Vivi

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Acordei melhor. Não que eu tenha dormido muito bem, mas dormi um pouco, ao contrário da noite anterior. As olheiras já estavam menores, mas ainda ali pra me lembrar como fazer um cosplay de panda muito bem feito.

Eu precisava parar de pensar no Rony e no que ele fez, tinha que estar bem pra reunião com a Silver e o voo era amanhã. Essa viagem até que veio na hora certa. Novos ares iam me ajudar bastante a entender tudo e esquecer essa palhaçada toda. Fiquei até surpresa por pensar nisso, levando em conta os arrepios que eu sentia na nuca há 2 dias toda vez que lembrava da viagem. Acho que era medo da reação do Rony. Mas que reação, não é, mesmo? Já que ele não tinha mais nenhuma. E que Rony?

Cheguei mais animada no serviço, dei bom dia a Mari, liguei meu computador e Linda já estava em minha mesa. Nós 3 conversamos sobre a noite anterior e sobre Linda e Paulo. Eles iriam sair no sábado. Ah, essa Linda!

-Certeza que você não se importa, Anna? - ela disse me olhando nos olhos. Senti honestidade e preocupação na voz dela.

-Vai, Linda, não seja boba. Ele é um cara ótimo. - Ele era imaturo na época, mas parecia bem melhor agora. E eu realmente não me importava. - Você merece alguém bacana! - falei e bebi um gole do meu café.

-Você parece melhor hoje, Anninha. - Mari parecia feliz por isso.

-E estou, Ma. Graças a vocês duas. Obrigadas, meninas. - falei com toda sinceridade. - Percebi ontem que eu quero mais do que o Rony me oferecia.

-E merece. E ele não merece suas lágrimas. Se eu fosse você, achava um cara gato nessa viagem e ficava por lá mesmo. - Linda sendo Linda.

-Não vamos exagerar. - falei rindo da ideia.

...

O dia passou mais lento do que eu gostaria. Eu tentava não pensar em Rony e na viagem de amanhã, mesmo assim, deixei tudo arrumado para que Mari não tivesse muito trabalho enquanto eu estivesse fora.

Chegando em casa, me dei conta que não vira Rony desde nossa briga, na terça. Ele nem se deu ao trabalho de vir atrás de mim. Não que eu quisesse, mas isso fazia eu me sentir ainda mais idiota. Como eu ia me casar com alguém assim? Como eu poderia ter ignorado tudo isso? Quão iludida eu estava?

Eu sempre fantasiava com uma vida perfeita, bobagem, eu sei. Mas de uns tempos pra cá, eu acho que não era só fantasia, acho que era falta mesmo. Faltava paixão. Faltava alguém que me tirasse o fôlego, que me fizesse querer largar tudo, deixar tudo pra trás e correr sem rumo. Precisava encontrar alguém que me tirasse da rotina, que virasse meu mundo de ponta cabeça.

-Preciso de uma aventura. - pensei alto. - Eu mereço!

-Merece o que? - perguntou Vivi, curiosa.

-Mereço mais, Vi. - fui convicta.

-Aleluia, hein? Até que enfim. - sabia que ela viria com um "eu te avisei". Pelo menos esse foi sutil. - Já arrumou suas coisas pra viagem amanhã? Posso te ajudar, se quiser.

-Claro, enquanto arrumamos, me conta como foi sua viagem. Desculpe não perguntar antes... - falei sem jeito.

-Que isso, Anna.. entendo. - e assim ela começou me contando de cada maravilha que havia naquele país. Desde as temperaturas extremamente frias que quase a fizeram virar um picolé, até os caras mais gostosos da sala dela. E como ela havia ficado com um deles. Eu queria detalhes. Detalhes sórdidos. Eu adoro os detalhes sórdidos. Mas ela prometeu contar depois.. e seguiu contando em como pagou mico ao cumprimentar alguém com o nosso beijinho no rosto, explicando que lá, quando não se conhece a pessoa, sempre se cumprimenta com um aperto de mão e um "enchanté". Fazia até biquinho pra falar. Tagarelou a noite toda: como levava chamada de atenção quando entrava com o sapato dentro de casa, da organização do canadenses, do café que mais parecia uma água de batata, da facilidade deles de perguntarem coisas íntimas, o horário que eles jantavam. Conversamos tudo que devíamos ter conversado no dia que ela chegou.

Ela finalmente começou a me contar os detalhes mais sórdidos. Já era pouco mais de meia noite e resolvemos abrir o icewine que ela trouxe. Uma delícia. Me divertia enquanto ela contava as peripécias que aprontou com Juán, o cara que ela conheceu lá. Ele era mexicano e muito caliente, de acordo com ela, eles pegaram fogo.

Ela quer mais.Onde histórias criam vida. Descubra agora