A casa de Magda

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Paramos no posto e como Manu disse o banheiro estava no mínimo utilizável, comemos e depois abastecemos o carro.

-Para onde estamos indo?

Perguntei, me dando conta que nem sequer sabia.

-Vou te deixar na casa da Magda.

-Bom, então vamos. O caminho é longo.

Falei entrando no carro, a casa de Magda é no Maine. É calmo e só eu e Manu, além da própria Magda sabe onde é. Ela escolheu criar seus três filhos no campo. Numa das áreas mais lindas desse país, eu a ajudei nisso, afinal ela cuida de mim como uma mãe. A senhora de cinquenta anos se mudou para lá logo depois da morte de seu marido, um bom homem que a amava como única na terra. Era lindo de se ver. Todas as noites, em sua humilde caminhonete, ele vinha buscá-la e trazê-la todas as manhãs, simplesmente para que ela não dormisse só em minha casa, e sim junto a ele. Seu Cristóvão era simples e orgulhoso, dez anos mais velho que Magda, trabalhador, todo dia cuidava de grandes jardins em New Hampshire. Lembro-me que teve uma parada cardíaca e morreu em casa, seus filhos Neil, Louis e Mary eram trigêmeos e estavam aos dezessete anos de idade. Sofreram muito quando ele se foi. Magda chorava tanto que mal conseguia me passar a notícia. Dei-lhe uma licença de um mês até que ela se recompusesse. Deveria ser uma dor sem igual, perder alguém com quem se conviveu todos os dias por trinta anos, amando, brigando, e construindo uma vida. Deve ter doído muito. Não consigo imaginar. Olhar para o lado na cama e simplesmente não ver seu amado lá, e saber que ele não vai mais voltar. Deve ser horrível, nos primeiros dias não querer acreditar que ele se foi, e ficar esperando-o voltar de seu árduo trabalho, te dar um beijo na testa e te abraçar com carinho. Para os filhos a dor deve ser igual, passar o réveillon, natal, aniversários e dia dos pais sem a presença de uma pessoa que é tão importante. Pensar nisso me dói o coração. Me imaginar sem meu pai ou sem minha mãe me deixa deprimida.

Afundo em meu banco e olho através da janela, o sol se pondo. Eu não podia ver meus pais, não teria coragem de olhar em seus olhos depois daquele vídeo. O quanto eu estava exposta... meu pai deve estar envergonhado de ter visto em rede nacional a sua filha gemendo como uma cadela. Chupando e sendo chupada por um homem. Deve estar com vergonha de sair na rua e ouvir seus amigos dizerem que a filha dele é uma vadia. Uma prostituta, e que provavelmente alcançou a riqueza com sexo. Lágrimas começaram a correr pelo meu rosto, e um soluço me escapou pelos lábios.

-Não chore Easy, vai ficar tudo bem.

Manu gentilmente tenta me consolar, mas é inútil.

-Não paro de pensar na vergonha que sou pros meus pais.

-Eu não concordo.- Ela começou.- Você sempre foi batalhadora, sempre teve honra, e sempre foi discreta. Naquele vídeo você está no seu quarto, na sua casa, com o seu namorado. Não há nada de errado em uma mulher fazer amor com o seu namorado. Você está sendo vítima de um perseguidor, não gravou aquele vídeo por vontade própria, sua casa e sua intimidade foram invadidas por um terceiro que tinha a intenção de te prejudicar.

Solucei.

-Mas os outros não sabem disso. Vão pensar que eu sou uma puta, vadia, que conquistei tudo me vendendo.

-Você sabe que isso não é verdade.

-E não é o suficiente.

Rebati.

-Olha, acho que você deveria ligar pra eles.

Fitei-a e ela estava focada em sua direção.

-Eles não vão querer falar comigo.

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