Capítulo 10 - Vadia Misteriosa

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Faço aniversário em vinte de setembro. Farei dezessete anos — sou apenas um ano mais nova que Shawn. Todos os anos passo os meus aniversários com meus amigos. Este ano será diferente. Não que eu não tenha amigos. Phoebe, Shawn, John, Ed e até mesmo Damon se tornaram uma boa companhia para mim.

Será diferente porque não sei o que irei fazer. Shawn e eu não conversamos sobre isso. Eu nem ao menos sei se ele se lembra...

Estamos no ônibus para o Rio de Janeiro quando minha mãe liga.

— Olá, querida — ela diz

— Oi, mãe — do outro lado de veículo, Shawn ergue as sobrancelhas para mim. Seu corpo está tenso, como uma corda esticada. Pela sua expressão, ele não acredita que esta conversa vá dar certo.

— Como vai a turnê?

— Bem — respondi, franzindo a testa — Por que?

— Só quero saber, não posso?

Assenti, mas logo lembro-me de que ela não pode me ver. Sussurro um "sim" quase inaudível.

— Só queria saber como você estava — ela disse — Ah, consegui a licença para que você possa retomar os estudos após a turnê.

— Essa é uma ótima notícia! Como vai Joaquim?

— Seu sobrinho está enorme, Katherine. Você estaria tão orgulhosa se estivesse em casa.

— Não diga como se eu nunca fosse voltar — revido os olhos — Estamos em setembro. Teremos uma pausa para o Dia de Ação de Graças e o Natal.

— Vocês irão trabalhar no réveillon? — perguntou, incrédula.

— Sim... Temos uma apresentação.

Observo Shawn. Ele continua me olhando, mas desta vez há uma caneta em sua mão. Ele aperta seu botão diversas vezes, como se fosse um tique nervoso. Retribuo seu olhar aflito.

— Não. Você passará as festividades com a sua família. Entendeu, Katherine Grace? Você está liberada a partir de meia noite. Mas você passará a virada do ano conosco.

— Mas, mãe...

— "Mas" nada! Está dito e pronto.

Eu bufo. Será que apenas uma vez ela poderia me escutar? Lembro-me a quanto tempo não vejo meus pais. Sinto falta da figura baixa e cheinha de minha mãe. Meu pai era seu oposto: alto e magro. Todos afirmam que me pareço muito com os dois; tenho o físico de meu pai e o rosto de minha mãe.

— Tenho que ir — minto.

Nós nos despedimos e ela desliga. Percebo o quão fácil ela faz com que eu perca a cabeça; a virada do ano só acontecerá em três meses e ela já esgotou a minha paciência. Mães...

— Qual foi a da vez? — indagou Shawn, sentando-se na beirada da cama. Neste ônibus, não temos um beliche. Durante a turnê na América do Sul, teremos que alugar um jato. Graças ao grande destaque no mundo da música, ele tinha dinheiro o suficiente para pagar por isso, enquanto a produção se locomoveria em voos normais.

— Ela insistiu para que eu passasse o ano novo em casa

Ele riu.

— E eu não deixaria que você passasse em nenhum outro lugar.

— Mas temos uma apresentação no dia — rebato.

— Férias coletivas, Kath. Até John estará em casa neste dia.

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