Uma visita inesperada à padaria

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Uma visita inesperada à padaria

Por Peeta

Hoje tive que acordar mais cedo do que de costume. A manhã de verão estava surpreendentemente fria e especialmente convidativa para mais um tempinho debaixo das cobertas, mas o fato de ter de me levantar antes do horário de sempre não me incomodava. Afinal, dentre todas as tarefas que eu realizo na padaria dos meus pais, fazer e confeitar bolos são as minhas preferidas. E são a minha especialidade também.

Aprendê-las foi algo gradual. Tanto eu como meus dois irmãos mais velhos crescemos nas dependências da padaria. Ajudar aos nossos pais a preparar e a vender pães, biscoitos, doces, bolos e outras guloseimas é a nossa realidade desde sempre.

Todos fazemos um pouco de tudo quando necessário, mas desenvolvemos nossas habilidades de modos diferentes, de acordo com nossas aptidões.

Michael, o mais velho, gosta muito de mecânica e, por isso, adora trabalhar na manutenção do maquinário da padaria. Seu talento também faz dele um inventor de ferramentas que nos auxiliam em nossa produção diária, como, por exemplo, uma espécie de rolo compressor que corta a massa dos biscoitos em diversos formatos num piscar de olhos. É realmente fantástico! Esse seu dom é muito útil, pois nos Distritos é difícil termos acesso às modernas criações dos habitantes da Capital, pois é necessária uma autorização especial para compras fora dos limites do Distrito 12 e, por outro lado, as máquinas são caríssimas. Estamos, então, fadados a utilizar equipamentos antigos e é óbvio que, quando dão problemas, não há como substituí-los e a única solução é irem para o conserto, aos cuidados do primogênito da família Mellark.

Por ele ser tão essencial para o funcionamento da padaria, é mais fácil para Michael se livrar das punições de nossa mãe quando se mete em encrencas, já que seu poder de barganha é maior, uma vez que ela não sabe nada sobre consertos, mas, diversamente, pode dar um jeito ela mesma, se tiver que assumir a minha especialidade – fazer bolos – e a do meu irmão do meio – fazer pães.

Além disso, ela dá muito mais crédito às palavras do Michael que às dos outros filhos e ele sabe fazer bom uso disso. Na maioria das vezes, às custas do seu pobre irmão caçula – no caso, eu – com muitas chantagens para conseguir o que quer. Mas ele não é de todo ruim e também me ajuda em alguns momentos, com as lições da escola ou me explicando o funcionamento das intrincadas engrenagens que ele cria.

Já meu irmão do meio, Brad, que é o mais corpulento e forte de nós três, prefere auxiliar no preparo das massas de pão mais pesadas, que exigem muito esforço para serem amassadas, sovadas e enroladas. Assim ele gasta bastante energia e eu sou muitas vezes poupado das brincadeiras de luta que ele gosta de travar comigo, para aliviar suas frustrações – e por pura implicância também, é claro. Até que essas brincadeiras seriam mais divertidas, se seus socos não doessem tanto e se ele soubesse a hora de parar! Eu nunca consigo escapar, porém, dos treinos com ele para os campeonatos de luta que acontecem anualmente na escola. No entanto, o esforço nos treinamentos vale a pena, pois nossa classificação foi a melhor de todas no último ano, com Brad em primeiro e eu em segundo lugar na competição.

Apesar dos atritos diários com meus irmãos, é bom que eles estejam por perto para dividir o fardo de trabalhar na padaria com a nossa mãe, tão embrutecida por uma vida de trabalho árduo, que se tornou incapaz de qualquer gesto de carinho. Até tento entender suas dificuldades, pois não é fácil criar três filhos, cuidar da casa e gerenciar a padaria, porém nada justifica suas constantes agressões físicas e verbais, que deixam marcas em nossa pele e em nossa alma.

O presente de Peeta para PrimOnde histórias criam vida. Descubra agora