Ainda não era nem 18h e Linda já estava nos esperando, apoiada na minha mesa com um ar de autoritária, como se fossemos fugir dela. Bem, ela estava certa! Mari tentou 2 vezes, sem sucesso. Eu nem me dei ao trabalho, um pouco de álcool ia me fazer bem. Saímos as 3 do serviço as 18h em ponto. A Linda toda animada, a Mari resignada e eu quase parecendo um zumbi.
Mal chegamos na lanchonete e dou de cara com Paulo. Linda se acendeu como uma árvore de natal. Mari e eu trocamos olhares cúmplices e fomos nos sentar em uma mesa no canto do bar. Ele acabou se sentando conosco a noite inteira. Dessa vez eu não me sentia culpada e consegui olhar melhor pra ele. E eu não estava enganada. Ele estava muito bonito e continuava charmoso e engraçado. Não consegui me lembrar os reais motivos que nos levou ao término, mas também não fiz questão de continuar com essas lembranças por muito tempo. Minha mente divagava. Enquanto eles bebiam e conversavam, eu ficava imersa em meus pensamentos, pensando na minha cegueira absoluta e talvez na necessidade de comprar uma bengala.
-Anna, está tudo bem? - Paulo me tirou dos meus devaneios. - Pra que uma bengala? - Opa, falei isso alto? Mesmo? M-e-u D-e-u-s!
-Pra minha cegueira, Paulo. - falei com um sorriso sem graça, enquanto passava o dedo pelo copo gelado. Ele estava muito mais maduro agora. Inspirava confiança, ou eu é que ainda não tinha desabafado o bastante. Mas também não o faria com ele, não seria oportuno.
-Que cegueira? - Ele estava visivelmente confuso. Olhava pra mim como se eu fosse uma incógnita.
-Nada, Paulo. Esquece! - falei enquanto tomava um gole da minha batidinha de morango. Tentei parecer casual, como se não fosse nada importante.
-Ela não está mais noiva, Paulo. O filho da puta traiu ela e eles terminaram.. Cretino, né?- a Mari falou parecendo alterada. Arregalei o olho pra Linda, que me devolveu o mesmo olhar. Ficamos alguns segundos sem reação, e eu não sabia se era pelo palavrão, pela naturalidade que aquelas palavras saíram de sua boca ou pelos dois. Quem deu álcool pra Mari? Ah, nós!
-Sinto muito, Anna! - ele parecia sincero. - Quer conversar? Tem algo que eu possa fazer? - flashs do tempo que namorávamos passou pela minha cabeça e eu lembrei que era a imaturidade dele que nos fez terminar. A dele e a minha, talvez. Achei por certo recusar qualquer oferta pra não gerar desconforto nem mal entendidos, já que ele e Linda estavam, claramente, interessados um no outro. Eu achava que Paulo estava muito gostoso, sim, mas não sentia interesse nele. E não queria que parecesse ao contrário.
-Tudo bem, Paulo. Tem coisas que acontecem pra melhor. Vamos pedir mais uma rodada? - tentei mudar de assunto e parecer mais animada.
Conversamos a noite toda e me permiti rir um pouco. Na verdade, ri mais do que imaginava. Vi a troca de olhares entre Linda e Paulo, e fiquei feliz com aquilo. Será que Paulo conseguiria conquistar Linda? Entre nossas conversas animadas e a Mari bêbada com meia taça de batidinha de morango, percebi que aquilo realmente foi pra melhor.
Eu sentia falta de algo mais. Eu queria mais. Eu precisava sentir emoção novamente. Eu queria sentir algo avassalador. Alguém que me afetasse só com sua presença. Que me fizesse sentir calafrios ao menor toque. E então eu percebi que já não estava mais apaixonada pelo Rony. De repente me peguei pensando se realmente o amava ou se era rotina. Não sabia a resposta, mas me senti livre como não me sentia há muito tempo. Devia ter frequentado mais o bar. Talvez tivesse chegado nessa conclusão antes e evitado tudo isso!
O excesso de bebida já estava incomodando minha bexiga quando levantei par ir ao banheiro. Passei pelo meio da pista de dança improvisada no meio do bar, em volta continha aquelas mesas mais altas, mas não havia cadeiras ou banquetas. O pessoal mais animado ficava em pé ali, as vezes dançando, as vezes só bebendo. No trajeto até o banheiro um cara me segurou pelo braço. Ele era loiro, magro, mas não tinha porte atlético, sem barba, olhos castanhos, ele não era lindo, mas era ok, pelo menos para o meu gosto.
-Desculpe, gata, mas... você é linda! - percebi que ele também estava meio alterado.
-Obrigada, com licença.. - falei sem graça e tentei sair dali as pressas. Terminei meu noivado ontem, está certo que me sinto mais leve, mas aí já é demais, certo?
-Me dá seu telefone? - Quem hoje em dia pede o telefone? Não é mais o facebook? Faz tanto tempo que não faço isso..
-Desculpe.. mas não. - fui direta querendo sair dali logo.
-Por que? - insistente!
-Acabei de sair de um relacionamento... - fui diminuindo a voz, deixando claro que era só isso que eu ia falar enquanto saia dali.
Estava com um sorriso no rosto quando olhei no espelho do banheiro. Era isso. Era isso que eu sentia falta. Do interesse, da conquista...
Voltei para mesa como se nada tivesse acontecido. Parecia que ninguém tinha visto aquilo, melhor ainda! E eu me sentia mais animada. Estranhamente mais animada.
Como eu poderia me sentir menos mal no dia seguinte após romper meu noivado? Não era assim que as coisas funcionavam. As pessoas ficavam na fossa por alguns dias, semanas até. O que havia de errado comigo? Será que era errado me sentir assim? Parecia que eu carregava a culpa do mundo nos ombros.
Oi, pessoinhas lindas. Como estão?
É difícil ver alguém que está certo se culpando, né? Achando que não pode ou não tem direito de se sentir daquela forma, de fazer isso ou aquilo. Nos capítulos anteriores teve alguns comentários sobre Anna se sentindo mal por encontrar o ex no bar. A @BlackFenixx, a @LauraMaia90 e a @JoanaThomaz fizeram comentários bem certeiros sobre isso.
Se é ruim na ficção, imaginem na vida real!!
Há muitas mulheres (e homens também) em relacionamentos tóxicos e abusivos que vivem se culpando pelos mais diversos motivos. Pelos erros dos parceiros, por violências, por ataques de ciúmes... Mulheres que têm sua liberdade roubada, que vivem com medo, que precisam de permissão pra tudo. Sempre justificando os abusadores, inventando uma desculpa por eles. Muitas delas sequer percebem o que acontece, o que estão vivendo e o que passam.
Então, se você vive ou conhece alguém que vive algo assim, bora denunciar? Conversar com a pessoa? Propor um acompanhamento psicológico? Algo que a ajude. Que tal?
Esse não é o enfoque do livro, mas achei válida essa observação. E desculpem-me por demorar tanto aqui.
Curtam, comentem e me falem o que estão achando do livro até agora!
Beijos :*
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Ela quer mais.
RomanceE de repente tudo desmorona e você percebe que aquilo não era o suficiente. Você quer mais. Não, não é pedir muito! Anna é uma mulher que sai de um relacionamento e, pouco tempo depois, conhece alguém que a faz sentir algo que ela nunca sentiu ante...