Desta vez há uma escadaria no sonho. Dez ou onze degraus de concreto, providos de um corrimão negro, que sobem até o espaço entre dois choupos. Porque haveria uma escada no meio da floresta? Para onde iria? Seguro o corrimão. É áspero, a tinta está descascando, expondo manchas de ferrugem. As bordas dos degraus estão cobertas de musgo. Enquanto subo, noto que estou usando ótimos sapatos. Os prático sapatos pretos de mamãe, que ela sempre me empresta para ocasiões formais.
Vejo Jeffrey à minha frente, em meio as árvores. Outras pessoas também estão lá, vultos no topo da colina, gente que reconheço: Ângela, o Sr. phibbs, Wendy. Tenho a sensação de que todos me olham, mas não sei por quê. Viro-me para trás. O salto de um dos meus sapatos se prende em alguma coisa. Perco o equilíbrio e quase caio da escada, mas Christian está lá novamente. Eles me segura pela cintura e me apruma. Por um momento nos entreolhamos. Seu corpo irradia uma espécie de calor que me faz querer ficar mais perto dele.
– Obrigada - sussurro.
Abro os olhos e vejo o teto do meu quarto. Um vento forte agita as árvores do lado de fora.
– Você está pirando - observa Ângela, com a boca cheia de salada de vagens.
Estamos sentadas num compartimento de Rendezvons Bistrô, em Jackson, sábado à noite, depois de vermos um filme de ação. Pedimos salada por ser a única coisa que podemos pagar neste lugar.
– Estou bem - digo.
– Você não está bem. Você deveria se ver.
– É uma coisa muito chata, está bem? Eu só queria saber se é um sonho, outra visão ou sei lá o quê.
Ângela meneia a cabeça pensativamente.
– Sua mãe disse que alguns sangues-de-anjo têm suas visões enquanto estão dormindo, certo?
– É, ela disse isso, antes de eu começar a ter a minha, quando ela ainda me dava informações úteis. Mas eu sempre tive minhas informações enquanto estava acordada.
– Eu também - diz Ângela.
– Então fico pensando, será que esse sonho é uma coisa séria ou o resultado de eu ter comido um chow mein indigesto no jantar? Será que é uma mensagem divina o meu subconsciente falando? O que esse sonho está tentando me dizer?
– Está vendo? Você está pirando - diz ela. – É Uma loucura, Clara. Você nem olha para Christian nas reuniões do clube dos anjos. Parece que vocês estão de revezando para evitar um ao outro. Eu acharia engraçadíssimo se não fosse tão triste.
– Eu sei - digo. – Estou tentando resolver isso.
Ela inclina cabeça para mim, solidária.
– Eu gosto de Tucker, Clara, de verdade. Mas você já pensou na possibilidade de que não deveria estar com ele? Que você deveria estar com Christian, que Christian é o seu destino, que ele é o cavalheiro que vai voar com você em direção ao sol poente?
– Claro que já. - pouso o garfo na mesa, não estou mais com fome. O destino pode mesmo acabar com o apetite de alguém. – Mas nem sei se ele se importa.
– Quem? Tucker ou Christian?
– Deus.
Ela ri.
– Bem, esse é o grande mistério, não é?
– Quer dizer, estou com dezessete anos. por que Ele se importaria com com que eu...
– Quem você ama - completa ela, quando não termino a frase.
Ficamos em silêncio enquanto o garçom reabastece nossos drinques.
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Sobrenatural 2 - Solo Consagrado
FantasyDurante meses, Clara Gardner havia treinado para lidar com o grande incêndio que aparecia em sua visões. Ela só não estava preparada para a escolha que teria de fazer no momento em que tudo veio a acontecer... No final das contas, Clara acabou desco...