Capítulo 12

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"As pessoas cometem erros. Os ideais não."

(O príncipe Serpente)

Corro para lá com Connor ao meu encalço. Ainda estava atordoado pela sua aproximação. Estava encurralada. Eu me sentia fragilizada porque eu queria que ele me tocasse. Por Deus! O que estava acontecendo comigo?

Alguns acordaram com os gritos de Harry. Estava carregando a arma e mirando em qualquer coisa que se mexesse, mas Bob grita para mim.

- Não Cameron! Não chegue perto! Vai atacar você também!

- Atacar?

Observo atentamente a cena a minha frente. Harry estava segurando seu braço, sua camisa escura estava molhada onde ele estava segurando. E pela sua cara, o líquido era sangue. Forço mais meus olhos e vejo um lobo em posição de ataque. Seus dentes estavam a mostra. Um rosnado era baixo, mas ameaçador. Seus dentes estavam manchados de sangue. Isso explica o sangue que agora manchava a camisa de Harry.

Todos que estavam ao redor estavam tensos. Phill tenta carregar sua pistola, mas o animal rosna novamente. Connor também começa a carregar seu rifle quando escuto um baixo rosnado, como um de gato.

Vejo atrás do lobo, ou melhor, loba, três filhotes.

- Abaixem suas armas.

Todos olham indagadores para mim. – Agora! Ordeno isso! É meu turno, e eu quero que baixem essas armas agora!

Todos abaixam suas armas a contragosto. – Bob! Pegue um pedaço de carne na cozinha. Podem descontar do meu almoço amanhã.

Ele corre e não demora para chegar da tenda que era nossa cozinha improvisada. Ele me entrega um pedaço médio de carne. Tiro minhas armas e caminho lentamente na direção dela.

- Não vou te fazer mal. Só vou te dar isso e saímos. Te deixamos em paz com seus filhotes.

Deixo a carne a uns três passos de distância. Ela cheira o ar, reconhecendo o cheiro de carne. Dou uns passos para trás e espero. Ela lentamente se aproxima e seus filhotes ficam excitados com o cheiro de comida.

Ela abocanha a carne e corre para a mata juntamente com seus filhotes. Quando olho para cima, o cozinheiro estava no meio da mata segurando uma arma. Pelas suas roupas, ele ia atacar meu grupo esta noite, mas não deu certo.

- Boa noite. – aceno com a cabeça e ele arregala os olhos. – Como não estou com uma arma agora, seria injusto, já que nossa noite foi agitada por esses adoráveis animais.

Dou um leve sorriso, mas vejo-o ficar enfurecido e erguer sua arma em minha direção. Tento me proteger, mas um som de um rifle disparando me faz cair ao chão.

Fico alguns segundos sem reação. Não sinto dor alguma. Apoio um cotovelo no chão e vejo a cena á minha frente. O cozinheiro estava caído e gemendo de dor.

Connor segurava seu rifle. Ele se aproxima dele e retira a arma do cozinheiro de suas mãos.

- Ele não estava autorizado a usar essa arma e muito menos com balas verdadeiras. – Connor descarrega a arma e um som de metal atingindo o chão se ouve.

Agora me recordo. Ele não estava entre os homens que seriam nossos invasores.

Connor grita alguma coisa para ninguém em particular, mas escutamos alguns homens se aproximarem e retirarem o cozinheiro.

- Aonde vão levá-lo?

- O que ele estava fazendo?

Alguns sussurros eram trocados entre o grupo de curiosos. Connor grita ordens para cancelar as vigílias e irmos dormir.

- Connor... – tento chamar sua atenção segurando uma de suas mangas.

- Agora não. Depois conversamos, sim?

Afirmo com a cabeça e sai. Continuamos assistindo a cena em nossa frente. O que iam fazer com ele? Eles somem na escuridão da noite e saio em direção à tenda de Connor. Outros seguem meu exemplo e vão para cama descansar.

Entro na tenda. Estava escuro. Tateio em busca da lamparina. Tropeço em algumas coisas, mas consigo chegar até a cama de Connor. Acho a lamparina e a ascendo.

A fraca luz ilumina o local. Desfaço os nós de minhas botas e troco minha camisa engomada por uma mais confortável. Não poderia ter o luxo de usar uma regata igual a ele, logo se notaria a faixa branca que envolve meu troco escondendo as partes de meu corpo que me denunciariam.

Coloco a lamparina no mínimo, diminuindo o querosene e tento dormir.

*

Sigo-os até a tenda que ficava no meio das árvores. Eram onde o meu grupo descansava da maioria do tempo. Eles deixam Louis, o cozinheiro, em uma cadeira e me deixa sozinho com ele. Sua perna sangrava, no máximo perderia um pouco de sangue e teria uma cicatriz. Se colaborasse, claro.

- Porque queria matar um de nossos jovens? – pergunto fitando seus olhos. Tive de ficar sentado em meus calcanhares para ficar da mesma altura que ele. Como estava encurvado de dor, não importei com a sua falta de respeito e decoro.

Como resposta, recebo uma sucessão de gemidos e grunhidos.

Respiro fundo. Minha paciência estava no limite.

- Pra quem trabalha?

Ele não me respondia. Pego pelo seu colarinho e o sacudo. – RESPONDA-ME!

Ele cospe em minha cara. Não o solto. – Seu monte de estrume! Acha que eles irão salvar a maldita guerra?

Seu sotaque não me escapou. Ele era inimigo. Era do outro lado.

- Como conseguiu entrar aqui? Quem te deixou trabalhar aqui?

Ele começa a rir descontroladamente. – Oh! Não irei te dizer. Mas saiba que... É peixe grande. – e sorri.

Vejo um lampejo de algo brilhante saindo de suas costas. Logo ele saca uma faca de porte médio. Praguejo. Lanço-me para tentar impedi-lo. Caio em cima dele, a cadeira se quebra.

Seguro seus punhos, mas recebo um forte chute em minhas costelas. Ele rola para o lado. Os que me ajudaram a trazê-lo para cá entram na tenda, mas ficam chocados com a cena em sua frente.

Jogo-me em cima dele novamente, mas ele acaba me cortando. Dou um soco em seu queixo, ele me empurra e enfia a faca em sua garganta. Um pouco de sangue voa em meu rosto.

Levanto e começo a tirar a camisa para ver onde ele tinha me atingido.

- O que fazemos, senhor?

Era um corte não muito fundo, mas extenso debaixo de meu ombro direito. Praguejo e começo a fazer um torniquete improvisado com minha camisa.

- Livrem-se dele. 

Vingança não vem com AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora