Após o bate-boca entre Mia e Mirella, decidi que era a hora de entrar no quarto novamente e quando o fiz dei de cara com a cena de Mia em prantos, deitada na cama descarregando toda a sua angústia no travesseiro, que estava enterrado no seu rosto. Fui até ela, não sabendo muito bem como proceder naquela situação. Eu já tinha consolado Mia diversas vezes, mas eu nunca sabia direito como agir, eu queria chorar com ela também, mas sabia que aquilo só pioraria as coisas, então eu apenas me sentei ao seu lado e tirei os cabelos que escondiam seu rosto. Ela me encarou e percebi seu rosto relaxar.
- Eu não aguento mais, Olívia – ela soluçava triste.
- Eu sei – digo a puxando para meus braços. Eu já tinha perdido a conta de quantas vezes Mia já tinha dito aquilo, de quantas vezes ela dizia que estava cansada dos surtos da mãe, que estava cansada de tanto chorar e depois sentir culpa por ter tratado a mãe daquele jeito. Ambas estavam desgastadas de tantas brigas e desentendimentos e isso machucava muito Mia. E eu só queria saber se Mirella sentia o mesmo.
- Você ouviu, não é?
Faço que sim com a cabeça um pouco desconfortável.
- Eu vou embora, de nada adiantou mentir sobre a Fernanda – anuncia Mia, derrotada.
- Você não pode ir – a acalmo, acariciando suas costas.
- Eu só queria que ela me entendesse, que parasse de pensar apenas no próprio umbigo – desabafa ela.
- Você sabe como são as coisas, talvez ela entenda com o passar dos anos.
Mia então sai do abraço e caminha até o espelho do seu guarda roupas, limpando as lágrimas na ação.
- Eu não vou ficar aqui.
- Hãn? – pergunto enquanto vejo fazer um coque com o próprio cabelo.
- Eu não vou ficar me preocupando com isso enquanto ela está lá achando que venceu. – diz ela calmamente.
- Mia... – repreendo.
- Vou pra casa da Fernanda.
- Ah é? E como pretende fazer isso? – contesto, levantando da cama para encará-la melhor – Mirella não vai deixar você sair.
- Vou pular – diz minha irmã indicando a janela do quarto como se fosse óbvio.
- Você não pode estar falando sério. – digo incrédula.
- Eu até poderia enfrentar minha mãe. Mas não seria tão engraçado quanto saber a cara que ela vai fazer quando ver que eu não estou aqui.
- Eu vou com você – digo, não sabendo se aquilo era a coisa certa a fazer no momento.
Mia me encara confusa, mas logo depois assente.
Então pegamos nossos casacos e celulares e nos preparamos para pular. Meu pai morava no segundo andar de um prédio de oito andares e mesmo não parecendo, era uma altura consideravelmente alta para simplesmente pular. A nossa sorte era que do lado da nossa janela existia um tipo de detalhe elevado que descia em diagonal até a sacada do primeiro andar.
- Coloque o pé naquela coisa que parece um degrau e então vá descendo, se apóie na parede e não olhe para baixo! – diz Mia apontando para o elevado ao lado da janela.
- Mia eu não sei se...
- Vai logo! – diz minha irmã, me empurrando.
Respirei fundo repensando se eu queria mesmo fazer aquilo. Era loucura!

VOCÊ ESTÁ LENDO
Cidades Incertas
Підліткова літератураDesde aquele dezesseis de julho, Blumenau se tornou um lugar cruel para se viver, o sentimento de culpa assombrava a cabeça de Olívia Queiroz causando uma série de turbulências emocionais.Três anos depois, a oportunidade de se mudar bate em sua por...