Capítulo 20

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Sei que eu estava parecendo uma criança de cinco anos quando desafiava minha mãe, mas eu não estava com a mínima vontade de "me arrumar" para o tal jantar que ela tinha marcado com o "namorado" que até então eu não fazia mínima ideia da existência.

O clima aqui em casa não estava nos melhores depois do dia em que minha mãe jogou as palavras "namorado" e "jantar" para cima de mim, eu não falava muito com ela, apenas quando era necessário e isso totalizava numas cinco palavras a cada café da manhã, almoço e jantar. Depois disso eu subia para o meu quarto e não dava mais as caras, pelo menos até ela ir dormir.

Depois de eu completar a despedida de Rebecca e sua avó com um aceno de longe e fechar a porta cruzei a sala de estar – onde minha mãe se encontrava lendo um livro sentada no sofá – e fui fuzilada pelo olhar da mesma. Isso mesmo, aquele olhar que significava que você estava ferrada.

- Sente aqui mocinha – diz ela dando batidinhas no espaço vago ao seu lado.

Suspiro entediada com uma pontinha de medo do que estava por vir e sento ao seu lado.

- Acho que me deve explicações sobre ontem a noite, não é?

- Eu saí com Ágatha e Rebecca, algum problema?

- Ah não, não, imagina... A menos que esse problema signifique que você sai no meio da noite sem me avisar – responde ela.

Sim, eu não tinha avisado minha mãe que iria ir à PriHome. Por quê? Dois motivos: o primeiro era que ela já estava trancada no seu quarto na hora em que eu iria avisar. O segundo era que eu não devia explicações depois do que ela tinha escondido de mim. Fala sério, minha própria mãe esconder que estava namorando com um cara. Ela achava o que? Que eu iria lhe atirar pedras se contasse? Bem, acertou, pois agora, eu estava mesmo fazendo isso.

- Eu até pensei em te avisar, mas eu cheguei lá e então dei de cara com uma porta fechada, imaginei que já estaria dormindo. – digo dando de ombros.

Minha mãe me encara e por fim ressalta:

- A porta não estava trancada, Olívia. Você poderia ter entrado, sabe que não durmo logo. Onde vocês tinham ido?

- Numa festa, mãe.

- Eu acordei de madrugada para tomar um copo de água e adivinhe só, seu quarto estava com a porta escancarada sem nenhum sinal de vocês dentro de casa, TEM NOÇÃO DO QUÃO PREOCUPADA FIQUEI? SEM SABER PARA ONDE VOCÊS TINHAM IDO OU O QUE ESTAVAM FAZENDO? – grita ela agora com uma raiva visível.

Engulo em seco já me arrependendo do que tinha feito e então o lado defensivo e egoísta entra em ativa e eu rebato no mesmo tom de voz que ela estava usando.

- UÉ, VOCÊ PODE IR NUM ENCONTRO SEM AVISAR E EU NÃO POSSO IR NUMA BENDITA FESTA?

- Olívia, são duas coisas diferentes, por favor...

Ela é interrompida pelas minhas risadas irônicas.

- DUAS COISAS DIFERENTES MÃE? SÉRIO? Você nem poderia estar me cobrando isso.

- Nós já conversamos sobre isso, aliás, você precisa ir se arrumar, Alexandre estará aqui em uma hora – diz ela se levantando e dando as costas até a cozinha.

Levanto as sobrancelhas não acreditando na maneira como ela encerrou o assunto. Era só tocar na dita questão que ela saía correndo.

E agora estamos aqui: com a porta do guarda-roupa aberto cogitando em uma forma de parecer uma filha rebelde que está pouco se importando para o novo namorado da mãe.

Você tem mesmo 17 anos, Olívia? Fala sério, isso é ridículo.

Peguei a primeira camiseta do alto da pilha de camisetas que estavam amassadas em uma prateleira e a vesti: era uma camiseta velha de banda. E embaixo coloquei meu short de pijama cinza de bolinhas vermelhas. Encaro-me no reflexo do espelho e concluo: Eu estava incrivelmente horrível.

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