A parte em que eu te beijo

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Eu enlouqueço me perguntando onde Christian pretende me levar, mas quando ele aparece no meu armário depois da escola no dia seguinte, parte de mim hesita. Eu não sei por que. Talvez por causa da forma firme que ele está me olhando agora, com quentes manchas douradas em seus olhos.

— Você está pronta? — ele pergunta.

Eu aceno. Nós saímos para o sol. Não há nem mesmo um sussurro de Samjaza aqui. Papai deve tê-lo afugentado permanentemente, porque de repente mamãe está totalmente bem com Jeffrey e eu deixando a segurança do solo santificado.

Christian destrava sua caminhonete e eu subo dentro. Eu tento não verificar os arredores por Tucker enquanto fazemos nosso caminho para fora do estacionamento. Ele me ligou na noite passada e tentamos conversar sobre o meu pai, mas nenhum de nós tinha muito a dizer. Eu não podia chegar e contar a ele que meu pai é um anjo, mesmo que ele provavelmente já tenha adivinhado.

Seria muito perigoso para ele, saber disso, um boato que Samjaza apenas amaria arrancar sua cabeça. Quanto menos ele saiba, mais seguro ele está, eu percebi, e mesmo assim, ele não deveria estar aqui , ele tem uma competição de rodeio amanhã e deixou a escola mais cedo do que de costume hoje para ter algumas horas extras de prática. Ele estava apreensivo. Ele não me perguntou o que eu ia fazer e eu não compartilhei.

Christian dobra em uma estrada de terra que se enrosca na montanha por trás da cidade. Eu localizo um sinal, levanto meu pescoço para ler o que diz.

CEMITÉRIO DE ASPEN HILL.

De uma só vez parece que tudo dentro de mim se transforma em pedra. 

—Christian...

— Está tudo bem, Clara. — Ele encosta ao lado da estrada, aciona o freio de mão da caminhonete. Ele abre a porta, balança para baixo, e se vira para olhar para mim. 

— Confie em mim. — Ele estende a mão.

Eu sinto como se estivesse me movendo em câmera lenta enquanto coloco minha mão na sua, deixo-o me tirar da caminhonete do seu lado.

É lindo aqui. Árvores verdes, álamos sussurrando, uma vista das montanhas distantes.

Eu não esperava que fosse tão lindo.

Christian me conduz pra fora da estrada dentro da floresta. Pisamos em torno de túmulos, a maioria deles peças padrões de mármore, nada extravagantes, simples inscrições com nomes e datas. Então estamos em um conjunto de degraus de concreto, degraus no meio da floresta, com uma barra de metal longa e pintada de preto de um lado.

Meu coração pula para a minha garganta quando eu os vejo, um campo de cinza pressionando as bordas da minha vista, algo que eu costumava sentir no ano passado justo antes de eu ter a visão. Eu mordo meu lábio com tanta força que eu provo uma dica de sangue. Mas eu não vou, não subo como um foguete para o dia do funeral da Mamãe. Eu fico aqui. Com Christian.

— Por aqui — ele diz, puxando gentilmente minha mão. Nós caminhamos, não subindo a colina desta vez, não para o lugar onde um buraco vai ser escavado na terra, minha mãe baixada nele, mas pela encosta para um pequeno banco de mármore branco, emoldurado por álamos, uma roseira plantada ao seu lado, que traz uma única, perfeita rosa branca.

Christian vê essa rosa e ri neste tipo de jeito sufocado. Ele solta minha mão.

— Eu pensei que você disse que esta roseira nunca floresce — eu digo, olhando para a inscrição no banco. MÃE AMOROSA, IRMÃ DEDICADA, AMIGA MAIS VERDADEIRA. Há uma placa no chão, também, um retângulo branco liso trazendo as palavras BONNIE ELIZABETH PRESCOTT. Uma gravura de uma rosa. Sem datas de nascimento ou morte, o que me parece estranho, mas se Bonnie era mesmo de meia-idade como um sangue-de-anjo quando ela passou, sua data de nascimento teria definitivamente levantado algumas sobrancelhas.

Sobrenatural 2 - Solo ConsagradoOnde histórias criam vida. Descubra agora