leva a um motel, depois de uma semana ou no máximo um mês ela te joga fora como se não fosse ninguém...

- Quem você pensa que é pra... - fui interrompida.

- Nós nos amávamos, muito... Mas aí ela conheceu outra e partiu meu coração, exatamente como está fazendo com você... Estou te avisando... Quem avisa amigo é... E está na cara dela que ela não te ama...

- Não fala assim da Sofia sua louca!

- Eu falo do jeito que eu quiser e nenhuma mulher, principalmente famosa manda em mim!

- Abaixa seu tom pra falar comigo sua... Sua vadia! - me arrependi de dizer isso, pois ganhei um belo dum tapa na cara.

- Hum... To avisando! Se afasta dessa hipócrita! - devolvo o tapa nela - Ela fez todas sofrerem Flávia!

- Do que você está falando sua maluca?

- Bar, transa no primeiro dia, mora junto, presente, viagem, motel e depois parece meio longe do mundo... Ela anda assim né?

Eu não respondi, apenas pensei na ordem que a mulher falou, e por um certo lado ela sabia tudo que fizemos, ela se virou e partiu sumindo entre algumas árvores. Voltei pro carro irritada e por um tempo dirigi sem caminho até chegar na frente do meu prédio, estaciono o carro e desligo o motor, não tenho a intenção de sair dele tão cedo, o que aquela mulher me disse não saia da cabeça "ela faz o mesmo com todas..." "Te joga fora como se não fosse ninguém..." "está na cara que ela não te ama" "ela fez todas sofrerem". Conheci Sofia num bar, na mesma noite nós ficamos e eu me apaixonei por ela, passou um tempo e ela vem morar comigo, ganhei Tris, viajamos por alguns estados por causa da turnê e ela me levou à loucura no motel e pra terminar com meus pensamentos e chorar de vez ela sempre dizia que estava cansada, pouco prestou atenção em mim antes de dormir ou quando acordava, ficava quieta um tempo e só falava algo por causa da minha agenda que estava meio cheia.

Será que a mulher estava falando a verdade? Sofia fazia isso mesmo? Não sei se devo acreditar numa pessoa que nem conheço... Mas estava tudo encaixando no que ela disse... Nesse momento não resisti, chorei horrores dentro do quarto, não queria olhar na cara da minha ruivinha. Mas ela não faria isso comigo, ou faria? Ela dizia sempre que me amava mais que tudo... Que estava feliz... Será que era tudo mentira? Impossível! Desci do carro e o tranquei, tomo coragem de entrar em meu apartamento tentando esconder as lágrimas e meu rosto inchado, mas não consigo disfarçar, quando entrei vi ela sentada olhando pra porta, olhei nos olhos dela, um sorriso estava em seu rosto mas quando me viu ele desapareceu, tentou falar comigo mas não consegui, aquelas palavras ecoavam em meus ouvidos então a raiva tomou conta de mim. Ela falava comigo mas não conseguia entender nada, apenas a empurrei e fui pro quarto.

Meu choro não passava, escutei Sofia me chamando pedindo explicação mas não conseguia dizer nada apenas xingar ela. Deve ter passado meia hora e eu não parava de chorar, então ela volta pra porta de meu quarto falando em espanhol, entendi mais ou menos e ela estava certa, eu tinha que contar o que houve. Mais uma vez tentei engolir o choro e olhar pra ela, a olhei nos olhos e vi que lágrimas pairavam sobre eles, ela quis me abraçar mas não consegui deixar isso acontecer. Olho pro lado e vejo Samantha me olhando com pena mas talvez estivesse com pouco de raiva já que tinha a mesma expressão que Sofia quando brava. Contei tudo o que aconteceu, Sofia chorava de raiva mas não falava nada, praguejava algo em espanhol e só consegui entender "Filha da puta! Aquelas vadias vão ver! Ah te odeio mãe!"