CAPÍTULO 4 - ESCOLA DAMATIO

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No dia seguinte, acordado perante a cômoda, Thomas balançava a cabeça, tentava se livrar da sonolência, vestígio de uma noite mal dormida. Após deixar a água corrente do banho derramar-se pelo corpo, o garoto vestiu-se com uma camisa esburacada pelas traças e pouco desfiada nas bordas. O relógio apontava 6h 15min enquanto tomava café. Na geladeira, o que pouco a preenchia, em alguns minutos, revirava-se em seu estômago, um terço do leite integral que sobrava na caixa.

Diante da televisão estava ele, esperando o som da buzina de Felipe soar. Thomas aproveitou e já ficou do lado de fora da casa, atravessava o pequeno jardim da frente até avistar o amigo montado sobre o selim.

– Demorou. Temos que estar na escola em catorze minutos.

– Relaxa, estaremos lá em apenas três – disse o garoto de cabelos cacheadinhos com as mãos no guidom.

– O diretor não vai "relaxar" se chegarmos atrasados, você sabe que ele encrenca.

– Fica calmo e não se estresse. E também agora você vive grudado em mim? Não pode ir sozinho?

– Olha a malcriação! Nós marcamos – Thomas riu e levantou a bicicleta, pedalou por alguns quarteirões. As ruas cujas casas se enfileiravam davam a sensação de estarem perdidos, todas quase iguais, sempre com um jardim dando boas-vindas. Vizinhos se cumprimentavam ao se encontrarem e o sol esquentava tanto a grama quanto o asfalto.

– Talvez eu pudesse ter chegado um pouco mais cedo, realmente – falou Felipe, com o vento no rosto, jogava seus cabelos – Acabei de ver no relógio, são 7h 20min!

– Não, estamos no horário certo mesmo, a aula começa em dez minutos, dá tempo.

– Eu estou me lembrando do ano passado quando o diretor me advertiu só porque eu havia chegado quarenta minutos além do horário do intervalo na sala. Eu expliquei que fiquei o tempo de descanso inteiro no banheiro, mas ele não tinha me escutado.

– Você tem que reivindicar mais, principalmente quando se trata do Evinco. Ele nunca ouve ninguém.

– Esqueceu? – disse Felipe, desviando-se dos pedestres – Eu respondi que ia dar uma descarga nele, só assim ele me deu ouvidos. Por isso depois fui pra detenção.

Os garotos viraram a esquina e continuaram a pedalar lado a lado. Não demorou muito para começarem a desviar de mais pessoas pela rua. O menino continuava a falar.

– Ele é assim, chato com todo mundo, não só com a gente. Pelo menos sabemos que perseguição não é.

Naquele instante, Thomas ficou zonzo, a bicicleta cambaleava e o menino estava prestes a se machucar. Seu corpo pedalava pela rua, mas, por alguns segundos, ele não pareceu estar lá, foi como um grande golpe na cabeça. Ele via todas as casas nas calçadas e suas janelas se explodindo; de dentro, saíam toneladas de água, como se em cada cômodo não sobrasse mais ar.

Aquala e o Castelo da Província (vol. I)Onde histórias criam vida. Descubra agora