CAPÍTULO XI A INVESTIGAÇÃO

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Seu Mario dormiu aliviado àquela noite. Estava em paz. O anel recuperado dava-lhe a sensação de que as coisas entrariam nos eixos outra vez e dava-lhe tempo para estudar o que fazer dele.

Que dias intensos! E pensar que a vida reservara tudo aquilo para o fim de seus dias. Não que a vida fosse besta ou sem aventura. Decerto que não. Mas aquela era, sem dúvida, a maior de todas as suas aventuras. O coração nunca esteve tão vivo, tão incendiado.

Começou a bocejar e desejou do fundo da alma voltar para o palácio onde esteve no outro sonho. Contudo, mal pareceu ter fechado os olhos o dia amanheceu, sem nada trazer à memória de qualquer notícia de seu reino. Acordou bravo com isso.

Eram dez horas da manhã. Dilce já havia passado por ali. Quando abriu a porta para deixar as coisas para o café da manhã de Seu Mario quase caiu de costas ao deparar-se com aquelas sacas de farinha reviradas bem no meio da sala. Mas não acordou o sogro para saber o que era aquilo. Deixou o assunto para Raimundo resolver mais tarde.

Seu Mario levantou-se, deu uma escarrada no pinico e foi para a cozinha. Ao abrir a janela viu não poucas pessoas indo em direção à igreja. E um burburinho desenfreado na Rua.

"E agora? Que raio é isso?" Pensou, desconfiado.

Deixou para lá o café e todo descabelado atravessou a rua. Precisava saber o que estava acontecendo. Chegou até Maria, que nada sabia também, e ficou esperando alguém passar por ele para perguntar. Passou um menino:

_ Menino, que ta acontecendo?

_ É o delegado! Vai prender o ladrão do anel do rei! O menino todo excitado respondeu.

Seu Mario deu um nó na garganta. Deu um tapinha na barriga de Maria e voltou correndo para dentro de casa. A porta que sempre deixava aberta foi fechada desta vez. E só não fechou a janela da cozinha também por querer espiar a movimentação.

Não demorou nem dez minutos bateram na porta fechada, quase matando Seu Mario de susto.

_ Seu Mario, Seu Mario! Acorde, Seu Mario!

Era Varela, um policial militar que era amigo de Raimundo. Seu Mario, todo atarantado, deu a volta nas sacas de farinha e atendeu a porta. Com cara de cismado e sem abrir toda a porta, Seu Mario, respondeu:

_ Foi o que Varela?

_ Oh Seu Mario, o doutor Adubaldo manda lhe chamar lá na igreja.

_ Oxe, vai rezar comigo, é?

Varela riu e depois em tom mais sério prosseguiu:

_ Seu Mario, não sei se o senhor está sabendo. Houve um roubo em São Paulo de um anel que estava exposto num museu. E acontece que o bandido fugiu pra cá e perdeu o tal anel por aqui. Agora a policia federal mandou o doutor interrogar os cidadãos da Rua pra saber se há pistas sobre o tal anel, entendeu?

_ E eu é que sei, é?

_ Seu Mario, é melhor ir. É pro seu bem. Todo mundo é tido por suspeito e o doutor quer porque quer prender alguém para entregar à Federal, viu? Então vá, se explique direitinho e fique tranquilo.

Seu Mario acenou dizendo que já ia.

E agora como seria este interrogatório? O que iam perguntar? E se desse algum vacilo e desconfiassem dele? Seu Mario estava visivelmente perturbado. Não deveria entregar o anel àqueles salafrários. Todos eram bandidos. Iriam ficar com anel para si ou vender e ficar com o dinheiro. Corruptos, corruptos. A cabeça de Seu Mario ia girando nestas questões.

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