Alberto não havia mudado nada nesses últimos três anos, com exceção da barba um pouco mais cheia e totalmente grisalha. Ao seu lado estava Leonardo, o Meia Tartaruga Ninja, que parecia um pouco mais gordo e usava um cavanhaque. Os dois adentravam o Café Geek quando o avistaram. Caio podia vê-los se aproximando em câmera lenta, à medida que tentava listar desculpas para sair dali o mais rápido possível. Virou-se para Eros, que nada lembrava o deus raivoso e estressado de momentos atrás. Pelo contrário, seu rosto emitia um sorriso cativante.
— C-como você fez isso?
Antes que respondesse, a voz de Alberto podia ser ouvida às suas costas.
— FILHOTE!! QUANTO TEMPO!! — "Ele ainda insiste nesse apelido idiota", pensou Caio. Segundo Alberto, era o jeito dele mostrar o quanto gostava do rapaz. Caio já não gostava na época em que estavam juntos. Agora, menos ainda.
E, num instante, Caio sentiu-se arrancado da cadeira e estava preso num apertado e caloroso abraço de Alberto. Um verdadeiro abraço de urso. Leonardo também era a gentileza em pessoa. Quando conseguiu voltar a sua atenção para Eros, viu que ele trajava um impecável terno cinza escuro, com a camisa num tom cinza um pouco mais claro e gravata cor de vinho. O deus do amor já estava de pé cumprimentando os dois visitantes com um sorriso.
— Prazer, Eros. Sou um amigo do Caio.
Todos sentados à mesa. Logo um atendente se aproxima para pegar os pedidos. Alberto quis experimentar o Cantrip Tea, que consistia em chá com limão acrescido de algumas especiarias. Já Leonardo pediu um Double Damage Mango, que era idêntico ao Double Damage Morango, mas com Manga. Eros aproveitou para pedir mais um Expresso 4x4 e seis cupcakes. Caio pediu a conta.
— Mas já? — comentou Alberto, demonstrando frustração. — Nós acabamos de chegar... Você não pode ficar nem mais uns minutinhos para matarmos as saudades?
— Já que tocou nesse assunto, como vocês vieram parar aqui, em pleno Rio de Janeiro?
— Rapaz, nem te conto. A irmã do Leonardo vai casar no fim de semana e ele é o padrinho. Chegamos agora a pouco, deixamos as malas no hotel, em Copa, e pegamos um táxi. Perguntamos ao taxista, um rapaz muito gentil, por sinal, se conhecia algum lugar legal aqui pelo centro. E aqui estamos nós.
— O Alberto até quis o cartão dele, pois gostou tanto dele que vai chamá-lo para nos levar e buscar na igreja. — completou Leonardo.
— Verdade! Onde eu deixei o cartão mesmo? Ah, aqui! — E tira um cartão do bolso da calça. Nele podia se ver em letras garrafais o nome do taxista: HERMES LUCAS — Cooperativa Olimpus de Táxis.
Então era isso que Eros quis dizer com Família quando se referiu a um Plano B. Caio nunca torceu tanto para uma conta chegar.
— E vão ficar até quando por aqui?
— Eu ainda tenho negócios a tratar aqui no Rio, fora que eu quero aproveitar esses dias para termos uma segunda lua de mel na Cidade Maravilhosa — respondeu Alberto, que aproveitou para pegar a mão de Leonardo e beijá-la, num lindo gesto de amor.
— Gente, um minutinho que eu vou à toalete — interrompeu Caio. — Já volto.
Assim como todo o local, os banheiros do Café Geek eram cheios de referências da cultura pop. Em vez das clássicas plaquinhas com bonequinhos, a porta do banheiro masculino era totalmente adesivada com uma ilustração do Super-Homem, o feminino, da Mulher-Maravilha, e o para pessoas com necessidades especiais tinha a figura do Professor Charles Xavier, dos X-men. Apesar de pequeno, era aconchegante. Perfeito para o que Caio precisava naquele momento. Lavou o rosto uma, duas, três vezes. Com as mãos apoiadas sobre a pia, tentava organizar os pensamentos. Incrivelmente, estava conseguindo levar numa boa que criaturas até então tidas como deuses mitológicos eram reais. Mas a presença de seu ex-namorado e o atual companheiro dele o deixava visivelmente perturbado.
A porta do banheiro abre e o rapaz, através do reflexo do espelho, vê Eros, vestido novamente com o traje de batalha, com as alças e o kilt de couro. Caio retira algumas toalhas de papel do dispenser, enxuga o rosto lentamente e encara o deus:
— Ok, o plano B foi genial, admito. Mas qual é o seu objetivo, afinal?
Eros se dirige a um dos mictórios, levanta a frente do kilt e começa a mijar.
— Quero que pare de estragar o meu trabalho.
— Trazer o Alberto e o Meia Tartaruga Ninja não ajuda muito. Tudo o que eu menos preciso nessa fase da vida é rever a pessoa que eu mais ame-gostei, que do nada acordou e viu que não... me amav...
Foi então que a mente de Caio deu um estalo. Como se fosse a luz brilhante de um farol rasgando a noite escura. Ele encarou o deus do amor boquiaberto.
— Foi você.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Caio não acredita no amor
General FictionDepois de uma desilusão amorosa, Caio decidiu não mais mais acreditar em amor. O que ele não imaginava eram as consequências dessa atitude.