Capítulo 5

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Eu tive de tomar banho no meio do quarto, escovar meus dentes dentro de uma bacia, lavar a boca com um estúpido copo de barro (barro!), vestir um estúpido, mas lindo, vestido medieval de cor púrpura, o decote era em V e bastante discreto, o apertado corpete vinha por baixo do vestido, as mangas do vestido eram curtas e na altura do ombro, o modelo assentava muito bem ao corpo, a única complicação era a necessidade de uma segunda pessoa para amarrar o vestido na parte de trás. Havia pérolas bordando o contorno do decote e desciam até os quadris, como um emaranhado de estrelas. Era lindo de morrer... Mas quente feito o inferno, eu sinceramente não sei como Elise esperava que eu passasse o dia com aquilo.

Assim que eu terminei de passar a última camada de rímel começamos a ouvir sussurros no corredor, os turistas já estavam saindo de seus aposentos para fazer o pequeno tour pela cidadela e logo depois pelo castelo, saímos do quarto e nos deparamos com uma enxurrada de gente vestida como se estivessem no século XIV, era divertido, mas assustador. Antes de sairmos peguei minha bolsa preta tiracolo, verifiquei se a chave estava lá dentro, assim como o celular, que graças a Deus tinha carregado totalmente, meu ipod, que infelizmente só tinha setenta porcento de bateria, os fones estavam plugados nele desde que saímos de Paris e eu o aposentei no fundo da bolsa.

─ Você realmente vai sair com essa bolsa super moderna? Está estragando sua fantasia. ─ Elise reclamou.

─ Bem, sim, eu estou usando minha bolsa super moderna, e nem venha reclamar quanto a isso, já aceitei demais dessa porcaria de "viver na idade média", eu ainda tenho direitos, e vou preservá-los, começando por poder usar minha bolsa. ─ Dito isso eu passei por ela em direção ao corredor, seguindo o fluxo de gente que iam em direção à saída. Nós realmente não sabíamos o que fazer ali, as opções eram basicamente: ir à feira, ir ao castelo, ir aos jardins do castelo. Depois de muito conversar decidimos começar pela feira da cidade.

Havia tendas espalhadas por uma rua que deveria ser larga, mas que por causa das ocupações agora se tornava estreita, existiam mais quatro ruas no mesmo esquema e no final cada uma delas terminava numa praça onde havia um enorme chafariz rodeado de pequenas palmeiras e bancos de madeira. Havia canteiros irregulares ao redor do chafariz, provavelmente ali estiveram plantadas algumas flores ou outros tipos e plantas que foram desgastadas com o tempo... Ou então o arquiteto encarregado de reconstruir a cidade achou melhor arrancar as plantinhas e substitui-las por cimento.

Sim, claramente um gênio.

Elise nos levou em direção a uma tenda onde vários tecidos eram expostos, meu lado estilista foi ativado e eu comecei a analisar cada um, a textura, a maciez, a cor, que era muito viva, por sinal, como eles faziam aquilo? Na idade média não existia tinturaria, óbvio... Eu tinha estudado isso em história da moda, mas eu não conseguia me lembrar como eles faziam aquilo.

Depois da tenda de tecidos fomos para a tenda de frutas, eu estava morrendo de fome e comprei uma maçã que parecia realmente deliciosa, a única coisa que Elise fazia era olhar para as frutas e pegá-las, como se fosse aquelas damas da idade média... Era muita exibição para uma pessoa só.

─ Elise, amiga, para que tá feio. ─ Eu falei quando ela se aproximou o suficiente e parou com a encenação.

─ O que? Você não tem o direito de permanecer com sua bolsa moderna? Então eu tenho o direito de fingir ser uma dama de companhia da idade média, princesa.

Espera... Ela me chamou do que?

─ Princesa? Então quer dizer que você finalmente admitiu minha superioridade sob você? Muito bem. ─ Ela me olhou torto e revirou os olhos.

Sina - A viagemOnde histórias criam vida. Descubra agora