Prólogo - Século 14

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                  Uma fresta de luz passava pela janela e penetrava através das finas cortinas de seda rosa, era inverno, o quarto estava frio, mesmo com a lareira acessa, e assim como todas as manhãs daquele inverno rigoroso essa seria mortalmente fria. Ela abriu seus olhos lentamente, mas continuou deitada, absorvendo o clima gélido, era manhã do dia 11 de janeiro, feriado na cidade. Hoje o dia seria de festividades, mas ela se sentia totalmente fora do eixo e desestimulada para as festas que se seguiriam no dia.

                 Mas ela precisava a aparecer.

                Ela era a princesa, futura governante daquele lugar.

               E Magdalena logo bateria na porta com todos os apetrechos que ela usaria hoje.

               A herdeira saiu da cama e foi até a sua penteadeira, se apoiou diante de sua bacia e jarra de água e lavou o rosto, buscando tirar todo o cansaço que transparecia, ela não podia parecer cansada ou chateada, ela era o exemplo de senhorita, a moça que todas as outras queriam ser... Todos seus atos eram seguidos por todas as outras jovens, era esperado que ela estivesse feliz e radiante, e era isso que ela iria fazer, afinal, de que outra forma ela poderia se comportar?

           Três batidas soaram a porta, vozes de duas mulheres podiam ser ouvidas, a princesa foi em direção a porta e a abriu, dando entrada para uma Magdalena com as mãos sobrenaturalmente ocupadas e para uma mãe usando um vestido gracioso e um cabelo espetacularmente preso em um coque apertado. As damas entraram, Magdalena foi em direção a grande banheira no meio do quarto da herdeira, a rainha veio em direção da própria filha.

         ─ Minha querida, hoje é a grande primeira festividade do ano! Como está se sentindo? – A Rainha perguntou.

        ─ Estou animada minha senhora! Mal posso esperar pelas atrações de hoje! – Ela mentiu, forçou um grande sorriso, e andou em direção à banheira, despiu seu longo e fino vestido de dormir, de seda branca, soltou seus longos e negros fios de cabelo da trança, fazendo-os cair em abertos cachos. A senhorita entrou na banheira com água aquecida enquanto Magdalena espalhava as ervas que dariam um cheiro agradável tanto a água quanto a moça.

          A elegante e altiva rainha caminhou até a banheira, parando ao lado da serva que ajudava no banho da princesa, ela estava achando o comportamento da filha muito estranho, indigno de uma moça que deveria ser o exemplo de alegria do reino, a futura rainha não poderia agir assim, e era dever da mãe alertá-la.

          ─ Marie, você não parece feliz com o dia de hoje, aliás, venho notando esse seu comportamento vil e antissocial há muito tempo... O que está acontecendo? – A rainha questionou, usando seu tom autoritário de monarca e mãe, a herdeira levou seu olhar até a imponente mulher ao seu lado.

         ─ Nada, minha senhora, nada... Creio que estou começando a me sentir fadigada, em poucos dias estarei indisposta, e a minha senhora sabe que eu sempre fico assim nesses períodos. – A jovem mentiu novamente, ela estava dias de indisposição. A rainha e mãe da donzela mostrou um olhar condizente, que após alguns segundos logo sumiu e foi substituído pelo sério olhar de autoridade.

         ─ Minha filha, isso não é desculpa, você sabe que é nosso dever, como mulheres, aceitar esse mártir, e nossa responsabilidade se torna ainda maior por causa de nossa linhagem, somos da realeza, o sangue azul desse lugar, devemos estar sempre com um belo sorriso no rosto, perante incômodos ou não. – A jovem esperou o infinito discurso de bons modos acabar, ela já sabia de toda aquela ladainha, ouvia a mesma coisa desde que tinha 14 anos, ela tinha 18 agora, já entendia suas responsabilidades naturais. Assim que a mãe se calou, a jovem levantou a cabeça novamente e respondeu com um casto "sim, mamãe" e voltou a esfregar a esponja em seu corpo.

Sina - A viagemOnde histórias criam vida. Descubra agora