CAPÍTULO 8 - TUDO DE MÃO BEIJADA

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Na semana passada, os padrinhos de Thomas embarcaram numa viagem de cruzeiro para o Caribe, afinal podiam esbanjar um pouco das economias guardadas nos últimos meses. Contudo, foi necessário que voltassem para o Brasil quando souberam da criatura metálica que havia atacado seu afilhado.

Na verdade, grande motivo para Simone insistir em romper a viagem de cruzeiro e voltar para casa foi a melhor notícia em meses, Thomas já estava bem crescido e ter descoberto que vinha de Aquala era como se ganhasse um campeonato escolar internacional, como se arranjasse um emprego numa empresa de porte. Os padrinhos do garoto se sentiram obrigados a comparecer naquele momento tão importante.

Era uma noite repleta de estrelas cujo brilho era apreciado tão graciosamente quanto o de um diamante. Usando poder de trecozitar, Roger e Simone voltaram ao cruzeiro, ainda em alto mar, perto da costa do Caribe. A complexa arte de trecozitar consistia em tocar qualquer coisa e transformar sua forma corporal humana naquilo em que está sendo tocado. A única maneira de voltarem para o cruzeiro que estava em alto mar era trecozitando. Simone e Roger tornaram-se folhas e foram levados pelo vento até pairarem sobre o navio. Isso explicava o suor em seus rostos.

Eles não poderiam deixar que terráqueos os vissem usando poderes, o que os levava a agir minuciosamente pelos corredores do navio até que conseguissem entrar em seu quarto. Era o começo da vida de Thomas e eles não conseguiam esconder o sorriso de felicidade ao passarem pelos tripulantes e passageiros no salão de jantar.

Apenas a volta até o cruzeiro pôde ser chamada de viagem; o cansaço do casal era visível em seus rostos, afinal não era todo dia que trecozitavam.

Deitado na grama do jardim de casa e com a nuca apoiada nos braços estava Thomas, olhando fixamente para as estrelas, como sempre gostava de fazer. Ele suspirava ao determinar, com exatidão, onde cada astro se encontrava. Era um brilho mais reluzente que o outro, há anos não se via um céu como aquele.

– Posso me sentar? – perguntou Robert.

– Claro, pai – ajeitou-se, agora sentado – Precisa ver isto.

– É realmente tudo muito novo para você, filho – ele olhava para cima, fisgado pela beleza da noite que refletia em seus olhos – Eu me lembro do dia em que descobri que era de Aquala. Saí correndo e chorando pela casa, pensava que iriam me separar da minha mãe para me colocarem em outro mundo. Eu era muito pequeno – os dois riam.

– Demorou muito para cair a ficha, não demorou? – Thomas sorriu para o pai.

– Considerando o fato de que eu era bem imaturo, foi tudo bem lento e sua avó teve muita paciência comigo. Apesar de você já ser bem mais pé no chão do que eu, quando tinha sua idade, eu ainda não sabia da existência da levitação. Quando ela ainda era viva, costumava dizer que me moldou todo, que eu era todo parecido com ela, bem mais do que com seu avô. Com quinze anos, eu ainda brincava de carrinho, a gente o manuseava apenas apontando o polegar, era chato para dizer a verdade.

– Eu queria tê-los conhecido, meus avós. Devia ser a coisa mais maravilhosa do mundo ter um pai e uma mãe juntos.

Aquala e o Castelo da Província (vol. I)Onde histórias criam vida. Descubra agora