Quando aceitei o convite de Bruce para subir naquele carro e fazer uma viagem de algumas horas até York, imaginava que passaria um dia enfadonho tentando debater sobre as poucas probabilidades de um casamento forçado acontecer, ao menos no meu ponto de vista. Não me passou nem mesmo nos mais malucos pensamentos, que minha antevéspera de natal seria tão movimentada, tampouco recheada de pequenas e grandes surpresas.
Encarar Beatrice Fontaine, um zangado Sr. George Campbell e conhecer Janet Valois D'Orleans, era apenas uma parte do pacote de coisas surpreendentes que invariavelmente aconteciam comigo ao acaso. E a maior delas estava ali, segurando minha mão enquanto seguíamos um barulhento e risonho ruivinho através do corredor acarpetado que nos levaria de volta para a sala de jantar.
Ainda estava avoada demais para conseguir raciocinar como aquilo tinha acontecido, desde quando acontecia ou como acontecia; já que tudo que envolvia aquele homem tinha uma aura de mistério digno de um livro de Sherlock Holmes.
Naquele instante, estava lidando com centenas de borboletas raivosas no meu estômago e um sorriso absolutamente imenso, que não saía do meu rosto em nenhum momento, me deixando com aquele aspecto de muito mais boba do que geralmente costumo ser. Não tinha tempo para ficar conjecturando desde quando Leo Valois queria me beijar, nem se ele tinha alguma vaga ideia de que eu tinha me apaixonado por ele e sua arrogância e nariz empinado em algum lugar do trajeto maluco de encontros e desencontros que vinhamos tendo há alguns meses. Não, eu estava bem mais ocupada observando como minha mão era pequena junto da dele, que me parecia uma reflexão deveras importante.
E nem mesmo escutar a voz de Bruce Campbell logo que passamos pelo batente da porta, roubou aquela sensação acalentadora do meu peito.
— Finalmente. Achei que teríamos de montar um grupo de buscas para encontrar os três — Bruce bufou, parecendo desgostoso com a situação.
— Bruce está certo. Onde vocês estavam? — Juliet se aproximou com seu sorriso brilhante, roubando de Luke a mão do irmão mais velho. Discretamente, com alguns passos, ela levou Leo com ela e isso o obrigou a se desvencilhar dos meus dedos.
Confesso que senti mais falta daquele singelo toque do que esperei.
— Na biblioteca. Eu precisava caminhar um pouco e Leopold foi muito gentil em mostrar a gigantesca coleção da família. É um cômodo maravilhoso — expliquei gentilmente, porque não pegaria bem arrancar um dos sapatos para arremessar na cabeça loira e perfeita de Juliet imediatamente. Pegava bem um pouco de discrição.
— Eu acabei de encontrar os dois por lá. Nem demorou tanto assim — Lucas revirou os olhos com tamanho exagero pela nossa ausência e abraçou a mãe pelos ombros, assim que ela se aproximou do nosso pequeno grupo (se é que se pode chamar isso assim).
— Está se sentindo melhor, Kate? — os olhos de Janet se apertaram, como se ela precisasse de óculos para me enxergar melhor.
— Sim, estou muito melhor.
— Nota-se. Suas bochechas estão mais coradas agora, parece mais viva do que aquela garota pálida que saiu daqui. Isso é muito bom, bom mesmo. Agora você pode aceitar o meu convite para sairmos amanhã cedo.
— Convite? — examinei os rostos ao meu redor, mas ninguém parecia se recordar da parte em que Janet fez qualquer convite, menos ainda sobre a véspera de natal.
— Claro. Eu tenho certeza de que você vai adorar conhecer um pouco mais da cidade e do comércio, andar pelas ruas, ver a catedral. Não se pode ir embora de York sem visitar York Minster, pela boa Rainha! E é claro que até lá eu pretendo conseguir convencê-la a passar o natal conosco. — ela pausou, entreolhando-se com Bruce antes de preencher o conceito — Bruce também pode vir. Se achar correto, obviamente.
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Orleans
Fiksi UmumKaterina Dalton nasceu com algumas maldições: os genes azarados de sua família, um casamento arranjado e aniversários fracassados. Decidida a resolver pelo menos um de seus problemas, ela foge da ultrapassada tradição familiar para reiniciar na gran...