[Twenty-two]

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"Há pessoas, e depois existes tu.
Tu e a loucura de quereres devorar o que te rodeia, tu e essa pulsão incontrolável para todos os segundos serem os finais, para todos os instantes da vida terem desesperadamente de valer pela vida toda."
(Pedro Chagas Freitas in Prometo Falhar)

As palavras entravam na minha cabeça enquanto folheava um livro que encontrei em cima da secretária do meu antigo quarto. As palavras do escritor eram magníficas, e em todas elas, encontrava um pouquinho de Mr.Coimbra. Quer dizer, Miguel. Acho que ainda vai demorar um pouco até me habituar a tratá-lo pelo nome próprio.

-"Ariana, anda jantar."

Antes de fechar o livro e me preparar para me juntar à mesa e passar as próximas horas a suplicar para que o tempo passe rápido, ainda consegui ler:

"Diz-me o que tens, ou o que não tens, para que encontre em mim e em ti, uma frincha de futuro, resisto a tudo menos à inexistência de um futuro em nós, percebes? "

Levantei-me da secretária a refletir sobre aquelas palavras, e arranjei o meu cabelo, deslizando os meus dedos por entre os fios negros, na tentativa de os desembaraçar. Olhei-me ao espelho para ver o meu aspeto. Estava um pouco descuidado, mas não estava com vontade de me arranjar melhor.

-"Ariana, despacha-te, o Telmo já chegou."

Saí do quarto preguiçosamente em direção à sala. Os meus pais encontravam-se em pé, em frente à família do Telmo. A dona Irina trazia um vestido branco, que lhe ficava um pouco abaixo do joelho. Ela é muito parecida com a minha mãe, embora seja menos exigente no que toca ao vestiário ou aspeto físico. Talvez seja por isso que eu me identifique mais com ela, do que com a minha própria mãe.

-"Olá querida, como estás?". Perguntou, abraçando-me. "Estás linda."

-"Estou bem, obrigado. E você, como está?"

A partir daí foi uma conversa constante e quase infinita, o que me fez querer sair dali o mais depressa possível. Ao contrário do que pensava, este fim-de-semana vai-me fazer muito pior, já que Mr.Coimbra está demasiado longe do meu corpo.

-"Então, gostas da faculdade?"

-"Sim, parecia pior. E tu?"

-"Eu estou a adorar! Estou no segundo ano de artes."

Por incrível que pareça, a minha troca de palavras com o Telmo foi extremamente curta, e ainda bem que assim foi. Ele é entediante demais.

-"Obrigado pelo jantar, foi ótimo."

-"Sabes bem que adoro que vocês venham cá, é sempre um prazer. E Telmo, podes passar aqui amanhã. A Ariana iria adorar."

Oh não. Mãe, eu vou matar-te, é bom que ele diga que não.

-"É claro, iria adorar."

-"Que bom! Até amanhã então."

Não, não e não! Odeio quando a minha mãe faz isto, ela sabe que eu não gosto muito daquele rapaz e insiste em trazê-lo aqui a casa. Mas que porra!

-"Qual foi a tua?" explodi.

-"O quê? Não estou a perceber."

-" Mãe, tu sabes que eu não gosto do Telmo."

-"Ele é bom rapaz. É educado, bonito e sabe comportar-se. É o ideal para si."

-"O ideal para mim, é alguém que eu goste, percebe? Não vou simplesmente apaixonar-me por uma pessoa, só porque você quer."

-"Não a julgava tão sentimental."

-"Se você passasse menos tempo com as suas manias, talvez me conhecesse melhor."

Entrei no meu quarto, e sentei-me na cama. Aqueles dois dias vão ser infernais, e tenho o pressentimento que não vou aguentar as próximas 48 horas.

Quando olho para o telemovel, vejo que uma pequena luz brilha, dando-me sinal que tinha uma mensagem.

*Espero que estejas bem. Já estou cheio de saudades, volta rápido. *

Miguel, 22:45

Um sorriso formou-se nos meus lábios, e rapidamente lhe respondi dizendo que estes dias vão ser um tormento sem ele. E só espero que para ele sejam igualmente um tormento.

Unconditionally [D.A.M.A]Onde histórias criam vida. Descubra agora