Um fato que todos os meus amigos eram obrigados a conhecer sobre mim: eu ODIAVA surpresas. Eu sempre fui uma fissurada em organização e planejamento, tudo tinha que estar em seus devidos lugares e horários, acontecendo de acordo com um cronograma que eu mesma sempre preparava... Valentina gostava de dizer que essa era uma das grandes razões para eu me sair bem no estágio - e na futura vida profissional -. Surpresas eram desagradáveis pelo simples fato de que eu não tinha controle nenhum sobre o que acontecia, não podia me organizar sobre e quase nunca eu sabia o que dizer ou como agir em momentos inéditos.
Então é totalmente compreensível a causa do meu surto naquele momento.
Como se não fosse o suficiente eu estar presa em um século que não era o meu, com pessoas que eu não conhecia e que não pertenciam ao meu círculo de amigos, tendo que adotar um nome que não era o meu... Como se não bastasse isso, eu ainda teria que conhecer o futuro noivo da menina a qual eu estava substituindo!
Mas isso não seria nada demais se... O maldito não fosse um príncipe, e se ele não viesse acompanhado de uma maldita corte!
Já fazia exatos dez minutos que Magdalena tinha soltado a bomba nuclear no meu colo e saído correndo para pegar meu vestido, provavelmente ela tenha corrido depois de ver minha cara – e talvez depois de eu ter gritado uma palavra não muito educada na frente dela –, eu estava andando de um lado para outro, sem saber o que fazer, se Elise tivesse aqui ela me empurraria para a cama, me amarraria os tornozelos e me faria olhar para ela, bem nos olhos, só para ouvi-la dizer "está tudo bem!". Mas Elise não estava ali, e isso era só um lembrete do quanto as coisas não estavam bem, nem um pouco bem.
─ Pois muito bem, aqui está vosso vestido, senhorita... Quer parar, por favor, de correr pelo quarto? Por acaso quer estragar o tapete dos aposentos da princesa? ─ Magdalena entrou segurando um grande vestido verde escuro nas mãos e uns sapatos que me pareciam extremamente desconfortáveis. Eu soltei um suspiro exasperado.
─ Me desculpe... É que eu estou apavorada! Eu não sei absolutamente coisa alguma sobre os costumes desse séc... Quer dizer... Dessa cidade.
A criada veio andando em minha direção, me pegou pelos ombros e me empurrou gentilmente até a cama, ela olhou bem em meus olhos e falou:
─ Senhorita... Vai ficar tudo bem, tudo está bem. ─ E naquele momento eu pisquei debilmente, não porque estava calma, mas porque Magdalena se comportou da mesma forma que eu julgara que minha melhor amiga se comportaria... Respirei profundamente dez vezes e logo a respiração surtiu seu efeito calmante, me levantei da cama, sem ter muita certeza do que faria, de como faria... Mas tinha a certeza de que algo deveria ser feito.
─ Okay, Magdalena, mostre-me o que devo fazer... Se serei como a princesa preciso que me mostre como agir feito uma.
E então pacientemente Magdalena me informou os momentos em que eu deveria fazer uma reverência e para quem: nunca para um criado, com eles apenas um aceno respeitoso, para que me mostrasse humilde e ainda assim soberana, sempre para os senhores da igreja e para membros e figuras da realeza, enquanto princesa, e dama, eu deveria mostrar respeito aos mais velhos e as pessoas acima de mim, principalmente para os homens. A dança era incrivelmente esquisita, e eu praticamente não aprendi nada no curto espaço de tempo que tínhamos, a única coisa que eu poderia fazer era rezar para o príncipe não querer dançar. O comportamento a mesa também foi brevemente ensinado por Magdalena, ela disse que a pouco tempo os membros da realeza tinham adotado o costume de comer com apetrechos que pareciam um tridente e uma navalha – o que claramente deveriam ser um garfo e faca, graças a Deus eu não teria que comer com as mãos –. Tudo o que eu poderia aprender naqueles poucos minutos a criada me ensinou prontamente, e foi ali que eu realmente percebi o desespero que exalava dela, eu entendi que eu tinha que causar uma boa impressão no príncipe porque as vidas daquelas pessoas dependiam daquilo. Sem pressão.
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Sina - A viagem
Fantasy"Eu soube que minhas malas não iam aparecer... Que eu não teria mais tomadas ou abajures no quarto, eu soube que Elise, minha melhor amiga, estava desaparecida... E eu sabia o porquê. Por que todas aquelas coisas e pessoas não existiam ali...