A dona do meu coração

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Por Peeta

Katniss não nota meu pai e eu nos aproximando do outro lado do vidro. Ela está com os olhos fixos em Primrose, sua irmã, com aquela expressão de encantamento que ilumina seu rosto sempre que a vê. O amor entre elas é algo tão forte que eu diria que é quase tangível. Sempre as vejo juntas na escola e admiro o carinho e a cumplicidade entre ambas.

Elas não são parecidas fisicamente. O que elas têm em comum é a beleza. Katniss tem 16 anos, como eu, e possui os traços de seu pai, característicos das pessoas que vivem na Costura: pele cor de oliva, olhos cinzentos e cabelos escuros. Primrose, com 12 anos completos, é parecida com sua mãe, que cresceu na área mercantil do Distrito, e tem a pele e os cabelos claros e os olhos azuis.

Agora, aqui diante de mim, Katniss está completamente desligada de tudo o mais ao seu redor e parece tentar gravar em sua mente o sorriso puro da pequena Prim à frente da vitrine, apontando os detalhes do bolo que eu havia confeitado antes.

Realmente, é uma visão magnífica. No entanto, ela é mais especial sob a minha perspectiva, com Katniss incluída nessa imagem, que também acabo de capturar em cada detalhe, para que eu possa sempre me lembrar desse momento.

Mal consigo respirar. Eu não quero interromper a interação entre as duas, mas meu pai, depois de alguns instantes aguardando alguma reação minha, tamborila seus dedos no vidro interno da vitrine e declara, dando uma piscadela:

— Pronto, filho. Basta guardar o bolo e você está liberado para, quem sabe, cumprimentar as meninas lá fora. Aproveite o restante do sábado.

Como se eu conseguisse fazer isso, pai. Lá se vão onze anos tentando dirigir uma palavra a ela! – penso.

Com o coração em disparada, coloco de modo desajeitado o bolo na prateleira de vidro, sem tirar os olhos da cena à minha frente.

Primrose leva suas duas mãos à boca, admirada com minha mais recente criação. Só então Katniss, ainda sorrindo, desvia seu olhar para a minha direção. Porém, quando consigo fitar diretamente seu rosto, seu sorriso já havia desaparecido. Tento timidamente acenar com a mão, mas não dá tempo de ela perceber, pois seus olhos já estavam cravados no chão, como se estivesse envergonhada. Percebo que sua face enrubesceu. Ela é tão linda e é raro vê-la tão próxima a mim! Sinto um turbilhão de emoções em meu peito.

Acho que com receio de que alguém estranhasse a súbita mudança em seu comportamento, Katniss respira fundo e se recompõe, tornando a contemplar sua irmã com a doçura de antes.

Pouco depois, enquanto ouve os comentários animados de Prim, algo ou alguém atrás de mim chama a sua atenção e ela se vira novamente para olhar, não para mim, mas por cima dos meus ombros, deixando transparecer um ar de tristeza, e fala depressa:

— Vamos, Prim! Temos que voltar pra casa.

Primrose resiste um pouco a princípio, mas assente logo após seguir o olhar de Katniss. Nesse exato momento, sei o motivo, pois ouço a voz amargurada da minha mãe, falando entre dentes atrás de mim:

— É bom mesmo que essas esfomeadas da Costura saiam daí, só assim não espantam os verdadeiros clientes.

Surge um nó em minha garganta e toda a alegria que eu estava sentindo evapora. Espero que elas não tenham escutado essas coisas horríveis. Nem as palavras de ironia que Brad, acompanhando tudo próximo à caixa registradora, diz em seguida:

— É bom mesmo, mãe! Elas estavam distraindo o Peeta, que quase deixou o bolo cair.

— Por que será que isso não me espanta? Era só o que me faltava! – esbraveja ela, saindo em direção ao forno.

O presente de Peeta para PrimOnde histórias criam vida. Descubra agora