Uma antiga prímula preservada entre as páginas

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Nota:
O capítulo começa após uma longa passagem de tempo, depois de quase todos os eventos da trilogia "Jogos Vorazes" (atenção – contém spoilers desses livros!).

Para melhor situar o momento, transcrevi um trecho da parte final do livro "A Esperança" (em itálico).

Trecho do livro - Por Katniss

"Lentamente, com muitos dias perdidos, eu volto à vida. Eu tento seguir o conselho do Dr. Aurelius, apenas agir sem nenhum entusiasmo especial, e fico surpresa quando algo finalmente volta a fazer algum sentido. Digo-lhe a minha ideia sobre o livro, e uma grande caixa de folhas de pergaminho chega no trem seguinte vindo da Capital.

Tive a ideia a partir do livro de plantas de nossa família. O lugar onde registramos aquelas coisas que não se pode confiar à memória. A página começa com o rosto da pessoa. Uma foto, se for possível encontrar uma.

Se não for, um desenho ou uma pintura de Peeta. Então, com a minha mais cuidadosa escrita, surgem todos os detalhes que seria um crime esquecer. Lady lambendo a bochecha de Prim. O riso de meu pai. O pai de Peeta com os biscoitos. A cor dos olhos de Finnick. O que Cinna era capaz de fazer com um pedaço de seda. Boggs reprogramando o Holo. Rue na pontinha dos pés, os braços ligeiramente abertos, como se fosse um pássaro prestes a alçar voo. E assim por diante. Lacramos as páginas com sal marinho e promessas de viver bem para que as mortes tenham valido a pena. Haymitch finalmente se junta a nós, contribuindo com vinte anos de tributos que ele foi forçado a ser mentor. Adições tornam-se menores. Uma antiga lembrança que volta à tona. Uma antiga prímula preservada entre as páginas. Estranhos fragmentos de felicidade, como a foto do filho recém-nascido de Finnick e Annie." (Suzanne Collins)

Início do capítulo - Por Peeta

Retornei ao Distrito 12 há alguns meses e a minha aproximação com Katniss está tendo altos e baixos, erros e acertos.

Ela tem sido sempre uma incógnita pra mim. Por exemplo, Katniss já me pediu para ficar com ela durante as noites em que é assombrada pelos pesadelos e, pouco depois, ordenou que eu não mais me aproximasse do seu quarto.

Outras vezes, quando tudo parece bem, acontece algo para abalar a nossa ainda frágil relação, seja um flashback meu, seja o pensamento recorrente que Katniss tem de que a melhor forma de ela proteger as pessoas é se afastando delas.

Agora, por exemplo, não estamos num bom momento. Em nossa última conversa, tocamos num ponto controvertido – a vontade de ter filhos – e ambos nos exaltamos. Eu fiz várias acusações infundadas sobre ela e Gale e magoamos um ao outro.

Assim, há alguns dias, o único som que escuto da sua voz são os gritos decorrentes de seus pesadelos, que escapam de suas janelas, mesmo estando completamente fechadas, como ela diz preferir que fiquem. É difícil me conter para não invadir sua casa, seu quarto e tomá-la em meus braços para amenizar o terror das lembranças que a atormentam.

Preciso voltar a vê-la, preciso cuidar dela, preciso pedir perdão. Por isso, não pensei duas vezes quando avistei uma prímula brotando fora de temporada. Eu a colhi e a guardei para levar até a casa de Katniss, junto com um pacote de pães de queijo que acabei de preparar.

Fico observando a movimentação em sua casa. Tudo está fechado, portas e janelas trancadas. Mas logo vejo Greasy Sae despedir-se dela e atravessar a Vila dos Vitoriosos em direção ao Prego. Apresso-me em bater em sua porta, apreensivo, sem saber como ela vai me receber.

Katniss não demora a atender e, quando me vê com a mão estendida segurando a flor que colhi com tanto carinho, dá um leve sorriso e segura a prímula, tocando seus dedos nos meus e demorando um pouco para retirar a sua mão da minha.

O presente de Peeta para PrimOnde histórias criam vida. Descubra agora