CAPÍTULO 12 - A CIDADE DO CASTELO

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– Bem-vindos ao paraíso – aquela voz doce os acordava. Da boca seca, da dor de cabeça e de mais dormência nos braços e pernas, disso tudo Thomas parecia não se livrar tão facilmente, mesmo com os movimentos que tentava fazer. A cabine onde estava deitado era bastante apertada.

Thomas olhou o calendário digital na parede direita do cubículo, havia se passado pouco menos de quatro anos. Foi nesse olhar que ele se perguntou o porquê de terem o colocado, como tantos outros, em preservação criogênica. A resposta lhe veio à mente com facilidade: milhões de pessoas numa nave e a comida em reserva teria acabado num piscar de olhos, eram muitas bocas para alimentar.

O menino estava aparentemente seco, sem vestígios de nitrogênio líquido no corpo. Então algo como seus batimentos cardíacos pôde ser ouvido, um som que estremeceu seu corpo. A doutora Walderlock puxou a maca. Thomas evitou a luz branca diretamente nos olhos, Jane pôs a máscara cirúrgica sob o queixo e falou entre o barulho de gente.

– Como se sente? – ela retirou os eletrodos.

– Mal – ele sentou-se, tirando as garras em cima de seu corpo.

– Enjoo é um sintoma frequente, nada fora do normal – ela riu, mostrando rugas nos olhos e no sorriso. Thomas não se lembrava de tantos sinais de expressão – Quer uma sacola?

– Não, eu estou bem. Obrigado – ele pôs as mãos no rosto e apoiou os braços nos joelhos, ainda estava tonto. A doutora foi, então, verificar Laura e Sofia.

Uma pelugem passou pela perna de Thomas e o fez assustar-se. Balta estava sentado como um cão em sua frente, três metros de pelos alaranjados e riscas pretas, mas sentado era um metro e meio.

– Me desculpa, não quis te assustar – o garoto falou, um pouco zonzo.

– Eu que peço desculpas por assustá-lo – a voz rouca do tigre soou como sinfonia.

– Eu não estou acostumado com animais que falam, não é nada pessoal. Não conheço a realidade de Aquala, mas, para mim, é bastante esquisito.

– Os aqualaestes também ficam surpresos com quadrúpedes falantes, não é comum em qualquer lugar daqui onde se vá.

Rosana passou por eles, chamando a atenção do filho, que vomitava na outra cama, ao lado de Sofia.

– Onde você estava? – o garoto continuou falando com o tigre – Não o vi mais, nem quando chegamos à Osíris, enquanto Jane nos mostrava os aposentos.

– Como vou lembrar? Passaram-se anos!

– Você não entrou nesse tal de processo criogênico como a gente? – o menino perguntou, sério.

– Não, um veterano como eu aguenta viagens duradouras. E me alimento de ano em ano, creio que não dei muito trabalho com comida aqui dentro – Balta riu, mostrando os caninos – Essa doutora também; volta e meia, eu a via andando pelos arredores do Centro Osíris.

Aquala e o Castelo da Província (vol. I)Onde histórias criam vida. Descubra agora