HHavia uma pequena ruga de expressão no meio da minha testa enquanto o carro dos irmãos ingleses e seu distinto mordomo-motorista-faz-tudo, rodava pelo início da noite em Nova Iorque.
Conseguia ver nitidamente a marca bem entre meus olhos quando observava minha expressão patética pelo retrovisor do lado de dentro e me achava bem mais parecida com minha mãe do que gostaria de admitir. Estava fora dos meus planos ter qualquer semelhança com Aida Dalton até os 90 anos. Ou mais.
Lucas estava ao meu lado, a janela aberta chacoalhando toda aquela cabeleira ruiva desgrenhada enquanto se divertia em observar tudo ao nosso redor com ares de despedida. Fazia comentários bem humorados sobre cada pessoa diferente, táxi, prédio ou cartaz pelo caminho, e nem mesmo a demora absurda do trânsito parecia desmotiva-lo. No fundo, eu sabia que Luke estava mil vezes mais animado naquela noite por conta dos meus olhos lacrimejantes quando cheguei no carro.
Ninguém perguntou sobre ou mencionou meu jantar de família, meu pai ou a presença ilustre de Bruce naquela mesa verde ao lado da janela do Babillon. Próspero parecia educado demais para se meter nessa questão e Luke estava ignorando qualquer realidade de que eu tivesse um compromisso original que não envolvia os Valois.
Mas será que a opinião deles sobre mim continuaria a mesma se soubessem do meu pretenso compromisso tradicional com o Sr. Campbell? Claro que não me refiro à Próspero, pois ele continuaria me detestando mesmo se minha pele fosse feita por páginas raríssimas manuscritas pelo próprio Shakespeare. Ao menos, o sentimento era recíproco.
— Então, — Collins surgiu entre algumas risadas de Luke, movendo o retrovisor para que eu visse seu sorriso bonachão por baixo daquela barba grisalha — o que pretendem jantar?
— Você tem outro restaurante que queira ir, Kate? Vamos aonde você quiser — Luke se acomodou perto de mim e passou o braço ao redor dos meus ombros, batendo seus cílios claros num engraçado e dramático flerte adorável.
— Nenhum em mente. Por favor, não mudem o roteiro do passeio de vocês por minha causa.
— Já mudamos — Próspero. Delicado como levar uma pedrada na cabeça.
Por que eu ainda me surpreendia?
— Oh, me desculpe então, Sr. Valois.
— Estaríamos confortavelmente acomodados em nossa casa se não fosse por este desvio desnecessário e forçado.
— Ninguém obrigou o senhor a me buscar no Babillon, Sr. Valois. E se esse for o problema, basta parar o carro no próximo semáforo e terei o prazer de saltar.
— Muito pelo contrário, senhorita Dalton. Meu irmão gentilmente obrigou-nos a este desvio. E se agora, se depois de todo este infortúnio, quiser descer do carro; sugiro que use as janelas.
Nossos olhos se encontraram pelo retrovisor em um duelo silencioso de segundos. Eu estava armada com minhas fatais sobrancelhas franzidas internacionalmente conhecidas na família Dalton (e que causavam aquela veia saltada na testa, como da minha ilustre mãe). E Próspero... Bom, podem imaginar bem o que a maldita sobrancelha dele estava fazendo. Criatura irritante do Tártaro...
— Já sei! — Lucas se soltou dos meus ombros e se pendurou no banco da frente, passando os braços ao redor do irmão. — Vamos para casa!
— Em Londres? — Collins riu alto.
— Não seja bobo, Collins. Vamos levar Kate até o nosso sobrado. Ela vai adorar conhecer o lugar e aposto que você vai amar mostrar seus dotes de cozinheiro pra ela. O que acham?
— Mais uma de suas brilhantes ideias, Lucas. Suponho que se tiver a chance, colocará a senhorita Dalton dentro de uma de suas malas e a levará para conhecer pessoalmente a nossa casa de verdade na Inglaterra — o Carma bufou e eu conseguia imaginar seus olhos revirando com a insensatez do mais novo.
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Orleans
Aktuelle LiteraturKaterina Dalton nasceu com algumas maldições: os genes azarados de sua família, um casamento arranjado e aniversários fracassados. Decidida a resolver pelo menos um de seus problemas, ela foge da ultrapassada tradição familiar para reiniciar na gran...