CAPÍTULO 11 - O CENTRO OSÍRIS

62 15 0
                                    

Thomas não entendeu ao certo o que seu pai quis dizer com tamanha preocupação em deixar a Terra. Robert era desempregado há muitos anos, todavia o garoto se achava egoísta em pensar que seria mais importante que qualquer trabalho, mas ele tinha outro ponto de vista. Todos sabiam que a vida aqualaeste era mais fácil, ser um Flintch era sinônimo de aristocracia e não havia o porquê de se preocupar mais com dinheiro. O mundo capitalista era deixado de lado, assim como o fizera com eles. Para o menino, aquela história de emprego na Duality Guillux ainda estava muito mal contada, ele sentiu medo no olhar do pai, o mesmo olhar que o vigiou com apreensão o seu voo.

Rosana e Balta mantinham-se à frente, guiados pelo fluxo de carros, e não havia engarrafamento para eles. As unhas do zarmo em que Rosana montava chegavam a encostar no teto dos carros. Com pouco movimento das asas, eles elevaram-se a cada sinal de trânsito. O caminho parecia ser seguido há séculos, já que o tigre sabia exatamente onde subir naquele emaranhado de prédios, e então no edifício mais alto que passaram, alou-se o voo para as estrelas. Thomas, assim como todos os outros, ficou de costas para baixo. Se largasse as penas, cairia intensamente em uma queda entre os arranha céus.

Numa velocidade incrível eles voavam. Era inacreditável como, lá, eram lindas as luzes dos prédios vistas de cima. Com o vento frio nos seus rostos, olhavam para cima e tudo o que mais imaginavam tornava-se tão pequeno em meio àquela imensidão estrelada. Seus olhos enxergavam bem abaixo, e muito distantes, as ruas que pareciam fileiras de estrelas, mas construídas pelo Homem, tráfegos da cidade grande que enquadravam cada esquina.

O continente, enfim, retribuía a beleza das aves com um desenho magnífico que contornava com exatidão a iluminação da Terra. A um ponto, as penas do corpo inteiro cintilavam com um azul fluorescente, brilho tão intenso quanto o de um fígado de Chloetor, que Lutile havia mostrado em sua loja, uma luz que irradiava como diamante. A cor dos zarmos mostrava a falta de oxigênio e a ativação dos poderes de cura soltados em suas penas em forma de óleo cheiroso.

Não havia tempo para conversas nem comentários, apenas para admirar os astros. Se houvesse som no vácuo, o barulho das asas cortando o ar com esplendor seria alto e estridente como bombas, um som seco. Thomas nunca se sentiu tão longe de casa, e ele realmente estava.

Felipe tentava respirar, mas nada entrava em seus pulmões pelo nariz de batata. Não que se sentisse sufocado, pelo contrário, o óleo nas penas das aves possuía bastantes átomos de oxigênio, o necessário para um voo tranquilo até o Centro Osíris. Seus cabelos cacheados não se mexiam com vento algum, Luka os agarrava bem na raiz com suas mãozinhas verdes. O toque daquele óleo era sugado por buracos microscópicos abertos no dedo indicador e entrava na circulação pelo nervo ulnar. Suas veias estavam pulsando como nunca e apareciam nos braços.

Sofia não estava mais segurando à volta do pescoço do zarmo, o ambiente por onde voava era tão sereno que o medo da altura foi deixado de lado e trazia uma paz absoluta a eles, tão divina. Estava bem do jeito que segurava a ave, os fios loiros levados pela gravidade. Um vestido muito justo que a dificultava pôr uma perna para cada lado e um ar tão puro em seu rosto fino com detalhes sardentos.

Em meio a tantos brilhos brancos, Thomas, agora, se arriscava a perdê-los ao fitar somente um, o sorriso de Laura. Ele se preocupava mesmo com a separação do pai, seu coração estava mais que apertado, mas era impossível não se render a um encanto daqueles. Por um momento, todos os problemas possíveis não existiam mais, o estado de êxtase o havia afetado.

Aquala e o Castelo da Província (vol. I)Onde histórias criam vida. Descubra agora