A semana passou se arrastando. Trabalhei até tarde todo dia, mas estava quase tudo pronto. Só faltava fazer o relatório da viagem para Atlanta.-Anna, o pessoal vai beber alguma coisa aqui no bar da esquina, vamos? - Disse a ruiva, tão bem arrumada que me peguei encarando alguns segundos. Eu podia sentir seu perfume da minha mesa. Não tinha visto ela hoje o dia todo.
-Não, Linda, ainda tenho que terminar isso. - Falei, já exausta de toda aquela semana.
-Menina, você precisa descansar um pouco. O Jorge me falou que você saiu quase 22h todos os dias. Deixa isso aí, você termina depois..
-Só falta o relatório da viag..
-VAMOS! - Ela bateu o pé, toda mandona.
Estava na cara que eu não ia ganhar essa. Jorge era o segurança da empresa. Linguarudo! Juntei tudo que precisava e sai com ela, que enroscou seus braços nos meus como se me segurasse para que eu não fugisse. Óbvio que eu iria trabalhar no final de semana. Espero que o Rony entenda.
-Cade a Mari? Não a vi saindo.. - olhei ao redor para tentar achar a guria mais inocente e tímida que eu já havia conhecido.
-Mari já foi, Anna, faz tempo. Você está tão afundada no trabalho, que nem vê o que acontece ao redor. - Linda era ótima em chamar minha atenção por qualquer coisa. Parecia uma irmã mais velha.
Mandei mensagem pro Rony avisando que estava no bar, mas o cretino só respondeu com um "ok".
-Argh.. - bufei.
-Que foi, Anna?
-Nada, Linda. Estava avisando ao Rony que estamos aqui. - Falei, da forma mais descontraída que pude, querendo fugir de qualquer conversa sobre o assunto. Pra ser honesta, por mais que eu o amasse, as vezes ele era frustrante, não esboçava reações e aquilo me incomodava.
-Hmmm... Anna, ele te faz feliz? - Vi uma real preocupação em sua voz, enfatizada pela fina ruga que se formou em sua testa.
-Faz sim, Linda. Eu sou feliz com ele. - E era verdade.
-Vocês vão se casar, é isso que você quer pro resto de sua vida?
-Sim, claro que é! - É? É. Eu sei que é...
Linda sabia que eu era uma sonhadora assumida e achava que eu tinha que ir atrás de realizar tudo que morava em meu imaginário, mas aquilo não era o mundo real. Eram ilusões. Doces e encantadoras ilusões, mas nada além disso. E outra, eu estava noiva!
Rony é um cara caseiro, calmo e me ama, apesar de nunca demonstrar ciúmes nem nada do tipo. Eu sei que isso é melhor que um noivo ciumento, que encana por tudo e qualquer um. Ele tem um corpo mediano, é um pouco musculoso por casa do basquete que jogava quando ainda estava na escola, tem o cabelo castanho e o olho cor de mel mais doce que já vi. Adoro vê-lo sorrindo, é encantador quando aquelas covinhas aparecem. Eu gosto dessa tranquilidade que ele tem, me passa segurança. Claro que sinto falta de um pouco de animação, mas não podemos ter tudo. Podemos? É, acho que não...
Vez ou outra saíamos sem rumo, pelo menos costumávamos sair. Hoje ficamos mais em casa, estamos tentando economizar para o casamento. É muita coisa, é muita conta e é tudo tão caro. Como pode um simples bolo duplicar de preço só por que é para um casamento? E o vestido? Quase compro uma moto só com o aluguel, se for comprar um, deve valer o preço de um carro.
-Anna? -ouvi uma voz grossa me chamar, me tirando dos meus pensamentos. - Anna, quanto tempo!!!
Me virei rapidamente do balcão, quase deixando a cerveja cair do copo. Eu não queria acreditar no que via. Era o Paulo, meu primeiro namorado. Como ele estava ótimo. UAU!
- Paulo? Meu Deus, quanto tempo! Como você está?
-Bem e você? O que faz aqui?
-Estou bem também, vim com o pessoal do serviço.
-Trabalha aqui perto?
-Sim, aqui na Brooks e você? O que faz aqui?
-Sou advogado, Anninha, vim me encontrar com um cliente. Soube que fez secretariado. Aquele seu antigo chefe fez sua cabeça mesmo, hein?
-Que nada, se não fosse por ele, estaria formada em outra profissão, mas ainda fazendo o que faço. Já acabou sua reunião? Quer se sentar com a gente? - Mas... o que eu estou fazendo convidando meu ex para ficar com a gente?
-Tem certeza? Quero dizer, seu namorado pode não gostar.
-Noivo. Mas ele não está aqui... e se tivesse, nem ligaria. Vamos!! - Ah, meu Deus. Da onde veio isso?
Apresentei Paulo para o pessoal, sem deixar claro de onde nos conhecíamos. Isso não vinha ao caso. Exceto para Linda, aquela mulher percebia tudo, era impossível esconder algo dela.
Uma hora depois, Paulo já havia ido embora e eu estava me despedindo quando Linda me puxou de lado, exigindo saber de onde eu conhecia aquele deus grego tão simpático que estava conosco há pouco.
-Foi meu primeiro namorado, Li. Não o via... - Nem consegui terminar de falar.
-Oi? Sério? Você viu aquilo tudo, Anna? VIU? Já vou pegar meu Santo Antônio na gaveta e... Você não se importa, se importa, Anna? - Perguntou sem sequer tentar esconder o desejo nos olhos ao falar dele.
-Não, Li.. é todo seu! - Falei com sinceridade.
O alvoroço da Linda também não era pra menos. Ele sempre foi muito bonito, mas PUTA QUE PARIU, ele estava muito gostoso. Estava com a barba por fazer, visivelmente andou malhando, pernas e braços bem torneados, e aquela bunda? Um bronzeado suave, um sorriso enorme. Que tentação. Mas Paulo era passado e eu sabia disso. Então porque não deixar a Linda ser feliz, né? Essa mulher tem um fogo no rabo, que nem o Diabo dá conta.
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Ela quer mais.
RomanceE de repente tudo desmorona e você percebe que aquilo não era o suficiente. Você quer mais. Não, não é pedir muito! Anna é uma mulher que sai de um relacionamento e, pouco tempo depois, conhece alguém que a faz sentir algo que ela nunca sentiu ante...