Brya e seu pai saíram da sala de reuniões e ele foi logo se vestir e mandar preparar uma comemoração de ultima hora. Disse que iria revelar o motivo na hora da festa. Brya foi para o quarto e encontrou Dylan deitado, com os olhos fechados, mas claramente acordado.
– Pensou? – Ele disse, quando a viu na porta.
Ela apenas riu e se deitou na cama o lado dele.
– Você sabe que é uma ideia louca, não é?
– Você comete muitas loucuras, uma a mais uma a menos...
Ela riu melancolicamente.
– Dylan... – Ela pegou a mão dele e se virou de lado para ficar encarando ele de perfil. – Você foi um doce me pedindo para ficar, e eu vou ficar, mas não com você.
Ele levantou com uma indignação aparente.
– Como?
– Você sabia que Calis é meu pai?
– O quê?
Brya explicou a ele toda a história e o contou que Gotham havia pedido para casar com ele.
– Esse garoto é louco. – Ele retrucou.
– Veja o que você me pediu e compare com o que ele me pediu, acho que se pesarmos na balança ela se balanceia.
– Essa história toda é uma loucura. Como passou um ano sabendo que ele era seu pai e não o contou? Não me contou? – Ele parecia magoado.
– Não tinha certeza...
Dylan estava derrotado. Queria que Bry tentasse. Era sua ultima chance de ficarem juntos, e agora ele iria voltar para um planeta sem Brya. Só de pensar, sentia vontade de morrer.
– Não posso voltar sem você.
– Você pode e vai.
– Não sem você.
– Dylan...
– Brya, já disse.
– Dylan, estou mandando você ir.
– Ninguém manda em mim.
Ela riu, adorava esses momentos infantis de Dylan.
– Por favor. Por mim.
– Não Brya, não posso te deixar aqui, com esses canibais e tudo mais.
– Sei me cuidar.
– Não posso partir sem você. Seria como partir sem metade de mim.
Brya ficou sem resposta. Seria difícil para Dylan partir, e seria difícil para ela o ver partir, mas ele não podia ficar. Tinha uma vida e uma família preocupados com ele.
– Não torne isso mais difícil.
Ele deitou na cama e ficou olhando o teto, segurando a mão de Brya.
Adormeceram juntos, sem falar mais nadas.Brya acordou e viu já estava escuro, havia dormido o dia todo ao lado de Dylan. Pelo menos havia falado que não iria pelo menos para ele, apesar de que não seria fazia o convencer de ir. Agora precisava falar com Gotham. Ela saiu cuidadosamente da cama para não acordar Dylan, e deu um beijo sua testa antes de sair. Ela procurou Gotham no quarto vazio ao lado, no laboratório, no refeitório, até que viu uma figura pálida se movimento lentamente com um arco de uma flecha em frente à mira. Teve que olhar duas vezes até constatar que era Gotham. Foi correndo até ele.
– O que está fazendo com esse arco?
– Passando o tempo.
– E deixaram você passar seu tempo?
– Sim.
– Deixaram você, por diversão, pegar uma das armas mais eficazes que eles têm. Só pra matar o tempo? – Brya ironizou a última frase.
– Sim. – Ele não desgrudava o olho do alvo.
– O que está acontecendo?
– Tudo bem, uma hora você iria saber mesmo. Preciso da sua autorização até.
– O quê?
– Pensei, já que vou ficar aqui, que seria sábio me juntar a Patrulha. E você, como Segunda tem que aprovar pra eu entrar.
Brya começou a rir, um riso de desespero.
– Você não pode estar falando sério.
– Estou. Falando em coisas sérias você pensou na minha proposta? – Ele se virou para ela e ela se viu refletida em seus olhos castanhos quase verdes, que estavam a encarando esperançosos.
– Pensei.
– E?
– Contei a Calis que ele é meu pai.
– Que maravilha. – Gotham a abraçou. – Finalmente. Sei como tem esperado por isso. Um passo a mais. Agora só precisamos ajeitar os detalhes da nossa vida aqui.
– Sim... Não... Não vou ficar... Quero dizer, não com você. Ele me pediu para ficar aqui com ele e ajuda-lo a administrar a vila e Patrulhar.
– Por que não vai ficar comigo? Não... Não aceitou minha proposta. – Ele disse baixo, para si mesmo.
– Sinto muitíssimo. Se ajudar – Ela sabia que não ajudava, mas não pôde se controlar – Dylan me pediu a mesma coisa, e eu o rejeitei.
Gotham parecia magoado.
– Ele pediu pra você casar com ele?
– Não exatamente. Só morar na vila.
– Que bom que o rejeitou, assim ele vai embora e tenho mais tempo para te fazer mudar de ideia.
– Quando ele for você vai junto.
– Não vou não.
– Gotham...
– Vou ficar aqui com você, me tornarei arqueiro, você se esquecerá de Dylan e conseguiremos finalmente ser felizes juntos.
– Primeiro de tudo, você acha mesmo que vai virar arqueiro? Você não acerta nem a borda do alvo – Brya apontou para as flechas no chão embaixo ao alvo. – Além do mais, eu nunca permitira que você entrasse para a Patrulha.
– Mas por que...
– Não e não. Segundo de tudo, você não ficará aqui nem que te amarrem. Quando construírem aquela cápsula, você vai.
