Conte-me seus tormentos

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- O que está acontecendo? Você está pálida.

- Vamos conversar lá dentro. - O pego pela a mão e nos guio para dentro com passos apressados.

Só podia ser imaginação minha, certo?

Arnold não podia saber na onde eu estava e se soubesse por que se interessaria? Já faz muito tempo que não o vejo, mas infelizmente o sentimento é o mesmo de anos atrás.

Repulsa. Medo e nojo.

Abro a porta do apartamento e Samantha está no sofá com Plu.

- Sam, você poderia ir ao cinema ou tomar um café? - Minha voz soa desesperada.

- Amber, o que está havendo? - Dylan torna a perguntar e o ignoro.

- Claro. - Ela se levanta e me olha estranho, mas não fala nada.

A agradeço e nos levo para meu quarto. Fecho a porta e tento acalmar meu coração. Encosto minha testa na porta e as palavras começam a sair da minha boca.

- Não fui totalmente sincera com você.

Dylan está parado com os braços cruzados me olhando preocupado e curioso ao mesmo tempo.

- Quando eu morei na rua e o inverno chegou tive que fazer coisas que eu não queria. - Me sento na cama e ele me acompanha. - Quando o tempo ficou mais frio tive que encontrar um lugar para me proteger, se não iria morrer congelada. Então eu tinha ouvido falar de um lugar. O vagão.

Levanto-me, pois não consigo ficar parada e passo a mão no cabelo. De repente me sinto frágil e é como seu eu fosse adolescente novamente.

- Tinha um homem que mandava por lá. Ele mandava em todos que decidiam se esconder naquele maldito pedaço de metal velho. Eu não era a única adolescente que estava lá. Tinha mais três. E esse homem mandava a gente fazer coisas.

Dylan ofega e se levanta rapidamente.

- Ele te estuprava?

- Não. Ele não gostava de fazer isso com a gente. Não nos abusava sexualmente, só fisicamente e mentalmente. No começo ele nos mandou roubar se quisesse comer e nos dois primeiros dias eu relutei, pois não queria fazer aquilo. Então quando ele me pedia para ir à rua roubar e eu dizia que não e ele me batia. Eu me rendi dois dias depois, por que se não ele iria me matar espancada.

Minhas lágrimas já estão rolando e a porta do meu passado se abriu completamente.

- Então eu comecei a roubar para ele. Fiquei assim o inverno todo, mas eu não conseguia fazer isso, pois eu não era uma ladra. Então eu mentia e ao invés de furtar eu pedia dinheiro, e é claro que ninguém dava, eu era um pária da sociedade, completamente invisível.

Olho para Dylan e ele está prestando atenção em cada palavra minha.

- Fiquei assim por algum tempo, mas ele desconfiou e teve um dia que foi atrás de mim. Estava escurecendo e me lembro de que ia pedir alguns trocados para uma moça, então eu o vi junto com um de seus meninos. Tentei correr quando vi seu olhar, mas não consegui. Para me punir ele me ensinou uma lição. - Olho para minhas mãos e sinto vergonha de mim mesma. - A moça que eu ia pedir grana, ele-ele a pegou e nos levou para um beco e a estuprou na minha frente.

Dylan pragueja e seus olhos estão ficam pura brasas.

- Esse homem tem que estar morto, se não irei procurar em cada rua, só para mata-lo.

- Não termina por ai. - Pego na sua mão e a aperto procurando um pouco de conforto.

- Não?

- Depois que ele a violentou, ele me bateu tanto que desmaiei. Quando acordei estava ferida e com frio, foi ai que Cassandra apareceu e me salvou.

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