Sobrenatural 2 - Solo Consagrado

Um anjo à minha porta

Desde então eu posso sentir Samjaza nesse campo quase todos os dias. Ele nem sempre me chama, essa música triste e sedutora que não posso manter fora da minha cabeça. Mas ele se mostra mesmo que seja apenas por cinco minutos. Ele quer que eu saiba que ele está lá.

Ele não causa nenhum problema, não prejudica nenhum dos alunos, não se mostra. Ele não nos ataca indo e vindo para a escola, mas ele sabe onde moramos agora. Ele nos segue para casa. Eu normalmente não posso senti-lo enquanto estou em casa, desde que nossa terra é toda santificada e há tanto dela, da estrada principal para a floresta até o riacho atrás da casa. Ele não pode chegar perto o suficiente para me incomodar. Ainda assim, se eu tentar, se der ouvidos a ele, eu às vezes posso ouvi-lo. Esperando.

Eu me pergunto se mamãe pode senti-lo também.

— Você tem que aprender a bloqueá-lo — ela diz quando pergunto a ela. —Seria uma boa ideia aprender a bloquear completamente sua empatia, porque há vezes que você vai precisar.

— Como?

— É como fechar uma porta — ela responde. — Ergue uma barreira espiritual entre vocês.

— Uma barreira espiritual?

— Você se fecha da força que nos conecta uns aos outros. Não é bom para você, em longo prazo. Vai te fazer dormente se fizer isso o tempo todo, mas pode ser a melhor solução por agora. Só assim você pode passar pela escola, sem tantas distrações. Tente isso.

— O que, você quer dizer agora? Com você?

— Sim — ela diz. Ela alcança e pega a minha mão. — Use sua empatia em mim.

Por alguma razão isso me assusta um pouco.

— Eu não sei — eu digo. — Eu não posso controlá-la. As únicas vezes que minha empatia realmente funciona quando eu peço a ela é quando estou com Christian. E, às vezes... Não são apenas sentimentos que recebo das pessoas. Pensamentos, também. Por que isso?

— Nossos pensamentos e sentimentos estão entrelaçados — ela me diz. —Memórias, imagens, desejos, sentimentos. Você parece ter um talento com os sentimentos. Vai ser mais forte quando você tocar a pessoa, pele a pele. E às vezes você pode obter uma imagem ou uma frase específica que eles estão pensando no momento. Mas na maior parte serão sentimentos, eu acho.

— Você pode fazer isso?

— Não. — Ela baixa o olhar por um minuto. — Eu não costumo captar sentimentos. Mas eu sou telepática. Sou capaz de ler pensamentos.

Olá, notícia relâmpago! Nenhuma maravilha que ela parece sempre dois passos à minha frente. Quando eu era criança seriamente pensava que ela tinha olhos na parte de trás da cabeça.

Sim, tem sido um instrumento parental particularmente eficaz, diz ela em minha mente. 

Ela sorri. 

— Não me olhe assim, Clara. Eu não tenho lido cada pensamento seu. A maior parte do tempo eu escolho ficar fora da cabeça das pessoas, especialmente as cabeças dos meus filhos, porque vocês merecem alguma privacidade. Agora vamos praticar, se abra. Tente sentir o que eu sinto.

Fecho meus olhos, prendo a respiração, e ouço, como se o que ela estivesse sentindo fosse algo que eu pudesse ouvir. De repente vejo um flash de rosa pálido atrás das minhas pálpebras. Eu ofego.

— Rosa — eu sussurro.

— Concentre-se nisso.

Eu tento. Tento olhar para o rosa até que minha cabeça começa a doer, e justo quando estou prestes a desistir, vejo que são cortinas, cortinas rosas penduradas em uma janela.