Cidades Incertas

Capítulo 28

- Eu só não entendo porque precisamos aprender essas coisas. Nunca vamos usar na vida mesmo! – debato enquanto quebrava a cabeça fazendo uma questão de matemática.

- Eu também me pergunto sobre isso, mas não importa porque precisamos aprender querendo ou não – Clara abre um sorriso enquanto voltava a ler o quinto capítulo sobre A Unificação da Itália.

Fazia uma hora e vinte e cinco minutos que estava na casa de Clara estudando para as próximas provas de recuperação. Já estava estudando a terceira matéria e faltavam mais duas, tinha chegado ao ápice de "não aguentar mais" quando percebi que me irritava com qualquer coisa e ficava montando justificativas do por que estava estudando aquilo. E por mais chata que estava, Clara sempre me respondia de bom humor.

Adorava essa menina!

Não só por isso, mas também porque ela não tinha me perguntado do meu sumiço na escola, o que eu achei até um pouco estranho porque tínhamos combinado de estudar e eu tinha desaparecido da escola dois dias depois, ela não teria um pouco de curiosidade em saber um pouco dos meus motivos ou sei lá? A única alternativa que achei foi que Breno deve ter comentado com ela o que minha mãe falou com Ágatha.

- Odeio estudar coisas que não quero – resmungo.

Ela ri pelo nariz.

- Você está cansada? – ela pergunta sem tirar os olhos do livro de História.

- Estou cansada de achar o "X" desse inferno, fala sério porque a matemática não se vira sozinha? Vai se fuder.

Ela gargalha dessa vez.

- Ok, podemos dar um tempo – responde ela largando o livro em cima da mesa de jantar da sua casa – Quer falar sobre alguma coisa? – questiona me encarando como se já soubesse o que eu ia "comentar".

- Annn... Eu deveria? – uma ruguinha de incerteza surge no meio das minhas sobrancelhas.

Ela cruza os braços encostando suas costas na cadeira de uma maneira desafiadora.

- Ah então vamos fingir que você não faltou todas as aulas após a escola inteira descobrir seu passado em Blumenau.

Engulo em seco.

- O que sabe sobre isso? – pergunto desconfortável.

- Nada, por isso estou te perguntando.

E agora? Eu contaria a ela sobre tudo o que aconteceu? Não, tudo... não.

- Eu precisei ficar uns dias fora... Enquanto esperava a poeira abaixar – omito pensando ser o suficiente, mas quando a encaro vejo a mesma esperando alguma possível continuação – O que aconteceu no passado... foi um acidente.

- Eu sei, acredito em você – diz ela me encarando profundamente com aqueles olhos.

- Acredita? – repito.

- Acho que não faria questão de algum envolvimento sobre esse homicídio.

- É, eu...

- Caio está preocupado com você – interrompe ela do nada.

- O que?

- Entendeu o que eu falei – responde ela revirando os olhos e sorrindo – Depois do seu desaparecimento ele adotou uma postura ansiosa e aflita. Pelo jeito você não falou mais com ele.

- É, nós nos desentendemos dias antes... Como... Como sabe sobre eu e ele?

- Breno comentou – responde ela sorrindo – Aliás, shippo muito!