Alex

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Anoiteceu e eu fui fechar minha janela para os pernilongos não entrarem. Até que vi o Alex deitado na cama dele mexendo no celular.

-Alex!

Ele olhou na direção do meu quarto e levantou.

-Oi vizinha. Você me chamando é novidade.

-Eu posso conversar com você?

-Vei, cê tá usando crack, cocaína, LSD, maconha, êxtase...?

-Não. Só queria conversar contigo. Pode ser?

-Vou te esperar aqui no jardim de casa. Blz?

-Tá. Daqui a pouco chego aí.

~~~~~~~~~~

Desci as escadas, abri a porta e encontrei com ele. O jardim da casa dele era lindo, todo florido. Nós sentamos na grama mesmo e ele disse:

-Sério, o quê que deu em você?

-Porra Alex, nada.

-Então fala o que você tem a falar.

-Eu te desculpo por aquele dia lá em casa.

-Que bom. E acho que você não teve a oportunidade de me conhecer bem né?

-É. Inclusive, eu vim aqui por isso. Eu sei que você não é tão babaca daquele jeito. Pelo menos eu acho que não né.

-Eu não sou. O problema é que eu pensei que você fosse se render pra mim. Aí eu dei em cima de ti.

-Não sou desse tipo que se entrega fácil.

-Eu percebi.

Eu fiquei encarando ele por alguns segundos e ele corou. Abaixou a cabeça e riu timidamente.

-Te olhando bem, você até que é bonito. Pena que não vale nada.

-Quem disse?

-As suas atitudes.

Ele ficou com vergonha novamente, mas dessa vez me encarou também. Do nada ele riu.

-Do quê cê tá rindo?

-É que eu vi que você tá sem seu anel e eu sei que você não tiraria ele por qualquer besteira. E eu tô pensando como o Felipe teve a capacidade de deixar uma mina tão perfeita ir embora.

-Eu também fiquei muito mal com isso. Mas já tem outro cara que eu tô gostando.

-Seu primo?

-Não, essa pessoa tá me olhando agora.

Ele olhou à nossa volta procurando por alguém e quando percebeu que eu tava falando dele, balançou a cabeça e se aproximou de mim.

Ele olhou nos meus olhos e deu um sorrisinho antes de nossos lábios se tocarem. Não sei se foi certo, mas aquilo me fez muito bem. Eu disse:

-Desculpa, eu não deveria...

-Ei, não precisa ficar assim. Eu sei como é terminar um namoro. A gente fica meio inseguro mesmo.

-Você já passou por isso? Não consigo te imaginar namorando.

-Eu diria o mesmo se não te conhecesse. Meu namoro durou pouco mais de um ano. Mas ela me deixou.

-É, eu sei bem como é isso. Você se sente um lixo. É um desprezo.

-Pois é.

-E como você esqueceu?

-No início eu sofri, mas não permitiria que o passado estragasse meu presente, então eu foquei em construir um futuro melhor e esquecer ela.

-Que poético.

Novamente nos calamos e ficamos nos encarando.

-Alex, é... Eu tenho que ir. É que...

Ele riu de mim e disse:

-Você é muito engraçada. Parece que não sabe o que quer. Se não quiser ficar aqui é só falar "tchau" e ir embora. Não precisa dar desculpa esfarrapada.

-E quem disse que eu não quero continuar aqui?

-Sabe vizinha, você é bipolar, mas até que é gente boa. Nunca imaginei que depois daquele dia você voltaria a olhar na minha cara. E agora, você me chamou pra conversar.

-É... O mundo dá voltas Alex.

Eu deitei na grama e fiquei olhando as estrelas. Ele se deitou ao meu lado e nós ficamos olhando o céu mais estrelado que o normal.

-Você disse que ia embora né... mas deixa pra lá. Depois que minha vó morreu, eu só consigo achar forças olhando pro céu estrelado.

-E quando ele não está estrelado?

-Aí eu fico sem forças, fico mal.

Me virei e fiquei deitada olhando pra ele. Ele me olhou e eu dei um selinho rápido enquanto acariciava sua bochecha macia. A mãe dele abriu a porta e o chamou.

Ele me olhou como se não quisesse despedir. Dei outro selinho nele e me levantei da grama. Fui embora feliz e nem um pouco arrependida.

Ensino Médio [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora