Capítulo 7

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Parte Dois

-A missão-

Aos poucos os sentidos iam retornando à mim, eu podia ouvir pássaros cantando em algum lugar, a luz do sol me aquecia até as pernas, o que, acredite, já era mais que o suficiente para me fazer derreter dentro daquele vestido. Lentamente eu senti que podia levantar sem cair feito uma jaca, me apoiei primeiro nos cotovelos e depois trabalhei em ficar de pé, minha cabeça doía e meus ouvidos zuniam um pouco. Por quanto tempo eu fiquei desmaiada? Por que ninguém tinha me visto caída no chão? E por que eu tinha desmaiado afinal?

E então as lembranças vieram num turbilhão.

A voz me chamando, a pintura no quadro se movendo, literalmente falando comigo, o pingente de pedra se quebrando, a névoa roxa assustadoramente brilhante.

Olhei ao redor da sala, as coisas permaneciam do mesmo jeito, os bustos, os quadros, inclusive a pintura de Marie Passamani, que estava inerte... Então aquilo tinha sido um delírio causado pela exaustão, onde já se viu? Quadros falantes e névoas brilhantes? Por favor, Catarina. Tive um acesso de riso, o que será que a Elise psicóloga diria sobre aquilo? Inclusive... Eu deveria procurar por ela e contar o que aconteceu, vai que eu precisasse de um médico ou algo assim?

Peguei minha bolsa do chão, pendurei no ombro e comecei a andar. O penteado medieval que eu havia feito mais cedo, tranças presas atrás da cabeça, agora era uma bagunça de fios. Procurei um elástico dentro da bolsa e prendi o cabelo em um coque alto enquanto andava. Os corredores continuavam vazios, eu não podia ouvir mais o barulho do lado de fora do castelo, das pessoas gritando e dos instrumentos tocando, mas eu conseguia ouvir sons de carroças e relinchar de cavalos, o que parecia ótimo, para não dizer o contrário, eles haviam terminado a festa e começado uma encenação ridícula? Olhando pelo lado bom, se Elise não estivesse participando da encenação (o que seria praticamente impossível), ela já estaria a minha procura. Passei pelo salão de refeições e este já estava vazio então ela com certeza já estaria louca querendo saber meu paradeiro.

Tudo parecia excepcionalmente normal, na medida de normalidade que aquela vila podia ter, mas de repente apareceram na minha frente uns homens, todos vestidos como guardas, com aquelas roupas de ferro (ou seja lá o que) e espadas maiores que meu braço inteiro, e o mais estranho foi a reverência que eles fizeram para mim... Para mim! E o pior não foi isso, o pior foi o que o maior dos guardas falou:

─ Boa tarde, princesa... ─ E piscou para mim... Piscou os olhos para mim!

O que diabo estava acontecendo agora? A história das perguntas na sala de esculturas havia se espalhado? Aquela guia idiota foi contar para todo mundo que tinha uma garota parecida com a princesa participando da vila medieval idiota dela?

─ Pode parar com a brincadeira, "soldado". ─ Respondi, fazendo aspas sarcásticas com os dedos, e comecei a andar, deixando para trás um grupo de seis homens com caras de confusão.

Eu estava enfurecida, com que direito aquela mulher foi falar de mim para todo mundo ali? Que ridícula! Agora todos iam ficar com aquela história estúpida de "princesa" e reverências para cima de mim, sem brincadeira, se aquela coisa que aconteceu no corredor se repetisse, eu iria sinceramente embora dali! Parei um pouco para respirar em meio a tanta raiva, eu havia desmaiado à pouco tempo, seria perigoso eu me estressar tanto sem nenhum motivo tão alarmante... Eu simplesmente recolheria minhas coisas e iria embora, caso todos começassem a me tratar com muita atenção. Apoiei as duas mãos na parede e abaixei a cabeça, respirei fundo, duas vezes, ajeitei minha postura e...

Eles tinham substituído as lâmpadas por velas!

Velas!

Aqueles organizadores estavam querendo me transformar numa Neandertal da idade média! Aquilo estava ficando ofensivo! Se eles tivessem tirado as luzes e tomadas do meu quarto eu não iria suportar... Eles iam ver o primeiro furacão brasileiro da história! O furacão Catarina.

Sina - A viagemOnde histórias criam vida. Descubra agora