CAPÍTULO IX O DESAPARECIMENTO DO ANEL

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Raimundo não estava mais ali. Então Seu Mario foi até a cozinha para tomar um pouco de água ainda tentando se recuperar do terror a que tinha se submetido. Era duas horas da tarde, e o calor não dava trégua. Olhou para fora e viu Maria confortavelmente deitada na sombra, buscando se refrescar.

Voltou-se para a saca de farinha para tomar o anel e quase enfartou quando viu que ela não estava ali. Saiu tateando as paredes olhando o chão. Foi até ao quarto procurando.

_Minha saca de farinha! Minha farinha! Berrava.

Passou as duas mãos na cabeça, encurvou-se um pouco e apoiou-se nos joelhos. Quase desmaiou. Onde foi parar a farinha? Quem a levou? Estava desesperado.

_ Perdi o anel, perdi. Oh coisa mais sem jeito. Misericórdia meu Deus! Quase chorava o velho.

Um pouco depois o sangue foi esfriando e Seu Mario pôde organizar melhor as ideias. Só podia ter sido Raimundo, foi o último a ver antes de passar mal e adormecer. Não pensou em mais nada. Correu para onde estava Maria e a fez levantar. Explicou rapidamente a situação e pediu que o levasse ao Bate Pau o mais rápido que conseguisse. Mal tinha subido no lombo de Maria, um carro encostou à porta de sua casa. Era Raimundo que acabava de chegar. O velho desceu lentamente da amiga e mais lentamente ainda foi caminhando até a casa. Parou no meio do caminho quando viu o filho abrir o porta-malas e retirar de lá uma saca de farinha ainda fechada.

Neste momento acelerou o passo e antes mesmo de chegar já começou a gritar com Raimundo em tom de choro:

_ O que você fez meu filho? Cadê minha farinha?

_ Oxe pai, que avexamento! Bora entrar, bora.

O carro arrancou sem que Seu Mario pudesse ver se a outra saca estava ali.

Quando entraram Raimundo contou a Seu Mario que havia ido à Riachão procurar Totonho para trocar a farinha ruim que o pai comprara por uma farinha de qualidade. Abriu a saca e tomou nas mãos um punhado. Pediu ao pai que provasse. Mas Seu Mario pouco estava ligando para a qualidade da farinha e se a outra tinha carunchos ou o que fosse. Tinha interesse mesmo era no anel. Raimundo não parava de falar da qualidade desta e do quanto o Totonho havia se desculpado, mas Seu Mario já não ouvia. Esperou o filho terminar e depois disse que iria dar um passeio para espairecer.

Maria já tinha adormecido novamente quando Seu Mario voltou a perturbá-la. Levantou contrariada, queria dizer-lhe poucas e boas. Só procurava ela quando queria bater perna, amizade não é isso não. Velho interesseiro. Queria falar tudo isso, mas apenas se levantou e foi calada e emburrada pelo caminho proposto por Seu Mario.

O caminho este, era o de Riachão. Não esperaria nem um segundo só. Tinha que ir ao resgate de seu tesouro.

Logo depois de sair da cidade, Seu Mario sofreu o calor. E Maria então que o diga, botava a língua pra fora e reclamava. Andavam uns metros e paravam. Seu Mario quis desistir, mas pensou que desistir de ir a Riachão também poderia significar o fim do sonho do anel. E pôs-se a pensar no sonho que tivera há pouco. Naquele momento sentia saudade do palácio. Ficava imaginando as regalias que o cercava e isso lhe dava ânimo para prosseguir. Maria, porém, não tinha no que pensar. Ficava apenas imaginando a sombra da árvore de onde fora bruscamente arrancada e vez ou outra fazia menção de dar uma mordida no autor deste crime.

E entre estes pensamentos e outros chegaram à venda de Totonho no Mercado Municipal de Riachão quase sete da noite.

Depois de arranjar água para Maria beber e também para si Seu Mario foi tentar restituir a sorte que há pouco havia perdido.

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