Tudo bem. Pode ser que eu estivesse louca mesmo quando digitei uma mensagem para Bruce Campbell sem levar em consideração todos os últimos acontecimentos da minha vida agitada e todos os pequenos bons motivos que diziam em letras garrafais de néon: "não confie nesse cara". Mas o desespero é irmão da loucura, ainda mais quando se trata de imaginar Kennedy Dalton desolado e privado de tudo que havia conseguido na vida apenas por conta de uma filha rebelde sem causa que acreditava que a liberdade de escolha é mais importante do que se casar com um cara bonito, rico e bem intencionado.
Não pretendia dar as costas para minhas convicções. Meu plano era ousado, mas casava muito bem com a ideia de Adria em partir para a casa de nossa avó no Louisiana. Claro que tinha seu preço, como deixar de passar as festas tranquilamente com minha irmã e curtir minhas férias que estavam sendo boas, na velha Inglaterra. Por isso, não conseguia dormir.
Depois da última mensagem que digitei, a tela do celular estava imóvel, apenas as horas seguiam mudando discretamente no visor. Bruce não respondeu mais nenhuma linha, nem mesmo titubeou para enviar um Okay qualquer para que eu soubesse que sim, ele viria conversar comigo no dia seguinte. Quando o sono começou a ganhar terreno e minhas preocupações pareciam ficar pequenas e distantes, o telefone tocou.
Uma telefonista sussurrante se desculpou por estar ligando naquele horário e ficou aliviada quando afirmei mais de duas vezes que estava acordada e não me importava pelo incômodo. Seguiu explicando brevemente sobre algumas políticas do hotel (que simplesmente não prestei atenção) e finalizou dizendo que eu deveria descer para receber um visitante que insistia em falar comigo.
Já passavam das três da manhã e Bruce Campbell estava andando de um lado para o outro do saguão do hotel, uma mão nos lábios, um pouco descabelado, mas impecavelmente bem vestido.
— Bruce? — me apressei a sair do elevador logo que o vi, apertando o cinto fofo do roupão na minha cintura.
— Kate... — ele apanhou as minhas mãos assim que se aproximou nitidamente exasperado — Você está bem?
— Com sono, despenteada, descalça, com um roupão de hotel, mas ligeiramente bem.
— Vim assim que você me passou o endereço. Por que não disse antes que estava em Londres? Eu teria vindo mais cedo.
— Exatamente por conta disso, Bruce — afastei as mãos dele e cruzei os braços — Pra você não vir antes.
— Oh...
Isso mesmo, acho que você captou a mensagem, Sr. Campbell.
Indiquei com os olhos na direção dos sofás que ficavam ao lado das belas janelas do Bristol e caminhamos em silêncio até lá, longe dos olhares curiosos do pessoal do hotel por trás do balcão na entrada. Acomodei minhas pernas em uma poltrona, enquanto Bruce ajeitava as mangas de seu casaco e evitava meu olhar, notando os enfeites e luzes natalinas do hotel.
— Desculpe por ter te tirado de York à uma hora dessas — recomecei o assunto.
— Não se preocupe. Eu estava sem sono e você me pareceu muito aflita com aquela mensagem. Gosto de dirigir a noite. Me faz pensar.
— Entendo...
— O que houve, Kate? Você disse que estava com sérios problemas.
— E estou. Não são problemas novos, mas um velho que precisa ser solucionado o quanto antes. E infelizmente, preciso de você para me ajudar nisso, Bruce. Até porque, você tem uma boa parcela de culpa nisso.
— Tenho? — ele sorriu, acomodando-se melhor no sofá. Não pareceu levar muito a sério a minha conversa de "problema grave".
— Tem.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Orleans
Ficción GeneralKaterina Dalton nasceu com algumas maldições: os genes azarados de sua família, um casamento arranjado e aniversários fracassados. Decidida a resolver pelo menos um de seus problemas, ela foge da ultrapassada tradição familiar para reiniciar na gran...