[Forty-nine]

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Eu podia fugir.

Fugir do mundo, fugir de quem sou, fugir de uma rotina sufocante, fugir e fingir que o amo.

O mundo seria tão mais fácil se não houvessem sentimentos que nos destruíssem e nos transformassem em algo que não queremos ser. Seria tão fácil vivermos sem compromissos, sem a intensidade e responsabilidade da exclamação de um "amo-te".

Seria tão fácil se não existisse alguém para nos atormentar a vida, uma pessoa tão boa e ao mesmo tempo tão má, tipo gelo e fogo, que num momento nos aquece o coração e no outro o congela. Era tão simples viver apenas para nós próprios. Sem a responsabilidade de fazer o melhor pelo outro, sem sermos obrigados a dar-nos como somos.

A vida era fácil assim. Mas não seria ela uma constante aberração? Não seria assim fácil demais viver?

A verdade é que só há vida se aquela pessoa existir. Só vives porque ele vive. Só amas porque ele ama. Tudo o que fazemos tem influências exteriores. Porque a vida sem amor, não é vida. É morte.

Podia fugir de novo. Sentir-me livre, morrer sem ti. Mas escolhi estar a teu lado. Porque sei que sem ti estou condicionada a morrer. Sou apenas pó. Sem ti, sinto-me oca e vazia. E contigo, apesar de continuar pó e de me sentir oca e vazia, sei que tens contigo tudo o resto, já que és a minha metade. Eu sou o mal e tu és o bem. Somos polos opostos que juntos, formam um mundo, mesmo que por vezes ele seja de pó, oco e vazio.

-"Estás a abusar." ele queixa-se quando eu tiro mais uma batata do seu prato.

-"Deixa-me comer à vontade."

-"Eu deixo." consigo notar uma perversidade no seu olhar, mas decido ignorar, já que estamos no meio de um restaurante.

-"És linda."

-"Pára de dizer essas coisas seu gordo." ele está mesmo sentimental hoje. Não é nada comum, acho que tenho de aproveitar cada segundo deste dia, já que o seu humor muda constantemente.

-"Tu vais na segunda terceira fatia de pizza e eu ainda nem comi a primeira. Acho que aqui o gordo não sou eu."

-"Cala-te."

É por estas coisas e principalmente por estes momentos que eu nunca poderia deixar de lutar pela nossa relação. Sinto-me tão feliz junto dele, e sei que tudo o que passamos foi especial, simplesmente porque estavamos os dois juntos.

-"A minha irmã perguntou por ti ontem."

-"A sério? Não sabia que lhe tinhas dito algo sobre nós." acabo de beber o meu sumo e encaro-o enquanto ele trinca uma fatia de pizza.

-"E não lhe disse nada, ela apenas é esperta demais e já compreende estas coisas."

Sinto-me um pouco desapontada por saber que ele não admitiu nada, mas retiro essa ideia da minha cabeça passados alguns segundos. Ainda é cedo para ele contar a nossa relação a alguém, incluindo a sua pequena irmã, que como ele diz, é bastante inteligente e poderia eventualmente perceber que a nossa relação é, de certo modo, "proibida".

-"Oh, sim... Já me tinhas dito que ela é bastante madura para a idade que tem." ele acena.

-"Posso comer a última fatia ou vais devorá-la como fizeste com as outras?" ele goza. Otário.

-"É claro que vou comê-la, Mr. Coimbra." eu pisco o olho e ele ri.

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⏰ Última atualização: Jan 18, 2017 ⏰

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Unconditionally [D.A.M.A]Onde histórias criam vida. Descubra agora