Capítulo 4

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              Por mais incrível que pareça eu só viajei de avião umas três vezes na vida inteira, e sempre foram viagens curtas, mas extremamente agitadas. Na primeira vez, aos 10 anos, antes de meus pais morrerem, eu e eles viajamos para Gramado na época de natal. O voo foi traumatizante, quase todo turbulento, o avião chacoalhava tanto que meu estômago parecia a Sapucaí em desfile de carnaval. Na segunda vez eu fui para a Argentina sozinha, durante as férias de julho, e esse voo foi o pior de todos: o voo atrasou e consequentemente teve que mudar a rota e ai foi mais atraso, tivemos uma turbulência de uma hora e meia, com direito a perda de altitude e tudo mais. Cheguei a Buenos Aires totalmente sem estruturas. A minha terceira viagem só piorou: o avião realmente aparentou um problema técnico antes de decolar, todo mundo teve que sair e ficar esperando uma resolução para o problema, depois foi preciso mudar a rota de novo e, adivinhem... Mais turbulência! E dessa vez até os compartimentos superiores abriram, foi bagagem de mão para todo o lado.

Então na manhã de embarque, mesmo uma hora antes, eu ainda implorava para Elise desistir de me levar. Nós discutimos algum bocado, e mesmo assim, depois de tanto contrariar, eu me vi sentada nas poltronas apertando os cintos uma hora depois.

─ O que? Você tem medo de avião também? Quem em pleno século XXI, pelo amor de Deus, tem medo de avião? ─ Elise resmungava enquanto guardava a bagagem de mão e depois tomava lugar em sua poltrona.

─ Não sou eu o problema, é esse maldito passarinho motorizado que não gosta de mim! ─ Eu respondi roendo as unhas, Elise revirou tanto os olhos que eu perdi de vista suas íris.

─ Catarina, por favor, você está sendo ridícula. Turbulências são normais em qualquer voo, e até divertidas! Se imagine numa montanha russa. ─ Ela falou animada.

─ É! Uma montanha russa que tem nove mil pés de altura! Sério, sua demente, isso não ajuda! Que porcaria de psicóloga você é! ─ Fechei os olhos e coloquei a minha máscara para dormir em aviões, ela tinha dois grandes olhos azuis bordados, sempre vigilantes.

─ Quer saber? Vamos te deixar bêbada. Eu vou pedir uma dose de vodca para você assim que a gente decolar. ─ E foi exatamente o que ela fez, quando o avião alcançou a altitude e eles começaram a servir as bebidas, Elise pediu uma taça de vinho para ela e uma dose de vodca para mim e a cada gole que dava, eu realmente tentava não pensar que podia virar "papa de Catarina" a cada chacoalhada do avião.

Nós desembarcamos na França pouco antes das sete horas da noite, depois pegamos um táxi que nos levou para o centro de Paris, nós iríamos passar a noite no hotel e descansar, e no dia seguinte iríamos tomar um avião para Roma e de Roma iríamos de carro até Baltícia. Era realmente uma pena passar uma noite na cidade luz e estar morta, com um jet lag terrível, a cada passo que eu dava minha mente dizia "Catarina, aqui tem Luis Vitton original querida, vai fazer a festa... Lembra daquela bolsa Channel que a Valentina te mostrou? Então, aqui é bem mais barato", mas meu corpo dizia "Catarina, amiga, se joga... Na cama, vai dormir". No final o corpo ganhou totalmente da mente, quando chegamos ao hotel, que fizemos o check-in, a única coisa que eu pensava era em quão maravilhosa deveria ser a cama enorme que me esperava no quarto.

Eu dormi feito uma pedra, eu nem lembro direito o que eu fiz depois que passei pela porta do quarto, mas lembro de que um banho de banheira esteve envolvido. Sim, o hotel era cinco estrelas... A empresa onde Elise trabalhava sabia como tratar muito bem os funcionários. E então eu simplesmente pulei na cama e apaguei, agora aqui estava eu deitada como um vegetal enquanto o irritante celular de Elise gritava o toque do despertador.

Sina - A viagemOnde histórias criam vida. Descubra agora