– Bem-vindos ao paraíso – aquela voz doce os acordava. Da boca seca, da dor de cabeça e de mais dormência nos braços e pernas, disso tudo Thomas parecia não se livrar tão facilmente, mesmo com os movimentos que tentava fazer. A cabine onde estava deitado era bastante apertada.
Thomas olhou o calendário digital na parede direita do cubículo, havia se passado pouco menos de quatro anos. Foi nesse olhar que ele se perguntou o porquê de terem o colocado, como tantos outros, em preservação criogênica. A resposta lhe veio à mente com facilidade: milhões de pessoas numa nave e a comida em reserva teria acabado num piscar de olhos, eram muitas bocas para alimentar.
O menino estava aparentemente seco, sem vestígios de nitrogênio líquido no corpo. Então algo como seus batimentos cardíacos pôde ser ouvido, um som que estremeceu seu corpo. A doutora Walderlock puxou a maca. Thomas evitou a luz branca diretamente nos olhos, Jane pôs a máscara cirúrgica sob o queixo e falou entre o barulho de gente.
– Como se sente? – ela retirou os eletrodos.
– Mal – ele sentou-se, tirando as garras em cima de seu corpo.
– Enjoo é um sintoma frequente, nada fora do normal – ela riu, mostrando rugas nos olhos e no sorriso. Thomas não se lembrava de tantos sinais de expressão – Quer uma sacola?
– Não, eu estou bem. Obrigado – ele pôs as mãos no rosto e apoiou os braços nos joelhos, ainda estava tonto. A doutora foi, então, verificar Laura e Sofia.
Uma pelugem passou pela perna de Thomas e o fez assustar-se. Balta estava sentado como um cão em sua frente, três metros de pelos alaranjados e riscas pretas, mas sentado era um metro e meio.
– Me desculpa, não quis te assustar – o garoto falou, um pouco zonzo.
– Eu que peço desculpas por assustá-lo – a voz rouca do tigre soou como sinfonia.
– Eu não estou acostumado com animais que falam, não é nada pessoal. Não conheço a realidade de Aquala, mas, para mim, é bastante esquisito.
– Os aqualaestes também ficam surpresos com quadrúpedes falantes, não é comum em qualquer lugar daqui onde se vá.
Rosana passou por eles, chamando a atenção do filho, que vomitava na outra cama, ao lado de Sofia.
– Onde você estava? – o garoto continuou falando com o tigre – Não o vi mais, nem quando chegamos à Osíris, enquanto Jane nos mostrava os aposentos.
– Como vou lembrar? Passaram-se anos!
– Você não entrou nesse tal de processo criogênico como a gente? – o menino perguntou, sério.
– Não, um veterano como eu aguenta viagens duradouras. E me alimento de ano em ano, creio que não dei muito trabalho com comida aqui dentro – Balta riu, mostrando os caninos – Essa doutora também; volta e meia, eu a via andando pelos arredores do Centro Osíris.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Aquala e o Castelo da Província (vol. I)
AdventureExtraterrestres. Será que eles realmente existem? De onde vêm? Será que são do jeito que os humanos imaginam? E se muitos deles já vivessem disfarçados entre nós, escondendo sua verdadeira identidade? Thomas Flintch é um menino pobre de 14 anos que...