Verão sem grilos

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Estou apertada ombro a ombro entre Mamãe e Ângela, no círculo perto do fogo, olhando para as faces iluminadas por seu brilho. Billy está contando esta história sobre um tempo de volta nos anos trinta, quando ela e minha mãe, literalmente, esbarraram em um Asa Negra no hipódromo de Santa Anita.

— Era Asael — Billy diz. — Em um terno de linho de três peças cinza-claro, se você pode acreditar nisso.

— O que você fez? — alguém pergunta em voz baixa, como se este grande vilão pudesse ser capaz de nos ouvir.

— Nós não poderíamos exatamente voar para longe, não é? — Billy pergunta com um sorriso irônico. — Havia tantas pessoas ao redor. Mas então ele não poderia nos confrontar, também, não do jeito que ele teria desejado. Então voltamos para nossos assentos com a nossa limonada, e ele voltou para o seu, e depois da corrida ele se foi.

— Tivemos sorte — Mamãe diz.

— Sim, nós tivemos — concorda Billy. — Embora eu nunca na minha vida irei descobrir o que ele estava fazendo lá.

— Apostando em Seabiscuit, como todo mundo — Mamãe diz.

Algumas pessoas riem.

Billy suspira. 

— Que corrida foi essa. Você não pode mais encontrar esporte como esse. As coisas não são as mesmas agora.

— Vocês fala como uma velhinha — comenta Jeffrey.

Ele falou em um tom amável, mas o fato é que não se pode permitir que alguém fale mal de seus adorados esportes.

  Em seguida, ele imita uma velhinha.

— Antigamente, antes da guerra... 

Billy ri e estende a mão para bagunçar seu cabelo. Ele cora. 

— Somos senhoras idosas, garoto. Não deixe que a nossa aparência o engane. — Ela joga um braço em volta de minha mãe e aperta. — Nós somos anciãs.

— Se vocês pudessem ter voado, quero dizer, se não houvesse tantas outras pessoas ao redor para verem vocês, isso teria feito alguma diferença? — Ângela aumenta a voz. — Asas Negras podem voar?

Todo mundo fica rapidamente quieto, sóbrio, o único ruído é do crepitar do fogo.

— O quê? — Ângela pergunta, olhando ao redor. — Foi só uma pergunta.

— Não — minha mãe responde finalmente. — Asas Negras não voam.

— A menos que eles se transformem em pássaros — corrige Billy. — Já os vi fazerem isso.

— Asas Negras não têm para onde ir, exceto para baixo — diz um homem com cabelo vermelho e uma barba curta e bem aparada. Stephen, acho que ouvi minha mãe chamá-lo. Ele tem uma voz profunda, como uma daquelas vozes de trailer de filme. A voz da tragédia.

Fico realmente arrepiada.

— Mas não literalmente para baixo, certo? — Ângela pergunta. — Porque o inferno é uma dimensão abaixo da nossa própria, então não é uma espécie de poço ardente sem fundo.

— Certo — Mamãe diz, o que me impressiona. 

Por que ela de repente está soltando as informação? Eu me lembro que esta é uma boa coisa, embora meu cérebro já esteja começando a sobrecarregar com tanta coisa nova para assimilar.

— Além disso, o inferno é tipicamente frio. Nada ardente sobre ele. Um monte de dias frios no inferno — Billy diz.

— E como você sabe isso, Bill? — alguém do outro lado do fogo provoca.

Sobrenatural 2 - Solo ConsagradoOnde histórias criam vida. Descubra agora