– Vou para fazer o que lá? Terminar de cumprir minha pena? Não quero voltar a ser preso. Não quero abandonar esse ar puro, não quero abandonar essa floresta gigante com todos esses animais espantosos e divertidos, todas essas frutas e comidas que nunca vi. Não quero e não vou.
– Gotham, pense nas pessoas que estão te esperando. Pense na vovó. Pense em Tio Lygho e a mulher dele. Você não pode ficar aqui de braços cruzados esperando uma garota mimada como eu decidir quem quer enquanto seus pais estão em algum lugar daquele planeta pedindo sua ajuda. – Ela soava agressiva, mas só queria explicar a situação.
Gotham abaixou a cabeça e se calou, como se ela o tivesse batido, e o pior de tudo era que ele sentiu como se tivesse merecido.
– Sinto muito. – Ela pegou a mão dele e levantou sua cabeça. – Eu te amo, Got, nunca duvide disso. Mas você não pode me esperar pra sempre, tem sua vida.
Ele deu um beijo em sua testa e percebeu o quanto era realmente pequena e frágil, apesar de parecer ser gigante.
– Também te amo. Nunca se esqueça disso. E se eu for, vai ser por você.
– Se? Você ouviu o que eu acabei de falar?
Ele sorriu, mas não queria sorrir, queria chorar. Não queria abandonar Brya, mas ela estava certa. A família deles com certeza queriam notícias, e seus pais adotivos estavam desaparecidos. Tinha que encontra-los, devia isso a eles por tê-lo encontrado na lixeira e mudado sua vida. Devia a Brya por isso. Abraçaram-se por minutos até a cozinheira chama-los para o jantar.
Na sala de jantar, estavam não só os extraterrestres, como eram chamados, como também os comandantes, conselheiros e guerreiros mais importantes.
Calis, na ponta da mesa, bateu um talher em um copo e anunciou um brinde.
– Quero saudar a vocês. E comemorar por ter minha filha comigo. Hoje foi um dia importante de festividades, apesar de meu anjinho ter sumido o dia todo – Ele olhou para Brya, sabia onde ela havia estado, dormindo com Dylan, e não queria atrapalhar aquele momento tão íntimo e necessário. – E que sejam assim todos os dias que se sucederem, de paz e alegria.
Todos levantaram os copos e em seguida os levaram a boca. Brya examinou todos enquanto comiam. Todos pareciam felizes, o que era comum. Nesse ultimo ano ela havia se acostumado á tristeza, não só com ela, mas ao seu redor. Todo dia alguém ia dormir chorando e acordava com o rosto inchado, mas essa noite todos pareciam perfeitamente normais e sem conflitos. Ela ficou feliz, mas teve a sensação de que não iria durar muito. Notou que Vermo não estava na sala, então terminou seu jantar e foi levar o dele, com a promessa de voltar na hora da sobremesa. Entrou no laboratório e lá estava ele, sentado teclando coisas e pegando soldas.
– Consegue andar ou suas pernas simplesmente se esqueceram do que fazer de tanto que está sentado?
Ele riu quando percebeu que ela havia entrado.
– Olá. Fique sabendo da notícia. Que legal, me alegro muito. Uma surpresa, não?
– Devo confessar que eu esperava essa surpresa. Trouxe seu jantar.
– Obrigada, estava ocupado aqui. Estou quase conseguindo terminar, só preciso achar o código que libera a válvula para soldá-la e finalmente poderemos voltar pra casa.
– Não vou voltar.
Ele a olhou pela primeira ver desde que percebera que ela havia chegado.
Um olhar de confusão passou por seu rosto e logo sumiu.
– Vai ficar com seu pai. – Ele disse conformado.
– Sim. E espero que dê tudo certo.
– Vai dar.
– Tenho que voltar antes da sobremesa. Parece minha presença é importante agora que sou filha do Comandante.
– Vá. Vou terminar de decifrar o código. Obrigada pelo jantar.
Ela sorriu e saiu, voltando para o refeitório, teve a sensação de que Vermo havia ficado desapontado, mas não havia motivos para isso.
O resto da noite correu bem. Riram e se divertiram e foram dormir, pois no dia seguinte iriam começar a planejar o que fazer quando voltassem.
Brya não foi direto para seu dormitório, ficou no pátio ao lado de seu boneco de treinamento olhando as estrelas.
– Meu nobre companheiro... Sortudo é você que pode ver as estrelas toda noite.
Ela encarou o boneco imóvel.
– Me sinto muito sozinha conversando com um boneco. Mas pensando bem, você é mais humano do que muita gente. Tem mais sentimentos do que a maioria. E tem uma característica dos humanos, se ferir muitas vezes, mas continuar de pé. Apesar de que não são ferimentos de verdade, e você não sabe que está sendo ferido.
Ela riu.
– Acho que se você virasse humano nesse instante, sairia correndo para longe de mim. – Se voltou para o céu. – Ás vezes até eu queria fugir de mim mesma.
Ela ficou observando o céu e logo depois foi dormir.
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/NEWORLD/
Science FictionHá anos, a Terra foi devastada por um acidente científico, que junto com várias causas a tornou inabitável. Para tornar a humanidade próspera de novo, os cientistas acharam um novo planeta recentemente instalado na orbita da Terra - Panichulous 365...