2 MESES DEPOIS
"Certa vez tiraram a vida de uma garota.
Mas ela continuou viva.
Porque continuava abrindo os olhos todas as manhãs;
sem saber o porquê de ainda estar acordada".
Uma brisa leve da tarde abafada de Itapema tinha ultrapassado o tecido fino do meu vestido, espantando por um curto instante, o calor resultante do nervosismo.
Eu não conseguia mais controlar a ansiedade!
Nunca imaginei que conseguiria. Eu não fazia ideia, apenas escrevi o que meu coração mandava. E isso tinha me levado até aqui. Eu tinha passado da segunda etapa como o melhor poema da escola São Tomás de Aquino, vindo a competir com os melhores das outras escolas.
Estávamos no Mirante novamente, acompanhada de Caio, Ágatha e minha mãe, hoje era um dia especial e eles decidiram vir para assistir minha apresentação. Breno por outro lado, ficou triste por não poder vir, o mesmo teria que fazer alguns serviços importantes para o pai, porém havia me desejado "toda a sorte do mundo" em uma mensagem minutos antes da minha apresentação.
Após todos os finalistas apresentarem seus poemas para os jurados, uma das organizadoras do concurso sobe no palco onde na minha memória, ainda estava vívida a cena de Fernanda cantando.
- Bom, antes de anunciar o ganhador do concurso, quero agradecer as escolas participantes, aos patrocinadores e também aos alunos que dedicaram seu tempo para este concurso. Muito obrigada! – a mulher sorri, mostrando os dentes brancos – E o vencedor que terá destaque especial no Jornal de Itapema é...
"Ela soube que não existia nada pior;
do que morrer por dentro;
e continuar viva por fora".
Cogito sobre minha apresentação. Eu poderia ganhar esse concurso? Teria chances? Bom, no começo confesso que gaguejei ao começar a ler meu poema para todas as pessoas aqui presentes, porém, em seguida foquei no poema mais uma vez, esquecendo do antigo receio de falar em público... e quando vi, tinha acabado! Palmas vieram depois, muitas delas. E pude ver não apenas minha mãe secando o rosto, o mesmo úmido, mas também um pequeno número de pessoas fazendo o mesmo, contudo, acreditei ser coisa da minha cabeça. Minha mãe adorava fazer um drama e era só isso!
Mas não era.
Porque agora as palmas estavam de volta me acordando para a realidade. Caio havia me puxado para um abraço de repente e eu permanecia aérea, parecia que o tudo estava em câmera lenta. As pessoas me encaravam sorridentes e eu olhei para a organizadora do concurso, a mesma estava olhando para mim numa expressão que dizia "Alô, Terra chamando Olívia".
Não.
Não podia ser.
Fiquei estática no mesmo lugar até raciocinar aquilo tudo – ou até minha mãe gritar alguma coisa nos meus ouvidos e Ágatha me empurrar para o palco.
É. Eu tinha ganhado aquele concurso.
E no momento em que os jurados me parabenizavam eu pensava que tinha que tomar alguma atitude. Reaja Olívia! Pare de parecer uma retardada!
- Parabéns Olívia! – volta a organizadora dos dentes brancos pra mim – Você emocionou a todos com a profundidade das suas palavras. Um poema com uma mensagem linda e essencial na vida de todos. Mais uma vez, Meus parabéns! – mais palmas são ouvidas e eu me pego chorando baixinho – Gostaria de dizer alguma coisa? – pergunta ela.
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Cidades Incertas
Fiksi RemajaDesde aquele dezesseis de julho, Blumenau se tornou um lugar cruel para se viver, o sentimento de culpa assombrava a cabeça de Olívia Queiroz causando uma série de turbulências emocionais.Três anos depois, a oportunidade de se mudar bate em sua por...