Por Peeta
O dia mal amanhece e eu já estou de pé. Dormi por poucas horas, mas eu não conseguiria relaxar enquanto ainda faltasse tanto a fazer. A manhã passa tranquilamente e é bem produtiva pra mim, meus irmãos e meu pai, todos concentrados no trabalho.
Eu quis que o segundo bolo fosse bem diferente do primeiro e consegui o intento. Fiz uma cobertura de cor amarela bem viva e, em vez de flores desenhadas, modelei pequenas prímulas para adornar todos os andares.
Em meu cronograma, tudo está saindo melhor que o esperado, pois imaginei terminá-lo apenas à tarde e ainda não é meio-dia.
Apesar de tudo parecer tranquilo, minha calma é apenas exterior. Por dentro, espero ansiosamente pelo que esse dia me reserva. Brad também está empolgado com a reunião da tarde com nossos amigos.
Se Prim vier mesmo aqui daqui a pouco, direi a ela que a decoração dos bolos foi feita em sua homenagem. Só não posso dizer a ela que minha maior inspiração foi a sua irmã, a quem eu amo mais e mais a cada descoberta a seu respeito.
As conversas que tive ontem com Prim e meu pai foram algo que vai muito além de trocas de palavras. Tudo o que eles me disseram serviu para que eu entendesse melhor Katniss, seu jeito, sua personalidade e suas escolhas. Compreendi, principalmente, o motivo pelo qual ela assume aquela postura de durona e indiferente. É o seu instinto de sobrevivência que não permite que se apegue às pessoas com muita facilidade.
Também aprendi muito indo à Costura e observando com mais atenção seus habitantes e suas casas.
Assim como todos ali, Katniss convive com uma grande preocupação diariamente: manter-se a si, à sua mãe e à sua irmã vivas, em meio a tantas dificuldades. Ela é o alicerce de sua casa e se esforça, além de sua responsabilidade, para garantir a subsistência da família. Afinal, ainda é uma menina.
É possível que ela pense que ter sonhos, fazer planos e apaixonar-se por alguém sejam luxos que não pode proporcionar a si mesma. Talvez por isso exista uma muralha impenetrável em seu coração.
As únicas pessoas que eu observei ultrapassarem essa barreira, fazendo-a sorrir genuinamente, foram seu pai, nas poucas vezes em que os vi juntos aqui na cidade, e Prim.
Não sei se Gale consegue arrancar sorrisos dela também, no universo particular dos dois, a floresta... Meu peito se aperta só de imaginar a cena e balanço a cabeça para afastar essa angústia.
Eu sinto ciúmes dele antes mesmo de conhecê-la oficialmente – penso e rio sozinho. Um gesto que foi percebido por meu pai:
— Está tudo bem, Peeta? – questiona ele.
— Sim, tudo em ordem – respondo, mas, antes que ele se afastasse, emendo uma pergunta: — Pai, só uma dúvida. Você negocia com o Gale também, não é?
Ele confirma com a cabeça.
— Em boa parte das vezes, ele está junto com... Você sabe... Katniss – informa meu pai, olhando de soslaio para meus irmãos, para ver se estão prestando atenção em nossa conversa.
— Você acha que eles são mais do que amigos? – Mal consigo disfarçar minha inquietação.
— Acho que sim. A ligação entre eles é muito forte e é mais que uma amizade, com certeza. É uma aliança de sobrevivência. – Ele faz uma pausa, reparando em minha expressão desanimada. — Mas não acho que seja um vínculo num sentido romântico, se é essa a sua preocupação.
Por mais insignificante que possa parecer o sentimento que motivou o meu questionamento, se comparado ao que eles compartilham entre si – uma "aliança de sobrevivência", como definiu meu pai – essa é, de fato, a minha maior preocupação: se há algum romance entre eles.
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O presente de Peeta para Prim
RandomOs acontecimentos dessa fanfic são anteriores aos do livro "Jogos Vorazes": Alguns dias antes da colheita da 74ª edição dos Jogos Vorazes, o filho mais novo do padeiro do Distrito 12, Peeta Mellark, vislumbra uma maneira de se aproximar de Katniss...