Ainda te amo

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Recebo alta e já estou em casa. Abro a porta e vou direto para o sofá. Sento e abraço o travesseiro contra meu peito. E os acontecimentos das últimas horas me batem com força. Seguro minhas lágrimas, mas não posso impedir dos tremores me dominarem.

Holly e Sam se sentam uma de cada lado e me abraçam.

A faixa que estava em minha cabeça já tinha sido removida. Posso sentir os pontos atrás da minha cabeça e uma falha atrás do meu cabelo. Minha mão vaga até a cicatriz, mas não chego a toca-lá. Quando vivia na rua me deparava com situações inusitadas e a morte sempre estava presente na onde quer que eu fosse. E sempre me perguntava. A próxima serei eu? No começo eu a temia mais que tudo por que ainda tinha esperanças, mas ao passar do tempo ela foi se perdendo e fui me conformando que poderia ser a próxima vítima da crueldade das ruas. Vivia no constante perigo e em algum momento parei de pensar quando iria morrer e comecei a aproveitar a vida que eu tinha mesmo ela sendo do jeito que era. Há muito tempo aceitei a morte como uma velha amiga, mas a verdade é que mesmo sabendo que um dia morremos nunca estamos preparados. Sempre nos pegamos a vida e não queremos solta-lá. Lutamos com garras e dentes quando sente que seu fim está chegando.

Olho para minhas duas melhores amigas e me sinto mal por vê-las com os olhos marejados. As abraço e por breves segundos aproveito a sensação de estarmos juntas.

O som da campainha interrompe nosso momento. Holly faz menção de levantar, mas a impeço.

- Deixa que eu vou. - Me levanto e abro a porta.

Dylan está parado com as mãos no bolso e sua aparência parece cansada. Meu coração dispara quando o vejo em minha frente.

- O que faz aqui? - De repente minha boca fica seca e sinto borboletas no estômago só por vê-lo novamente.

Sua barba está por fazer e seu cabelo está bagunçado e consigo ver as sombras debaixo de seus olhos como se não estivesse dormido há dias. Mas mesmo com esse ar de esgotado ele não deixa de ser absolutamente lindo.

- Vim ver como você está. - Murmura e entra fechando a porta atrás de si. - Queria ver a minha mulher.

Meu coração falta sair pela a boca quando ele diz "Minha mulher".

- Casa errada então.

- Não faz assim. - Seus olhos azuis me fitam com tamanha intensidade que desvio o olhar.

- Você me machucou. - Cruzo os braços e olho para baixo. Minha garganta se aperta e sinto uma dor no peito ao lembrar de suas palavras feias e o efeito que elas causaram em mim.

- Eu sei. - Em nenhum momento sua atenção se desvia de mim. Fico meio desconfortável com seu olhar. Olho para trás e não vejo nem Samantha e nem Holly. Franzo a testa ao ver que Sam não começou a expulsa-lo aos gritos.

Ficamos um em frente do outro e a saudade que sinto dele é esmagadora. Sem conseguir resistir vou para seus braços que me recebe de bom grado.

- Ainda não te perdoei. - Digo contra seu peito.

- Eu sei. - Passa as mãos em meu cabelo suavemente e seus dedos encontram minha cicatriz recente. Estremeço quando ele faz contato e não consigo segurar minhas lágrimas.

- Fiquei com tanto medo de te perder. - Sussurra e suas mãos vão para meu rosto acariciando minha bochecha.

Seus lábios se encostam aos meus. Aproveito a sensação de sentir sua língua na minha e o doce sabor de seus lábios.

Separo-me ofegante e o empurro delicadamente.

- Não. - Minhas mãos ficam espalmadas em seu peito e as encaro como se fosse algo precioso que está precisando de minha total atenção.

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